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Jornalista paraibano, sertanejo que migrou para a capital em 1975. Começou a carreira  no final da década de 70 escrevendo no Jornal O Norte, depois O Momento e Correio da Paraíba. Trabalha da redação de comunicação do TJPB e mantém uma coluna aos domingos no jornal A União. Vive cercado de livros, filmes e discos. É casado com a chef Francis Córdula e pai de Vítor. E-mail: [email protected]

Eles usam 40, elas se sustentam

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publicado em 29/04/2023 às 07h00
atualizado em 29/04/2023 às 05h52

Ao contrário do inesperado, o rapaz sentou do meu lado, um encantador rapaz, na aula de arte da professora Zarinha. Ele usava um sapato xadrex. Elogiei e nada além. A natureza é só uma (p)arte da equação desta cena. “Qual o número você calça, K? indagou Dalmar Medeiros.

Nas aulas de arte da professora Zarinha, a gente vê desaparecer o mundo pequeno dos inquilinos de Jesus, a vida pacata e brilhos abandonados – tudo é bem intenso na sala e penoso na calçada da praia.

Dalmar faz parte dos novatos e eu, igual a ele, neste périplo vindo de outra composição, há mais 40 anos, só fazemos o bem e crescermos – estamos ali no ZCC, que é outro mundo, uma ótica privilegiada.

Com este desertificar tropical, sinto algo a desaparecer da mesmice, enquanto envelheço na cidade – num processo esperançadamente irreversível de coisas novas, digo coisas que nos alimentam, além do feijão com arroz. Vamos embora pra Catende, Dalmar?

Lá do fim da rua, outro rapaz, diz: “Mamis, a gente a gosta dessa obra, né? E a mãe (e só elas são felizes), responde numa delicadeza admirável, que sim, eles gostam daquela obra.

Voltemos ao sertão, onde eu e Dalmar nascemos – admirável mesmo foi a cena dele entregando um livro a professora “Quem Almoçou com Abraão”, de Asher Intrater. Isso existe, professora Z? Claro, imensamente alojado no coração ateu de quem conhece Zeus e suas amantes.

De repente, um repentista. Você está andando na rua e uma pessoa no rastejo do salão coletivo, olha para mim e dá bom dia. Só falta perguntar: “tudo bem?’ Há uma necessidade doutrinária nesses cumprimentos. Dalmar disse que não tem religião, mas acredita em Deus.

O encantador rapaz D, disse que o sapato xadrex era meu. Sem interagir, meus pés aceitaram, mas não aceitei. Não teve jeito, o sapato hoje mora comigo, e passei para outra pessoa, outro sapato, dessa vez, preto no branco. Tem que ser assim, né?

Em poucos seres ou não seres há um clima de reflexos condicionados. Não deixo a sala de aula nem no Trem das Onze, de Adoniran Barbosa.

Mudando de assunto, uma bela moça, disse nesse mês de abril, que chorou quando fez 60 anos. Idade não é problema a ser resolvido, idade é moto-perpetuo (foto), a beleza da mulher (GP) já é um milagre definitivo e ainda bem que elas não calçam quarenta.

Vamos abrir a porta da delicadeza, o impacto dessa raridade que mexe com as mulheres e suas idades, mas nós homens, que calçamos 40, ainda parecemos os mesmos.

E o funaré? Há, deixa que eu vou ali falar com o doutor cardiopata.

Kapetadas

1- Acordado por livre e espontânea necessidade de pagar boletos. Putz!

2 – Eu canto: Nuvens, nuvens, eu já escuto os teus sinais.

3 – Comer direito: para os abastados, é ter modos à mesa; para os famintos, seria ter três refeições ao dia.

* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB

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