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Jornalista paraibano, sertanejo que migrou para a capital em 1975. Começou a carreira  no final da década de 70 escrevendo no Jornal O Norte, depois O Momento e Correio da Paraíba. Trabalha da redação de comunicação do TJPB e mantém uma coluna aos domingos no jornal A União. Vive cercado de livros, filmes e discos. É casado com a chef Francis Córdula e pai de Vítor. E-mail: [email protected]

Somos todos Oscar

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publicado em 23/04/2023 às 09h23
atualizado em 23/04/2023 às 06h58

Nunca tive amizade com ele, era mais velho e tinha nome do avô Oscar Sobral, que era casado com dona Manuela de Vasconcelos Sobral, irmã de meu pai, Vicente. Acho que só vi Tia Manuela, quando eu era pequeno. Oscar era amigo do meu irmão William.

Minha amizade maior sempre foi com Irapuanzinho, pois, viemos juntos para capital nos anos 70, que imagino estar com o coração encurralado, batendo nas portas da cidade, dizendo que seu irmão querido morreu.

Oscar era médico. Lembro quando ele passou no vestibular e ao longe a cantoria de Martinho da Vila – felicidade passei no vestibular – naquele tempo era uma felicidade para toda família.

Lembro que Oscar tinha escoliose, e deram a ele um aparelho que teria que usar muitos anos para aliviar as dores  e, certamente ficar bom, mas Oscar sabia que não ficaria totalmente bom. Nesse caso, a esperança morreu antes.

Lembro dele da calçada do meu pai, a calçada luz da cidade e éramos todos índios numa aldeia chamada Jatobá,  cheia de silencios e muitas alegrias,  em toda nossa tribo. Oscar era inteligente e sua voz era parecida com a nossa. Quando tínhamos telefone fixo em casa e meu filho Vítor atendia, a pessoa já ia conversando como se fosse eu. Nossas vozes nunca morrem.

Fiquei triste desde o momento em que soube ele estava numa UTI, em Sousa. Geralmente UTI é o prenuncio da morte. Certamente, meu primo Oscar, sabia que estava de partida.

Lembro quando moramos juntos em João Pessoa, eu, ele e Irapuanzinho, no centro da cidade –  eu cantava Odora  (de Caetano Veloso) sem parar e Irapuanzinho dizia: “caro primo, Oscar disse que você não tira Odara da cabeça” Eu canto até hoje.

Oscar adorava meu pai e minha mãe, ele era amoroso. Enxergava longe.

Oscar precisava viver mais.

Oscar era um menino grande.

Que nobreza tinha Oscar.

Que tipo dor é essa, esse eco lancinante que sentimos quando perdemos alguém da família,  um amigo, um primo, que agora passamos a  guardá-lo na memória das casas vazias e que só nos reencontremos noutras fotografias, já não sendo  para os que  se foram antes..

Isso de receber a notícia da morte de Oscar e são tantos os perigos, o ouro, a prata e o sol, me fez pensar na nossa aldeia.

Fiquei a imaginar o destino, Oscar inerte no salão do Jatobá Clube, o clube que tanto amamos. O riso, que se despe e nunca se despede e lá vem junho com as fogueiras. Eu sou um homem triste.

Oscar virou uma estrela. E nós, nessa estranha forma de vida de desejar algo mais. Agradecemos sua passagem no planeta, doutor Oscar!

Há anos não via Oscar, apenas o mano Irapuanzinho. Meu beijo para Conceição, Amélia que não é mais a mulher de verdade, Iacira, Iraneusa e Neto, o fim de rama dessa família, agora incompleta.

* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB

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