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Alexandre José Cartaxo da Costa é engenheiro, empresário, especialista em Gestão Estratégica de Negócios pela Universidade Potiguar, diretor da Comércio PB, presidente da CDL de Cajazeiras e membro fundador efetivo da Academia Cajazeirense de Artes e Letras (Acal).

A grande roubada

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publicado em 15/12/2023 às 10h25

Tomei um susto ao me deparar com a informação que circulou nas redes sociais nesta segunda-feira, 11/12, que a Paraíba estava prestes a receber um mega investimento de um grupo chinês na ordem de 9 trilhões de reais numa pequena cidade no Litoral Norte do estado. Ressabiado, respirei fundo me perguntando: que investimento astronômico seria este de 9 trilhões de reais, que corresponde a quase ao PIB do Brasil de todo ano de 2022 (R$10,1 trilhões), a ser aplicado num Estado que gerou riquezas durante todo no ano de 2021 modestos R$ 77,00 bilhões de reais.

A trilionária e mirabolante proposta do grupo chinês Brasil CRT, comemorada com estardalhaço pela mídia paraibana, apresentada ao prefeito de Mataraca Egberto Coutinho prevê a construção de um gigantesco porto de águas profundas e de uma cidade futurística naquele município tudo reproduzido numa impecável maquete digital com artifício de inteligência artificial que fundamentava a viabilidade do estratosférico investimento.

E que investimento! Seriam criados mais de 600 mil empregos diretos e indiretos, com tempo de execução das obras seguindo o padrão chinês, três anos para concluir o porto e cinco anos para entregar pronta a cidade futurista. Algo impensável no Brasil, pois, somente o prazo para licenciamento ambiental consumiria o dobro do tempo previsto para executar este complexo futurista. Incongruências como estas começaram a levantar questionamentos sobre a magnitude da obra, e os astronômicos valores a serem investidos em tão reduzidos prazos de execução. Algo estava errado. Aos poucos começou cair a ficha para os paraibanos que começaram perceber que estavam diante de uma grande roubada.

O inebriado e deslumbrado prefeito Egberto não enxergou isso. Mobilizou toda a cidade convocou a câmara municipal, a imprensa e numa pomposa solenidade assinou em alto estilo um protocolo de intenções com aquele grupo chinês para o município receber o investimento trilionário que transformaria a velha Mataraca na Dubai brasileira. Pronto! Agora os mataraquenses iriam desfrutar de serviços de uma verdadeira cidade futurista, totalmente vertical, com praças e jardins no topo dos prédios, carros voadores e veículos autônomos.

O projeto da Mataraca do futuro começou a fazer água quando o arguto governador João Azevedo, que no mesmo dia anunciava a construção da ponte Cabedelo-Lucena, alertado por assessores sobre a frágil consistência desse projeto cancelou a audiência marcada com os diretores do Grupo Chinês Brasil CRT para tratar deste projeto. Na verdade, o que motivou o cancelamento desta audiência foi fato do consulado da China no Brasil desconhecer totalmente a atuação deste grupo no Brasil além de classificar o investimento como “duvidoso”.

Essa roubada que Paraíba quase entrou remete ao caso do governador Cássio Cunha Lima, em 2008, que depois de uma longa viagem internacional anunciou estrondosamente a implantação de uma fábrica de helicópteros oriunda do Tartaristão [Federação Russa] em Campina Grande. O que aconteceu? Nada. Lorota pura!

Fica a lição para os políticos e a imprensa adotarem uma postura de comedimento diante de propostas mirabolantes, como algo semelhante a vender terrenos na lua, sem uma devida checagem ou uma certificação prévia evitando que não lhes caiam a pecha de políticos bestas e jornalistas incautos.

* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB

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