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Poeta, escritor e professor da UFPB. Membro da Academia Paraibana de Letras. E-mail: [email protected]

Livros antigos

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publicado em 18/05/2022 às 07h00
atualizado em 18/05/2022 às 09h10

Um dos meus grandes prazeres de leitor é compulsar livros antigos, desses que ninguém lê mais, e que certos alfarrabistas, na fidelidade a hábitos que ninguém mais cultiva, guarda-os como pequeninos tesouros, valiosos e desconhecidos. Estes seres e estes livros são cada vez mais raros, sobretudo agora, nesta época dos instrumentos digitais, de refinadas tecnologias da informação e do misterioso e ubíquo ciberespaço.

Sábado passado, já no espaço real e livresco da Galeria Augusto dos Anjos (foto), sob a sugestão do bibliófilo José Fernandes de Andrade, vi-me a tocar as páginas do Novo Almanaque de Lembranças Luso-Brasileiro para o Ano de 1925, dirigido por O. Xavier Carneiro, e, segundo palavras da própria capa, “ornado de gravuras, enriquecido de matérias de utilidade pública, e com o retrato e a biografia do falecido escritor português Dr. Teófilo Braga”.

O mais curioso deste exemplar do século passado é que, entre as tantas seções de cobertura jornalística, serviços, artes, ciências e literatura, deparo-me com um paraibano de Alagoinha, esgrimindo as armas de uma versificação de índole romântica, ao lado de nomes fortes e consagrados, como Olavo Bilac, nosso parnasiano maior.

O poeta tem por nome Odilon Gomes de Andrade e comparece, ao estuário variado do velho Almanaque, com dois poemas, “Kidinho” e “Enigma”, ambos vazados no ritmo compassado e confessional de uma lírica em que o sentimento saudoso e afetivo bem se ajusta ao comportamento medido da métrica exigida pela velha tradição lusitana.

Não me lembro de ter visto este nome nos escritos dos que primeiro se preocuparam com as letras locais, a exemplo de Eudes Barros, Manuel Tavares Cavalcanti, João Lélis de Luna Freire, Eduardo Martins, Gemy Cândido e outros. Fico a me perguntar quais foram as vias de acesso que o anônimo letrado de Alagoinha teve de percorrer para ocupar tão distinta posição entre seus pares da poesia de Lisboa.

O que importa, na verdade, é verificar que, considerados os limites estéticos da vertente romântica que ainda fertilizava, em forma e fundo, o terreno da criação poética por essas bandas, Odilon Gomes de Andrade demonstra desenvoltura estilística na exploração dos temas e motivos que enformam sua visão sentimental do mundo.

Afirmo isto a partir tão somente da leitura dos dois textos referidos e do contato bibliográfico com o rico Almanaque português. Com certeza poderei consolidar meu ponto de vista ao me debruçar sobre os inéditos que meu amigo José Fernandes me doou num gesto generoso de sua gratuita sabedoria.

* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB

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