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Uma experiência traumática

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publicado em 13/06/2022 às 07h00
atualizado em 12/06/2022 às 15h13

Até onde minha memória alcança, o primeiro contato que tive com uma biblioteca foi traumático. Abro parênteses aqui para algo que acaba de me ocorrer: talvez esteja aí a explicação para não ser um frequentador assíduo de bibliotecas. Fecham-se os parênteses. Como dizia, foi na primeira biblioteca em que estive que ocorreu um dos fatos mais estranhos da minha vida. Ao derrubar uma prateleira inteira de livros da biblioteca do colégio de jardim de infância, a diretora disse a minha mãe que eu não era uma criança normal e fez o convite para que eu saísse da escola – eufemismo para expulsão – no meio do ano de 1971.

Nos anos de chumbo, qualquer desvio disciplinar deveria ser punido exemplarmente, mesmo que o autor de tal indisciplina fosse um menino de apenas quatro para cinco anos de idade. Ainda mais no bairro onde morava no Rio de Janeiro, altamente conservador, especialmente pela grande presença de militares entre seus moradores.

Apesar desse episódio marcante, minha relação com os livros não foi abalada. Talvez aqueles que foram derrubados não prestassem. Talvez, não sei. A presença de uma contadora de histórias em casa, minha mãe, e de um incentivador da leitura, meu pai, fez-me estar sempre de alguma forma em contato com livros, antes mesmo de aprender a ler, fora jornais e revistas.

Lembro-me de livros com a história do soldadinho de chumbo, outro de um boneco feito de bolas que não consigo me recordar o nome e que pertencia a um tio. Porém, foi na coleção “O Mundo da Criança”, cujos livros têm as capas com a sugestiva e perigosa (para os paranoicos) cor vermelha, que exercitei a imaginação e com ela rompi muitas de minhas limitações.

Lendo ou ouvindo minha mãe contar as histórias e cantar as músicas da coleção, eu viajava a todos os cantos do mundo sem sair do lugar. A coleção ficou para os meus filhos, já adultos, e quem sabe cheguem aos futuros netos. Acredito que estejam contidas nessas minhas histórias, a traumática e a do encantamento com o mundo dos livros, as explicações para a minha constante sede de questionar e criar.

“Jamais seria escritor se não fossem meus traumas de infância.” (José Saramago, único escritor de Língua Portuguesa ainda a hoje a conquistar o Prêmio Nobel de Literatura, em 1998)

Visite o blog Eduardo Lamas: www.eduardolamas.blogspot.com
E a página do autor e seus livros publicados: https://url.gratis/SFc37Q

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