João Pessoa, 25 de novembro de 2024 | --ºC / --ºC Dólar - Euro
Outro dia perguntaram ao professor Clóvis de Barros o que ele supunha ser a causa de hoje não nos apaixonarmos como antigamente. O amor era enredo das principais e mais bonitas obras: poemas, músicas, filmes, peças de teatro… havia encontros de verdade entre as pessoas. Encontros de alma, de mente, de sonhos, objetivos.
Ao responder a pergunta, o professor e grande filósofo brasileiro apontou uma possível causa, opinião compartilhada por mim desde há muito. Porém, ele o fez iniciando a partir de um ponto de vista no qual eu nunca havia pensado: as pessoas não se apaixonam mais como antigamente não por suas diferenças, mas pelas semelhanças que, hoje em dia, tornam todos praticamente iguais.
Exemplo: o padrão de beleza mais admirado e desejado, tanto em homens quanto em mulheres, parece ser o de pessoas que diariamente praticam atividades físicas, geralmente iguais para cada parte do corpo a qual se quer trabalhar, tornando todos bem parecidos fisicamente. Portanto, se um homem gosta de mulheres que tenham determinado biotipo, típico de atletas, não vai ser difícil para ele encontrar mulheres assim, aos rodos, na academia.
Se algumas mulheres gostam daquele tipo de “homem de negócios”, vestido com seu terninho, usando sempre cabelo bem penteado e jargões próprios de grandes executivos, não é difícil encontrá-los aos montes por aí. Sempre muito parecidos, inclusive no perfume que usam e lugares que frequentam.
Confesso que quando o ouvi falar daquela forma, com fluidez de argumentos quase irrefutáveis e comprovados pelo que vemos tão frequentemente hoje nas redes sociais, temi pelo futuro das relações a longo prazo. Me fez pensar que os protocolos que temos que seguir para sermos aceitos são cada vez mais parecidos. Como se estivéssemos saindo de uma linha de produção. Por que ficar parados, sem entrar na brincadeira, se a moda é cirandar, trocar, descartar? Se o novo é sempre mais atraente, porque permanecer com um único?
O que faz então com que consigamos encontrar, no meio da multidão, aquela pessoa, tão parecida com todas as outras, mas que prende a nossa atenção? Que faz com que tenhamos vontade de ver outra vez. De passar horas conversando? De, quem sabe um dia, vir a ter uma vida em comum juntos? O nosso espírito. Aquilo que carregamos dentro de nós. O que nos torna admiráveis e atraentes para o outro. Um tipo de gosto musical. Um poeta preferido. O tempo que passamos “polindo” o que realmente importa. Aquele item de colecionador. Peça rara, talvez antiquada, mas de inestimável valor. O guarda-chuva amarelo, no meio de todos os outros pretos. Tenhamos esperança!
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