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Jornalista paraibano, sertanejo que migrou para a capital em 1975. Começou a carreira  no final da década de 70 escrevendo no Jornal O Norte, depois O Momento e Correio da Paraíba. Trabalha da redação de comunicação do TJPB e mantém uma coluna aos domingos no jornal A União. Vive cercado de livros, filmes e discos. É casado com a chef Francis Córdula e pai de Vítor. E-mail: [email protected]

O menino de Dona Linda

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publicado em 04/01/2023 às 10h07
atualizado em 04/01/2023 às 07h43

Vi a mãe chorando e o menino calado. O menino ganhou e a mãe não fez o jogo. Isto depois, que sabemos fazer um a felicidade ilusória do outro, enquanto a vida não o faz melhor.

O menino fez o jogo, a mãe não fez. E nessas “senas” de passarmos de pessoas normais para pessoas sortudas, vamos aprendendo sobre jogar na vida, nas hipóteses absurdas, raras, e vamos afunilando os resultados atentos às vozes do menino.

Dinheiro? Pra que dinheiro? Se ela não me dá bola, é só uma canção besta de Martinho da Vila, que durante anos está na boca do povo, mas não paga as contas.

Vi na tevê Dona Linda Inês chorando, porque o filho Pedro Henrique tinha acertado os seis números da Sena, uma cena que não se repetirá e a mãe haverá de jogar mais e mais na incerteza de que um raio pode cair duas vezes no mesmo teto.

Essas divagações que aos miúdos servem como passamentos e já passou, e eu nem queria escrever sobre isso,  mas como nos parece que o vento trespassa a flor que sem se alterar logo se desfaz a dança da alegria no chão batido, quase que parece revolver-se no gozo. Não, não é bem assim.

O menino marcou os números e a mãe a distância num respiro, numa falta de tempo, no esquecimento e a vida inteira chega a ser apenas um modo de atar tudo e sustentar a palavra.

Os dias que interrompem a perda do jogo, no curso das coisas, desse gesto de quem largaria seu bando enquanto escuta uns disparates na sua cabeça, mas mãe é mãe.

Eufórico o repórter aprendiz entrevistando a mãe do menino e o menino também, que não teve tempo sequer de pensar na vitória,  antes que a mãe pudesse entender, e só depois, no ritmo do jogo, da força ao que se entrega a uma alegria de mudar de vida, descobre entre variações impetuosas, que não fez o jogo da vitória.

A vida segue igual as bobeiras das telenovelas, o sentido logo morre em debandada, com o absurdo e a agonia delirantes, pois, se ela tivesse feito o jogo do menino, não estaria ali dando entrevistas.

O coração em disparada despe-se do que poderia ter sido e não foi, das boiadas e boiadeiros, da canção de Geraldo Vandré

PS – Essa é a história de Linda Inês e Pedro Henrique, da cidade de Cajazeiras, no interior do nosso Estado.

Kapetadas

1 – Manter a calma é a melhor forma de manter a calma.

2 – Como não pensei nisso antes.

* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB

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