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Ana Karla Lucena  é bacharela em Direito pela Universidade Estadual da Paraíba. Servidora Pública no Tribunal de Justiça do Estado da Paraíba. Mãe. Mulher. Observadora da vida.

Logo depois da última curva

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publicado em 03/04/2023 às 07h00
atualizado em 02/04/2023 às 15h08

Na curva do S, ele olhou para trás e sequer conseguiu ver os rastros que o tinham levado até ali. O S poderia significar SAUDADE, mas como? Ele não lembrava de nada. Tudo foi apagado como um borrão. Não sabe se andou por uma rua pavimentada, ou por uma grande e irregular estrada de terra batida. Não há vestígios em seus pés que indiquem se o chão estava enlameado ou se caminhou por um solo rachado, de terra seca.

Na curva do S, ele achou que iria perder o controle da direção. Derrapou na pista. Chegou a pensar que fosse o fim de tudo. Sua SORTE havia mudado totalmente. Toda a sensação de segurança havia ruído, assim como as paredes de um castelo de cartas ou os grãos de um castelo de areia, quando as ondas os levam. Um mundo novo a ser desbravado havia surgido e ele não sabia se seria capaz. Ele próprio não conhecia seus limites de força e resiliência, não os havia testado ainda. Vivera, até antes da curva, plantado e com raízes fortemente fincadas, como uma árvore centenária.

Na curva do S, sentiu algo parecido com SOLIDÃO. E, nesse ponto do caminho, não importava se outros caminhavam ao seu lado. Nada do que dissessem soaria diferente de SILÊNCIO para ele. Como se uma estranha e insuportável cacofonia lhe entorpecesse os sentidos. Depois, os sons emudeceram e ele, subitamente, viu que estava SÓ. As vozes cessaram e ele sentiu um certo alívio por isto. Poderia, finalmente, seguir o seu caminho, não importava qual fosse o destino. Até então, ele ainda não sabia onde chegaria, onde a direção na qual andava o levaria, apenas SEGUIA.

Na última curva do S, viu algo muito brilhante surgindo por entre as montanhas. A paisagem pintou-se de um tom pastel agradabilíssimo e cada vez mais radiante. Ele já havia experimentado essa sensação antes. Estava apenas perdida na memória. Pouco a pouco o brilho foi aumentando e ele reconheceu que era o SOL. Rumou em sua direção. Ainda faltava um bom trecho a ser vencido, mas agora ele sabia para onde estava indo e tudo tomou um SIGNIFICADO diferente. Não dependia mais da estrada. Não dependia mais de companhia. Apenas sabia que deveria SEGUIR, SEMPRE! E SEGUIU.

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