João Pessoa, 12 de maio de 2025 | --ºC / --ºC Dólar - Euro

ÚltimaHora
online

Brasil na contramão: enquanto o mundo retira US$ 795 milhões em uma semana, o país investe mais no mercado cripto

Comentários: 0
publicado em 12/05/2025 ás 11h19
atualizado em 12/05/2025 ás 11h20

Na semana terminou em 14 de abril de 2025, produtos de investimento em ativos digitais registraram saídas líquidas de $795 milhões de dólares em todo o mundo, terceiro recuo consecutivo que elevou as retiradas acumuladas desde fevereiro para $7,2 bilhões de dólares.

O dado consta do Volume 229 – Digital Asset Fund Flows Weekly Report, da CoinShares, que também mostrou o Bitcoin respondendo por 94% desse fluxo negativo ($751 milhões). No mesmo período, porém, o Brasil teve um leve saldo positivo. Mais de $200 mil dólares (aproximadamente R$ 1,1 milhão) entraram em fundos locais.

Isso colocou o país entre as poucas exceções, ao lado de Canadá e Austrália, que nadaram contra a correnteza. O investidor brasileiro continua à caça de criptomoedas mais promissoras, e o país como um todo está mantendo essa visão positiva de mercado na hora de investir em criptos.

Fluxo de capitais: Brasil x mundo

O contraste fica ainda mais evidente quando se compara o acumulado do ano. Segundo a CoinShares, enquanto o saldo de 2025 no mundo mal se mantém positivo em $165 milhões de dólares, o Brasil soma $73 milhões de dólares em entradas, resultado que preserva sua 6.ª posição no ranking de países com maior patrimônio sob gestão (AuM) em cripto, com $1,13 bilhão de dólares.

Na frente estão Estados Unidos ($99,5 bilhões), Canadá ($4,8 bilhões), Suíça ($4,58 bilhões), Alemanha ($4,49 bilhões) e Suécia ($2,61 bilhões). A guerra tarifária desencadeada pelo presidente norte-americano Donald Trump provocou aversão a risco nos mercados desenvolvidos.

Mas, no Brasil, a combinação real desvalorizado + inflação sob controle aumentou o apelo de ativos dolarizados. Para os que diversificam parte da carteira, mesmo um aporte modesto em cripto pode servir como hedge cambial. A B3 já distribui 16 ETFsde criptomoedas e planeja lançar opções de Bitcoin ainda este ano.

Isso, além de futuros de Ethereum e Solana, ampliando o cardápio institucional. Em março, a Comissão de Valores Mobiliários também aprovou o primeiro ETF spot de XRP na América Latina, reforçando a percepção de que o mercado doméstico amadureceu. Projetos de lei que propõem alocar parte das reservas internacionais em Bitcoin, como o debatido na Câmara dos Deputados, ganharam visibilidade na mídia.

Mesmo ainda estando longe de uma adoção oficial, o simples fato de o tema estar na agenda política reforça a legitimidade do ativo. E embora o BTC concentre volumes, algumas altcoins atraíram capital mesmo em semanas negativas. A CoinShares aponta influxos de $3,2 milhões de dólares em XRP.

Seguidos ainda por entradas modestas em Ondo, Algorand e Avalanche. Fundos multiativos receberam $1,1 milhão de dólares, sugerindo que o investidor busca uma exposição mais variada, sem depender de uma única tese.

O iShares Bitcoin Trust ETF liderou as saídas (-$342,6 milhões), enquanto o 2× EtherETF captou +$34,7 milhões na mesma semana. O retrato mostra que, mesmo em ambientes adversos, estratégias de alto risco-retorno, como produtos alavancados, encontram compradores.

Riscos no horizonte e o que observar daqui em diante

Apesar da resiliência doméstica, o Brasil não opera numa bolha. Uma eventual escalada na disputa tarifária pode pressionar o real, afetar a liquidez dos ETFs listados na B3 e reduzir o ímpeto comprador. Além disso, a decisão do Conselho Monetário Nacional de vetar investimentos em cripto por determinados fundos de pensão indica que o regulador seguirá vigilante.

O Banco Central, por sua vez, programa para o segundo semestre novos testes com o Drex, a versão brasileira do real tokenizado. A convivência entre moeda digital oficial e criptoativos privados suscita dúvidas sobre tributação, reporte de operações e requisitos de custódia, temas que podem alterar incentivos de curto prazo para investidores.

Relatórios CoinShares publicados toda segunda-feira vão continuar a medir o pulso do mercado. Uma reversão dos saques globais pode mudar rapidamente a narrativa. A tramitação do projeto que cria a Reserva Estratégica Soberana de Bitcoins (RESBit) é um barômetro do apetite político por ativos digitais.

Mas é claro que, quanto maior o giro dos ETFs e futuros locais, menor será o “prêmio Brasil” que hoje encarece alguns produtos e limita posições de maior porte. Então, se o quadro internacional permanecer volátil, a disposição brasileira em aumentar participação em cripto reflete um misto de pragmatismo em relação à variação cambial e um otimismo tecnológico.

MaisPB