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20 dias de angústia: Síria reencontra bebê que entregou a desconhecido

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publicado em 12/10/2015 às 18h46

Sírios que deixam o país rumo à Europa muitas vezes dependem de traficantes de pessoas para alcançarem o seu destino. Muitas vezes é impossível saber em quem confiar e as coisas podem dar muito errado. Essa é história de uma mulher síria que acabou vendo um homem, cujo nome verdadeiro sequer conhecia, sair andando com sua filha de 1 ano.

Zizit sabia que teria de deixar a Síria depois de ser alvejada por atiradores e uma bala atingir seu carro. Era médica num hospital em Damasco, antes de ser abordada por um grupo militante islâmico que a forçou a deixar o local e trabalhar para eles. Quando ela se negou, as ameaças começaram.

“Eles tentaram me matar duas vezes”, diz. Temendo a segurança de sua filha, Maya, de 1 ano, decidiu que não tinha outra opção a não ser deixar o país. “Não fiquei feliz em deixar a Síria, amo meu país. Saí por causa do meu bebê, não por mim”.

E assim começou a jornada de Zizit e seu irmão Ghassan com Maya rumo à Europa. Quando estavam na Turquia, o primeiro atravessador que encontraram prometeu levá-los à Grécia por terra por US$ 13,5 mil (cerca de R$ 50 mil).

Pagaram adiantado e esperaram que ele os buscasse no hotel. Mas, dias depois, concluíram que nunca o veriam novamente.
A família, então, buscou outro atravessador, que operava um pequeno bote inflável. Após uma travessia traumática, em que enfrentaram uma tempestade, finalmente chegaram à Grécia.

Todos conhecem os cafés frequentados por traficantes de pessoas em Atenas, então Ghassan foi encontrá-los. Levou um homem, que se apresentou como Abu Shahab, à casa onde ele e Zizit estavam.

O traficante ofereceu a Zizit um passaporte brasileiro falso e uma passagem aérea que a levaria a Suécia por 4 mil euros (R$ 17 mil). Ela teria que pagar outros 4 mil euros por Maya, mas havia um detalhe: mãe e filha não poderiam viajar juntas.

Crianças, disse ele, tinham que ser levadas por algum cidadão europeu, alguém que pudesse conversar com autoridades de imigração. Ele, sírio com cidadania sueca, fingiria ser pai de Maya e a levaria usando o passaporte sueco de sua própria filha.
Eles atravessariam a imigração primeiro e Zizit viria depois. Ela poderia embarcar no mesmo voo, mas teria que ficar longe de Maya para que a filha ficasse calma.

Zizit não gostou do plano, mas achou que não havia outra alternativa – sabia que tinha que agir rápido sob o risco de ficar sem dinheiro.

Não seria um voo direto à Suécia – é comum para atravessadores dividir grandes viagens em vários pequenos trajetos. Iriam, primeiro, à Itália, então a outro país não revelado até, finalmente, chegarem à Suécia.

Cinco dias após terem conhecido Abu Shahab, Zizit se preparou para o primeiro voo. Fez a mala de Maya, com leite, roupas quentes e um casaco. Colocou também uma boneca.
BBC Brasil

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