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Jornalista, cronista, diácono na Arquidiocese da Paraíba, integra o IHGP, a Academia Cabedelense de Letras e Artes Litorânea, API e União Brasileira de Escritores-Paraíba, tem vários publicados.

Professora Ângela, 80 anos  

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publicado em 05/10/2022 às 14h34

Professora Ângela, 80 anos  

 

A professora Ângela Bezerra de Castro chega aos 80 anos cercada dos que têm, na Paraíba, sensibilidade suficiente para compreender a importância do estudo da literatura e dedicação pelas letras.

Não tive o privilégio de ser seu aluno nos bancos universitários, mas carrego o prazer do aprendizado em suas conferências ou conversas amenas.  

Quando na adolescência, ela olhava para a Araruna de sua infância, que do alto emprestava a brisa fresca das noites de verão para o deleite das pessoas naquela região. Nunca esqueceu a Bananeiras no sopé da serra, de onde saiu quando criança de colo. Lugares que afeiçoaram seu modo de conhecer a vida nos padrões familiares conduzidos pelo avô, quando nos campos de sua terra, com pau-d’arco acenando ao largo, captou o gosto pela Natureza e o prazer da leitura.

Ainda na juventude, Ângela mostrou conhecimentos em salas de aulas, para onde levou o escritor paraibano, a partir do cronista de jornal, e com os alunos debatia os textos. Em todos os momentos, a estes mostrava nova aurora do saber e seus efeitos benéficos à vida.

Educadora de valores espirituais que a arte proporciona, sempre teve o livro como agente principal para o acesso ao saber, acenando ao infinito da leitura como novos caminhos.  

Cedo revelou-se nas descobertas literárias, evoluiu como professora, a exemplo de sua mãe. Descobriu novas palavras para expor seu pensamento, a palavra escrita sendo o ponto alto da criativa memória.

Com talento, curou a muitos da cegueira da ignorância, usando a palavra como principal meio de comunicação e de construção da liberdade de expressão.  

Vários dos que esculturam seus conceitos sobre o modo de ler saíram das trevas. Durante décadas, com o turíbulo do saber incensou mentes e corações, o que completava as obras iniciadas ou criava novas maneiras de olhar os livros. Foi, sim, tutora de novos talentos. Assim, os raios do seu conhecer se espalharam como raízes em terra fértil, floresceu como baronesas em lagos.

Para mim, é mais do que professora, como gosta de ser chamada. É a amiga pronta a atender minhas carências literárias e tirar minhas dúvidas sobre livros. Retiro da estante Um Certo Modo de Ler e enriqueço meus apontamentos sobre a importância da leitura, a maneira como penetrar nas entrelinhas do texto. Quem lê seu estudo sobre A Bagaceira, jamais voltará do mesmo modo à releitura deste emblemático livro de José Américo.

Criteriosa, ela é educadora perspicaz, uma grande mulher do pensamento e do coração bondoso, que há anos ensina os caminhos para a leitura, com indicações precisas para a composição da narrativa, seja a crônica, romance ou poesia. Cuidadosa, exige o bom uso da palavra, na fala espontânea, na composição da frase e do poema.

Suas indicações de leituras nos iluminam a noite escura e guia-nos pelos caminhos escorregadios da arte de escrever.

Modelo de consciência literária que conhece os artifícios da arte de escrever e o produto literário, aos carentes de conteúdo intelectual ela chega com fontes inesgotáveis de aprendizagem. Exemplar de cultura e de humanidade, nivela para o alto o bem-estar do corpo e da alma a partir da convivência com as artes e as leituras.

No que Ângela escreve, está a essência de Santo Tomaz de Aquino:

“O que está na palavra é o símbolo das paixões da alma e o que está escrito é o símbolo do que está na palavra”. Como revelou Alceu Amoroso Lima, “o livro e toda a palavra escrita é um elo necessário na sequência da expressão da alma”.

Agora, nas comemorações de seus 80 anos de idade, a paisagem da vida se reveste de nossos augúrios de desejos de bênçãos do tamanho de nossa admiração fraternal. Uma amizade sem reservas, pois Ângela é uma amiga a quem admiramos extraordinariamente, pelo seu talento, pelo seu oficio de ensinar e escrever.  

* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB

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