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José Américo e José Lins    

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publicado em 02/10/2024 ás 07h00
atualizado em 01/10/2024 ás 18h10
Os escritores José Américo de Almeida e José Lins do Rego eram amigos inseparáveis. Entre ambos, existia uma amizade literária que perdurou por toda a vida. Amizade transformada pela confidência pessoal, pelo aconselhamento.
Os dois pensavam a Paraíba com o olhar das artes para revelar a força de sua gente. Ambos carregavam a terra, as águas e a história do povo como alimento à arte que exercitavam.
José Américo expressou essa amizade em muitas ocasiões. Estando governador, organizou um evento para homenagear o amigo, consagrado romancista que elevou a literatura brasileira a um estágio de destaque mundial, ao escrever sobre os tipos e costumes do povo do Nordeste, especialmente da Paraíba.
Os 50 anos de nascimento do escritor José Lins do Rego (1901 – 1956) foram comemorados na Paraíba nos primeiros meses de 1952. Como não poderia deixar de ser, com robusta programação definida pelo governo do Estado.
Foram momentos de romarias sentimentais à terra onde nasceu o romancista paraibano, com a participação de escritores e jornalistas, em caravanas procedentes do Rio de Janeiro, onde residia José Lins do Rego.
Na Paraíba e estados vizinhos, como o Ceará, foram prestadas efusivas manifestações culturais ao notável romancista que contribuiu para tornar o Nordeste mais reconhecido, com sua diversidade cultural.
O governador José Américo de Almeida reconhecia a grandeza e a universalidade literária de José Lins. Criou comissão para organizar as solenidades do seu cinquentenário, com debates sobre sua obra, visitas aos engenhos, culminando com a inauguração de busto em Pilar e, nos dias seguintes, um almoço, em Pitimbu, e encontro com escritores, em Campina Grande.
As homenagens ao escritor se estenderam ao Estado do Ceará, onde recebeu efusivas saudações capitaneadas pela romancista Raquel de Queiroz, consagrada autora de O Quinze.
O jornal O Norte da época descreveu como peregrinação sentimental a visita de José Lins pelos engenhos de sua infância e mocidade, cenário de seus romances e de suas memórias. Os personagens saíam das páginas dos livros para retornar à terra do coronel José Paulino, do pequeno Carlos de Melo, do moleque Ricardo, de Vitorino Papa-Rabo, do mestre José Amaro.
Na visita às várzeas do rio Paraíba, José Lins do Rego reencontrou seu mundo, os resquícios dos velhos engenhos de fogo morto. Tudo apresentava sons evocativos da infância, mas sem a mesma paisagem retratada nos livros. Não mudaram os canaviais às margens do rio Paraíba, como também, nas encostas da terra agreste, os algodoais que não mais afloravam com poesia e romantismo.
O governador José Américo proporcionou justas homenagens a uma personalidade que representa a grandeza da Paraíba no plano da literatura nacional, da inteligência e do espirito criativo paraibanos.
Em Pilar, o autor de Fogo Morto esteve diante de um bloco de lembranças que alimentou a arte revelada em sua obra literária.
Na comitiva visitante, escritores do quilate de Rubens Braga, Marques Rabelo, Waldemar Cavalcanti e outros que se deixaram dominar pelo calor das homenagens do amigo. Conheceram a supremacia do coração e do espírito solidário dos paraibanos ao seu maior contador de histórias.
Encontraram as lembranças das bolandeiras, das senzalas e casas-grandes. Juarez Batista recordou que os visitantes à cidade de Pilar puderam se maravilhar com as conversas do povo que serviu de personagem para José Lins.
Setenta anos depois, percorremos as paisagens saturadas na busca de imagens de Pilar e seu entorno, na tentativa de reconstruir as faces dos personagens que inspiraram José Lins, esse gigante da literatura de ficção brasileira. Não os encontramos, mas estão vivos nas páginas de seus livros.
Mais de um século depois, as paisagens rústicas dos antigos engenhos Itapuá e Corredor da infância de José Lins, assim como toda a paisagem da várzea do rio Paraíba, onde viveram os tipos imortalizados pelo autor de Banguê, continuam sendo recriadas a cada leitura dos seus romances.

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