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Exibido antes de infantil, curta sobre estupro causa mal-estar no Cine PE

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publicado em 06/05/2016 às 08h48

Na noite em que a atração principal do Cine PE era um longa de animação infantil, um curta-metragem do estado do Rio exibido justamente antes causou mal-estar na plateia do Cinema São Luiz, no Recife, nesta quinta-feira. Isso porque a densa história de “O coelho”, roteirizado e dirigido por Marcello Sampaio, trata de um pai que estupra as próprias filhas repetidamente — inclusive a mais nova, de 11 anos.
Filmado com profissionalismo e atuações realistas, o curta descortina, gradualmente, a perturbadora dinâmica da família. Durante a cena mais chocante, que envolve a filha caçula, alguns espectadores pareciam incrédulos — houve quem sequer conseguisse olhar para a tela. A sinopse oficial de “O coelho”, divulgada na programação do festival, dizia apenas que o filme abordava a “destruição” de uma “família patriarcal”. Apesar disso, o último ato conta com uma reviravolta e o curta foi aplaudido. Antes da sessão, no palco do São Luiz, o diretor falou sobre feminismo.

— “O coelho” fala sobre como a sociedade trata a mulher, e como é importante e fundamental a insurgência do empoderamento feminino que temos visto ultimamente. É uma parábola do que está acontecendo de mais fantástico no Brasil e no mundo — disse Sampaio, sendo ovacionado.

Assim, o rápido intervalo diário que separa os curtas-metragens da projeção do longa principal foi particularmente necessário, como se o público precisasse de um tempo para se distanciar das imagens a que acabara de assistir. “As aventuras do pequeno Colombo”, de Rodrigo Gava, é a única animação dentro da mostra competitiva de longas, mas sofreu com a natureza do festival de cinema, que atrai poucas crianças. Embora bem intencionado — há mensagens antiguerra e a favor do respeito às diferenças —, houve uma debandada substancial de espectadores durante a sessão.

Claramente direcionado ao público infantil, o filme põe no centro da trama versões mirins de três figuras históricas: Cristóvão Colombo, Leonardo Da Vinci e Mona Lisa. O trio parte numa aventura em busca de um tesouro escondido, enfrentando inimigos como monstros marítimos.

— A oportunidade de trabalhar com uma história universal foi o que chamou a nossa atenção — disse Gava ao GLOBO, mais cedo. — É um filme aceitável por qualquer cultura e com condições de o mercado internacional absorver.

O cineasta disse ainda que falta investimento na animação brasileira:

— As animações de série de TV já têm potencial de retorno. Os canais foram obrigados a investir por conta da lei (que determina uma cota para a transmissão de conteúdo nacional). Isso ainda não aconteceu no cinema. Historicamente, as animações não deram bilheteria, assim como as séries não davam audiência. A chave é investimento. As distribuidoras não querem distribuir porque não há retorno, e não há retorno porque não há investimento. Alguém tem que quebrar esse ciclo.

A inusitada surpresa do quarto dia de Cine PE ficou por conta do curta-animado “O último engolervilha II”, um projeto coletivo em que 14 diretores produzem segmentos independentes e sem regras pré-estabelecidas. O resultado são mini-histórias grotescas e hilárias, como a em que um homem desiste de matar uma barata após o inseto fazer um discurso edificante sobre sobrevivência e paz. Também foi exibido o curta “A vida em uma viagem”, de Tauana Uchôa, um delicado conto sobre a vida de uma mulher — da infância à velhice —, retratada a partir de situações pelas quais a personagem passa dentro de um trem.

G1

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