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Jornalista paraibano, sertanejo que migrou para a capital em 1975. Começou a carreira  no final da década de 70 escrevendo no Jornal O Norte, depois O Momento e Correio da Paraíba. Trabalha da redação de comunicação do TJPB e mantém uma coluna aos domingos no jornal A União. Vive cercado de livros, filmes e discos. É casado com a chef Francis Córdula e pai de Vítor. E-mail: [email protected]

Na ausência dos carinhosos

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publicado em 28/05/2023 às 08h20
Numa visita inesperada ao médico das flores de Vinícius de Moraes, fiquei sabendo que o prato predileto das corujas são os ratos e cobras. Não é à toa que as torres das igrejas são povoadas de corujas, onde fazem as refeições e as cagadas sobre a cabeça de seus brilhantes coroinhas redondos. Seria a coruja um caranguejo de duas bocas?
Os gatos estão falando demais, principalmente, os amarelos. É incrível. Chamam “mamãe” e reclamam de tudo. Minha tia Sinhá, tinha um gato chamado Zé Bebelo, que ela tirou de Guimarães Rosa, levado num Caminhão Misto da feira de Cajazeiras para as profundezas do Rabo da Gata, o bairro onde ela morava no sertão do Jatobá.
Pensei: ia ser o melhor extremo-desejo se os pássaros não cantassem mais, falassem, sobre suas prisões no mundo do homem mal ou pelo menos, voltassem para a Serra da Boa Esperança, esperança que encerra, que li no testamento do joranlista Walter Galvão.
Convencido das certezas de outros mundos, de que os bichos falam, alguns, altas horas, mas eles não são cruéis. Ah, eu penso que só aos quinze anos nos vilipendiamos a vida eterna, mas eu juro que o meu cachorro veio do labirinto de Hélio Oiticica e continua latindo, embora idoso, e seja mais rápido que as transformações de Zeus
Os gatos são mais belos e elegantes, andam por dentro dos cômodos feitos parangolés, bem mais fenomenais aos pés da Santa Cruz, do que as imagens que passam pela timeline de todo mundo. Nem precisam de seguidores.
As  cobras criadas são queimadas em vaidades solares e devoradas pelo carcarás.
Gatos como Nito (foto), Rayovak, Tica e uma legião de amarelos são estrelas que apresentam o miado vocábulo, famintos de amor.
Eu confirmei que não ia a lado nenhum, mas se eu me levanto, o gato olha, se saio do lugar, o cão acompanha, são amigos de outrora, na ausência dos carinhos teus.
Vesti a camisa amarela, gosto tanto dela, pensando na camisola do dia, mas não chegamos aos pés dos gatos que falam. Os gatos amarelos são de outras vontades, ou foram criados na corda bamba da capoeira da vau, digo vibe, de Francisco que era amigo de Antônio Conselheiro, mas nem tudo é impossível.
Ainda a pensar na degustação das corujas, diante da obra de Molhamed Mbougar Sarr – “A Mais Recôndita Memória dos Homens” os horrores das doenças dos pombos e pardais a se perder de vista do fim da picada do mosquito da dengue. Vou escrever um texto assim: A vida não devia ter fim, mas a humanidade não se sustenta.
Manhã tão bonita manhã. Há quanto tempo não vejo a infalível cena do encontro dos porcos com assas com os porcos-espinho se há mais tempo não desço a ladeira da Casa da Pólvora, onde moram os seres imaginários de Borges, a contemplar o espelho d’água do Sanhauá, onde está a sereia deixada por Colombo. De todas as cores, os animais não são racistas, nem idiotas, apenas predadores.
Kapetadas
1 – De vez em quando a lógica tira breves férias. É nos momentos em que alguma coisa não faz sentido.
2 – Alimentar dúvidas deixa a incerteza obesa.
3 – Som na caixa: “Vou bater as asas, só levar comigo, o retrato do meu gato”, Rita Lee

* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB

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