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Funesc apresenta ‘Vida Severina’, em memória de Roberto Cartaxo

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publicado em 22/11/2019 às 13h11

A turma de 2019 do Curso de Teatro da Funesc encerra seu período de formação com a estreia do espetáculo ‘Vida Severina’, em memória do teatrólogo Roberto Cartaxo. A peça tem direção de Nyka Barros, texto adaptado por Suzy Lopes e preparação vocal feita por Jorge Felix. As apresentações acontecem nos dias 23, 24, 29, 30 de novembro e 1º de dezembro, no palco do Teatro Santa Roza, sempre a partir das 20h. A entrada custa R$ 5 (meia) e R$ 10 (inteira).

O texto foi escolhido por Roberto Cartaxo que, inicialmente, estaria na direção juntamente com Suzy Lopes e Nyka Barros. Na peça há muitas cenas que foram dirigidas e montadas por ele. “Fizemos questão de manter tudo que ele criou, e acho que quem conhece o teatro realizado por Roberto, irá reconhecer. Roberto foi retirado da direção pela vida, e eu por muitos compromissos profissionais, acabei ficando apenas na adaptação do texto”, antecipa Suzy Lopes, que tem feito todas as adaptações de textos encenados pelas turmas do curso.

O espetáculo – ‘Vida Severina’ é uma adaptação do texto ‘Morte e Vida Severina’, do poeta João Cabral de Melo Neto. No espetáculo, os atores que estão saindo do curso irão cantar, tocar e atuar numa celebração à vida e à luta nordestina. O poeta, que nasceu no Recife, transformou em poesia visceral a condição do retirante nordestino, sua morte social e miséria.

‘Morte e Vida Severina’ retrata a trajetória de Severino, que deixa o sertão nordestino em direção ao litoral em busca de melhores condições de vida. O protagonista encontra no caminho outros nordestinos que, como ele, passam pelas privações impostas ao sertão. A aridez da terra e as injustiças contra o povo são percebidas em medidas nada sutis do autor. Assim, ele retrata o enterro de um homem assassinado a mando de latifundiários. Assiste a muitas mortes e, de tanto vagar, termina por descobrir que é justamente ela, a morte, a maior empregadora do sertão. É a ela que devem os empregos, do médico ao coveiro, da rezadeira ao farmacêutico.

Nota, ao vagar pela Zona da Mata, onde há muito verde, que a morte a ninguém poupa. Retrata, contudo, que a persistência da vida é a única a maneira de vencer a morte. No poema, Severino pensa em suicídio jogando-se do Rio Capibaribe, mas é contido pelo carpinteiro José, que fala do nascimento do filho. A renovação da vida é uma indicação clara ao nascimento de Jesus, também filho de um carpinteiro e alvo das expectativas para remissão dos pecados.

‘Morte e Vida Severina’ é um poema de construção dramática com exaltação à tradição pastoril. Ele foi adaptado para o teatro, a televisão, o cinema e transformado em desenho animado. Por meio da obra, João Cabral de Melo Neto, que também era diplomata, foi consagrado como autor nacional e internacional. Como diplomata, o autor trabalhou em Barcelona, Madri e Sevilha, cidades espanholas que permitiram clara influência sobre sua obra. Foi seduzido pelo realismo espanhol e confessou ter, daquela terra, o reforço ao seu antiidealismo, antiespiritualismo e materialismo.

Os instrumentos lhe permitiram escrever com mais clareza sobre o Nordeste brasileiro em Morte e Vida Severina e outros poemas. A obra é, acima de tudo, uma ode ao pessimismo, aos dramas humanos e à indiscutível capacidade de adaptação dos retirantes nordestinos. O poema choca pelo realismo demonstrado na universalidade da condição miserável do retirante, desbancando a identidade pessoal.

Formação de atores pela Funesc – Há mais de 30 anos, a Fundação Espaço Cultural da Paraíba tem formado atores e atrizes através do Curso de Teatro da Funesc. Este curso foi idealizado pelo teatrólogo Roberto Cartaxo, e hoje é coordenado pela atriz Suzy Lopes, e tem no corpo docente a atriz Nyka Barros, o teatrólogo Humberto Lopes, os atores Tony Silva e Jorge Felix. Além dos profissionais que não são da fundação e são convidados a dar contribuição na formação de novos artistas por meio de aulas pontuais. Paulo Vieira, Flávio Lira, César Ferrario, Vinicius Dadamo, Priscilla Cler, Henrique Castro, são os profissionais que esse ano, participaram trocando experiências com a turma.

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