João Pessoa, 13 de novembro de 2023 | --ºC / --ºC Dólar - Euro
Os conceitos de Entropia e Sintropia (entropia negativa ou negentropia), abordadas inicialmente no campo da física, na termodinâmica, foram expandidos e são empregados em outros ramos de estudo. A Entropia se refere à desagregação, desgaste e colapso nos sistemas e à tendência de fragmentação. É a expressão usada para descrever a passagem de uma ordem estabelecida até o seu desarranjo. Quanto maior for a desordem de um sistema, maior será o seu grau de Entropia. Já o termo Sintropia, diz respeito àquilo que promove a ordem e o equilíbrio nas organizações ou complexos, à desfragmentação e à convergência. É, ainda, o elemento que faz cessar a desordem, com efeito neguentrópico, que interrompe e reverte o processo de Entropia. A concepção de uma é antagônica à outra.
Um grande exemplo de agregação que se retroalimenta e autorregenera é a natureza, que, quando intocada pelo ser humano, reflete todas as características da Sintropia: se recria, se recicla ou se renova constante e ininterruptamente. A agricultura sintrópica tem sido um modelo empregado com vistas a manter a organização natural e a integração entre os elementos que a compõem, promovendo o equilíbrio e a preservação do meio ambiente e dos ecossistemas de matas e florestas (Nota 1).
Os termos podem ser aplicados em áreas distintas: na Social e Sociologia, na Administração, na Genética, na Filosofia, na Psicologia e outras. A Entropia Social ocorre quando conflitos acirrados se aprofundam na sociedade nas camadas sociais e no cenário político e partidário.
Os sistemas mais acessíveis e que não se fecham às mudanças, tendem a se reestruturar pelo uso de mecanismos de retroalimentação. Nos modelos de administração, é preciso ter como princípio básico a educação continuada, a requalificação e a reciclagem constantes.
O padrão observado nos ecossistemas e na biologia em geral, pode ser reproduzido e adaptado para todo tipo de sistema, principalmente nas relações humanas, empresariais e organizacionais. É preciso considerar que tudo aquilo que fica parado ou estagnado, que nega a pluralidade das demandas existentes e das realidades envolvidas, assim como evita a inclusão da diversidade, potencializa a instalação da Entropia e seu consequente desgaste, porque favorece a fricção, o embate, os indesejados mal-entendidos, e, o desencontro de objetivos ou o fomento a interesses divergentes.
Se é certo que qualquer organismo precisa periodicamente de alimento para sobreviver, e que ele se transforma em energia para manter a sustentação de suas funções, todas as demais coisas também demandam nutrição, cuidados e preservação.
Paradoxalmente, quando a desordem se instala, ela impõe a necessidade de que sejam pensadas, e subsequentemente, criadas outras maneiras de retorno à condição estável, através da análise dos cenários para que haja ajustes, adaptações e a viabilização de fluxos adequados. Nesse aspecto, os registros da história humana enquanto sociedade constituída, demonstram que ciclo após ciclo, esses corpos sociais chegam ao seu apogeu e em seguida, entram em declínio, dado o nível de desordem e degeneração de valores humanos e dignos.
No ponto mais baixo da curva desse decaimento, é que surge um impulso para um soerguimento da vida comunitária e gregária em novos padrões. Isso é realizado através de pensadores e de seus escritos que promovem a formação de concepções voltadas a um novo ideário, com pessoas que agem na modificação do status quo, através de premissas aprimoradas.
Observa-se que a sociedade avança lenta e gradativamente, por causa de sua massa humana que apresenta níveis de compreensão díspares e heterogêneos. No entanto, em cada fase inaugurada, novos pressupostos passam a nortear as relações pessoais e em sociedade, paulatinamente. Esses processos duram décadas e a maioria das vezes, séculos. Para termos uma ideia a respeito dessa lentidão das alterações e melhorias, a maioria dos postulados científicos em uso atualmente, em pleno Século XXI, foram urdidos e costurados entre o Século XVI, XVII e XVIII.
A visão cartesiana, baseada no modelo mecanicista, predomina desde o Século XVII, se centrando na revolução científica, no avanço do heliocentrismo e no racionalismo. Sua principal característica é observar os fenômenos de modo isolado e considerar as pessoas como elementos do processo, deixando sem relevância os sentimentos e as emoções. Nela, a realidade é objetiva, linear, determinista, reducionista, governada por leis exatas e imutáveis, cuja concepção se assemelha ao funcionamento de uma máquina bem engrenada e seu símbolo é o relógio.
No momento, estamos em um período instável e em alteração de padrões, onde a desordem impera, os valores e princípios conhecidos estão em Xeque-Mate. Essa transformação se refere a incorporar, integrar e agregar novos elementos ao modelo anterior e não em abandoná-lo. Trata-se de um “upgrade” ou atualização, e ainda, um salto e ampliação da compreensão. Antecede-se a isso a Entropia (desordem) e a quebra de paradigmas de modo que um novo modelo apareça, e ocorra a Sintropia (estabilidade).
Para estarmos hoje em período de transição, uma explosão consciencial teve início em meados do ano de 1900/1940, quando aparecem no cenário mundial contornos para as ciências emergentes, a exemplo da “Física Quântica”, dos avanços na Matemática e de suas ramificações disciplinares que abriram leques para outras teorias abstratas e aplicação em projetos quânticos.
A ideia da transdisciplinaridade começou a ser vislumbrada por estudiosos e isso permitiu que as disciplinas pudessem se complementar e oferecer uma visão integral do que se pretendia examinar, de lacunas a solucionar, e, de novos inventos ou aprimoramento de sistemas. Esse aspecto fez com que ocorressem avanços em todas as áreas do saber e de sua aplicação prática.
Na área do estudo de matriz de energia, houve a agregação e preocupação com a sustentabilidade e o não exaurimento de recursos naturais, com a promoção de programas na redução da poluição local e mundial. Entraram em cena a energia eólica, a solar, assim como as invenções de Tesla.
Surgiram as abordagens “Sistêmica” e “Holística”, a “Noética” (estudo dos fenômenos da consciência), a “Ecologia Profunda”, e, diversas outras ciências que incorporam elementos até então desconhecidos na visão cartesiana (Nota 2). Nesse novo paradigma, o universo é um organismo que engloba tudo e possui uma dinâmica de interconexões, que formam uma malha viva que liga todos os elementos que a compõem, são um complexo sistema que evolui conjuntamente, com plasticidade e de modo não-linear, com fluidez. A tônica do conceito holístico é a visão do todo, onde todas as coisas estão conectadas e sofrem influências mútuas, de modo dinâmico. Com a inserção dos conceitos de interconexão, de transdisciplinaridade e de interdisciplinaridade, é irremediável a associação de conceitos com maior abrangência e maleabilidade.
Depreende-se que esse período de modificação, de quebra intensa de paradigmas, dentro do nosso ciclo e status quo, foi gerado pela Entropia dos diversos sistemas que envolvem a raça humana.
A instabilidade em vários segmentos é um sinal de que o efeito neguentrópico está ocorrendo e que a Sintropia está trabalhando para um novo momento da sociedade e da vida organizada.
Nota 1
O conceito de “Agricultura Sintrópica”, criado por Ernst Götsch, utiliza e aplica nos agroecossistemas, o fundamento teórico dos modelos de auto-organização e de sintropia;
Nota 2 (ciências emergentes)
“Abordagem Sistêmica”: unifica a racionalidade científica do mundo acadêmico, a subjetividade das artes, as diversas tradições espirituais, e, as ciências emergentes;
“Abordagem Holística”: observa a totalidade (cenário micro e o macro) e compreende o estudo das partes e suas interrelações;
“Noética”: estudo dos fenômenos da consciência, através de experimentos científicos que evidenciam a influência e participação direta da mente e da consciência no plano concreto, na vida prática. Aqui, a consciência é o foco.
“Ecologia Profunda”: preconizada por Fritjof Capra, tem sua tônica na unicidade, na coesão e na ideia central de que todos os sistemas estão entrelaçados, desde os sociais, institucionais aos ambientes naturais.
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