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Educador Físico,  Psicólogo e Advogado. Especialista em Criminologia e Psicologia Criminal Investigativa. Agente Especial da Polícia Federal Brasileira (aposentado). Sócio da ABEAD - Associação Brasileira de Estudos do Álcool e outras Drogas e do IBRASJUS - Instituto Brasileiro de Justiça e Cidadania. É ex-presidente da Comissão de Políticas de Segurança e Drogas da OAB/PB, e do Conselho Municipal de Políticas sobre Drogas do município de João Pessoa/PB. Também coordenou por vários anos no estado da Paraiba, o programa educativo "Maçonaria a favor da Vida". É ex-colunista da rádio CBN João Pessoa e autor dos livros: Drogas- Família e Escola, a Informação como Prevenção; Drogas- Problema Meu e Seu e Drogas - onde e como lidar com o problema?. Já proferiu centenas de conferências e cursos, e publicou dezenas de artigos em revistas e livros especializados sobre os temas já citados.

Maconha, veneno ou remédio?

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publicado em 20/06/2023 às 07h00
atualizado em 19/06/2023 às 16h42

 

Nos últimos anos as discussões em relação à “cannabis sativa” ou “maconha”, como é popularmente conhecida no Brasil, tem ocupado muito espaço na mídia, bem como nos congressos da área médica, social, da segurança pública etc., e até mesmo nas conversas amistosas da sociedade em geral. Tais discussões vão desde a descriminalização desta substância para uso recreativo, até a utilização de derivados desta planta na farmacologia, com fins medicamentosos.

O tema é palpitante e controverso, mesmo que na maioria das vezes tal debate seja dominado por muita emoção e pouco conhecimento.

A maioria dos estudiosos concorda que a maconha fumada possui os mesmos componentes cancerígenos contidos no tabaco – alcatrão, benzopireno, dióxido de carbono da fumaça, etc. -, além do alucinógeno Tetrahidrocanabinol (THC). Portanto, por este ângulo, é uma substância comprovadamente tóxica. Por outro lado, muitos estudos têm atestado resultados promissores, com o uso de alguns componentes (canabinóides), extraídos dessa planta, abrindo assim a possibilidade de derivados desta droga serem utilizados como remédios na farmacologia.

As pesquisas ainda são muito incipientes, e, portanto, tudo que se diz hoje em relação à maconha, seja contra, ou a favor, é muito prematuro. O próprio fato desta droga ser ilegal em quase todo o mudo, dificulta de certa forma as pesquisas. É preciso minimizar este viés ideológico para que os estudos científicos possam avançar de forma confiável, com mais verdades científicas e menos emoção e ideologia.

Em relação à eficácia farmacológica da maconha, as incertezas e controvérsias são muitas. Desta forma, tentarei aqui descrever um resumo de alguns estudos científicos acerca do que já se sabe de concreto bem como opiniões de alguns estudiosos deste tema.

Alguns avanços já foram conquistados. Dentre os pesquisadores envolvidos nas pesquisas relativas ao possível uso medicinal de componentes da maconha, está o neurologista Dr. Matheus Trilico, o qual, na minha ótica, cumpre tal missão com muito equilíbrio, transparência e imparcialidade.

Segundo o Dr. Trilico, “…a planta da cannabis contém mais de 400 compostos químicos, e dentre estes os mais importantes são os canabinóides, cuja presença nesta planta gira em torno de 60 destes compostos…”, sendo os principais, o Tetrahidrocanabinol (THC) e o Canabidiol (CBD). O CBD, pela baixa toxidade demonstrada, tem sido o mais estudado na atualidade, e também o que tem apresentado resultados terapêuticos mais promissores. Assim, nos deteremos a descrever mais especificamente sobre os resultados dos estudos referentes a estes dois canabinóides.

No ano de 2020, a Organização Mundial de Saúde (OMS), retirou a “maconha” e a resina derivada desta, da lista de drogas mais perigosas, reconhecendo, portanto, as possíveis propriedades medicinais da planta, passando para a “Lista I”, que inclui outras substâncias, como a “morfina”, por exemplo, que esta entidade também recomenda controle, mas admite que tem menor potencial danoso.

Outra recomendação da OMS é retirar os extratos e tinturas de cannabis da lista I de substâncias controladas. Isso apenas em casos em que essas substâncias não tiverem mais do que 0,2% de THC em sua composição. Caso tenham, voltariam para a Lista I. Estas recomendações não interferem nas legislações dos países. Como o próprio nome diz, são recomendações. Vale acrescentar que, segundo ainda a aludida recomendação, produtos com THC acima de 0,2% só são autorizados para pacientes terminais.

No ano de 2015 a Agência Nacional de Vigilância Sanitária – ANVISA, retirou a proibição do CBD no Brasil, e o reclassificou como uma “substância controlada”, apenas, facilitando assim não só para as pesquisas, como também a comercialização desta substância em território nacional. E, em dezembro de 2019, foi aprovado pela referida agência o regulamento para a fabricação, importação e comercialização de medicamentos derivados da cannabis, podendo estes serem na forma de: comprimidos, líquidos, óleos etc.

O CBD (Canabidiol), diferentemente do THC (Tetrahidrocanabinol), não é intoxicante, ou seja, não apresenta atividades psicoativas. Algumas pesquisas sugerem que esse canabinóide, tem potencial em suas propriedades: antioxidantes, ansiolíticas, antieméticas, antipsicóticas e neuroprotetora.

A neurologia e a psiquiatria são as áreas em que este canabinoide (CBD), tem sido empregado há mais tempo, especialmente para casos de epilepsias graves. Entretanto, pelo seu aparente potencial terapêutico, diversos estudos estão sendo conduzidos em busca de evidências que justifiquem seu uso em outras situações, como: autismo, ansiedade, dor crônica, fibromialgia, insônia etc.

O Conselho Federal de Medicina (CFM) só autoriza o uso compassivo do CBD, ou seja, quando os outros medicamentos, já aprovados e largamente testados pela medicina não tiverem surtido os efeitos esperados e desejados. Contudo alguns médicos, têm prescrevido este componente como primeira opção por sua conta e risco.

Segundo a maioria dos estudos científicos atuais, remédios produzidos com os canabinoides (CBD e THC), podem causar efeitos colaterais como: tontura, alterações do apetite, depressão, desorientação, dissociação, humor eufórico, amnésia, distúrbios de equilíbrio e de atenção, má coordenação dos músculos da fala, alterações do paladar, falta de energia etc. Acrescentam, no entanto, que estes efeitos colaterais podem diminuir com o tempo, e são comuns no início do tratamento. Em vista disso, é preciso cautela ao se prescrever canabinóides com outros medicamentos sedativos, como: benzodiazepínicos e opióides, principalmente em idosos.

Ainda segundo os estudos já referidos, os principais efeitos colaterais relatados parecem estar relacionados principalmente ao (THC), e não ao (CBD), propriamente. Contudo, é importante ressaltar que como as pesquisas com estes canabinoides são recentes, e os resultados ainda prematuros, mais estudos são necessários para melhor compreender todos os potenciais efeitos benéficos e/ou colaterais, além daqueles sobre as enzimas hepáticas e as interações medicamentosas.

A apresentação mais conhecida destes derivados da maconha com fins medicamentosos é o óleo, e estão disponíveis atualmente em cápsulas, spray e cremes tópicos. Normalmente, quando prescrito, o tratamento é iniciado com o óleo em doses baixas, com formulações sem ou com o THC em diferentes níveis, dependendo da indicação médica. É importante que o acompanhamento do paciente durante o início de uso seja feito de forma precoce e assídua para o possível ajustamento da dosagem e a observação dos prováveis efeitos colaterais.

Finalizando, esclareço que existe uma diferença muito grande entre a maconha fumada e o uso de componentes extraídos desta planta para uso terapêutico. No primeiro caso é uma droga viciante e venenosa (tóxica) e, em relação aos derivados, ainda há muito a se descobrir, mas os resultados até aqui são promissores.

 

* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB

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