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Paz

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publicado em 30/05/2022 às 07h00
atualizado em 29/05/2022 às 10h14

“A paz invadiu o meu coração, de repente me encheu de paz, como se o vento de um tufão arrancasse meus pés do chão, onde já não me enterro mais…”.

Como se fosse compenetrada oração, gostaria que se tornasse pleno e verdadeiro este verso da belíssima “A paz”, de Gilberto Gil. Em mim, em nós, todos nós. Num mundo em constantes guerras entre países, etnias, ideologias e tantas outras miudezas injustificáveis criadas pelo ser humano, desde fevereiro mais uma insana, como todas são, surgiu com essa invasão à Ucrânia ditada por Putin para mais jovens adestrados morrerem em vão. E lá se foi outra vez a Mãe Rússia a tomar, dominar e domar os filhos dos outros.

Não gostaria de fazer graça nesta hora de desgraça, mas literalmente “a coisa tá russa”. Meu meio sorriso ao me lembrar desta expressão me leva mentalmente a outra música, de Guilherme Arantes, lá dos longínquos anos 70, na voz de Elis: “pra variar, estamos em guerra, você não imagina a loucura, o ser humano está na maior fissura, por quê? Tá cada vez mais down no high society”.

E, como bem sabido, basta ter olhos pra ver, sérios conflitos não ocorrem só lá, do outro lado do mundo. Por aqui, seguimos há anos sem um dia de paz, com cada vez mais gente deitada nas ruas (não, não é o berço esplêndido citado no hino pátrio) e sob a ameaça de dias ainda mais turbulentos com as eleições que se aproximam.

Há quem sonhe há décadas com uma guerra civil, e eu só penso na paz e só peço por ela. Cada vez mais distante paz, que num instante se instaura em mim numa manhã ensolarada e amena deste outono. Será que apaziguei finalmente a guerra civil do meu ser, pergunto-me com certa avidez em silêncio. Não tenho certeza, provavelmente não, até pela avidez com que me indago, mas é o que almejo. Avidamente não a encontrarei, isto é certo. Só serenamente. Serenamente só.

Guerra é morte e pretendo fazer dela, esta aqui em meu ser, após longos anos de ruídos internos, um renascimento para viver em paz. Vida é paz. Saúde, serenidade e sabedoria é o que mais tenho pedido ultimamente a Deus. Mas, pensando bem, não é algo que se peça, é algo que se alcança, tendo, citando outra do Gil, “de aceitar a dor e comer o pão que o diabo amassou” pra no fim da estrada “encontrar nada, nada, nada, nada do que pensava encontrar”.

Paz aqui, é só buscar. Tão perto, tão longe; tão simples, tão complexo; tão plano, tão tortuoso caminho. Tem sido esta a minha busca diária. Alcançarei? Não sei. Por enquanto não sei, mas ao caminhar, mesmo que apenas no imaginar, no pensentir, já percebo algum lento, tênue, terno movimento de que “uma nova mudança em breve vai acontecer”, lembrando Belchior. E emendo, cantarolando, baixinho, sem qualquer voracidade, com a anasalada voz de Dylan: “The times, they are a-changi’n”.

Há muito, muito barulho lá fora, e silencio. Porém não clamo por longos silêncios, mas pela harmonia de sons, por sons harmoniosos, uma sonora harmonia aliada a pausas. Música intercalada a um breve silêncio, breves pausas da respiração, do fôlego a ser retomado para se construir a paz. A minha. Interior.

Lá fora, vejo pela janela do amanhã mais uma vez os homens se armando, em nome de um mestre. O ensinamento não era esse, o princípio do verbo era amar. Há sim os que entenderam. Sim, claro. No entanto, o que impera em seus enrijecidos e monolíticos corações é a Lei de Talião: “dente por dente, olho por olho”. Banguela e cega, assim se enterra e se incinera a Humanidade.

“Eu pensei em mim, eu pensei em ti, eu chorei por nós…”

Visite o blog Eduardo Lamas: eduardolamas.blogspot.com

E a página do autor com seus livros publicados: https://url.gratis/SFc37Q

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