O quanto de amor e de horror repousaram nos solos desta terra, no fundo dos mares, impregnaram todos os ares? Quantos morreram de fome, dos mais diversos sofrimentos, quantos foram assassinados a sangue frio ou durante um sangrento duelo, horrorizados, surpreendidos ou lentamente pelas mãos de um carrasco? E quantos foram velados com admiração, respeito e amor por milhões, milhares, centenas, dezenas ou mesmo um único ser para seus corpos serem devorados por míseros seres que habitam o fundo da terra, da qual se nutrem e nutrem ou desnutrem?

Quantos elos trazemos do nosso mais longínquo passado, desde os primórdios da Humanidade, e quanto estamos fazendo ao longo desta vida, com outros seres, conhecidos e desconhecidos, e terras, e mares e ares habituais ou bem distantes? O quanto o ser humano já regou de sangue e horror a mesma terra onde semeou e colheu e se alimentou? O quanto regou com todo o melhor dos seus sentimentos? O quanto de esperança, fé e alegria já espargiu ao vento?

E quantas vezes mergulhou no oceano, num lago, num rio ou baía em plena felicidade, de peito aberto, num abraço apertado de paixão. O mesmo mar, com as águas que correm, movimentam-se para renovarem-se, porém tantas vezes recebendo em seu mais profundo leito os sedimentos da dor, da  guerra, da injustiça, da intolerância, da ignorância, da ganância, da violência, das doenças que também empestearam os ares e foram enterrados com corpos mutilados, despedaçados, por fora ou por dentro. Isso sem falar nos excrementos humanos jorrados a cada segundo em rios, lagos e mares. E também dos diversos pesticidas que são jogados em nossas plantações, solos.

É esta água, que evapora, sobe, precipita-se e volta, este ar por onde passa e carrega partículas invisíveis (foto) energias de tudo o que existe de invisível e visível, transmitindo e recepcionando, é deste solo onde nascem os ingredientes de nossos alimentos e os alimentos de nossos alimentos que ingerimos todos os dias.

É de mãos amorosas, indiferentes ou raivosas que são preparados os conteúdos de nossos pratos e nossos copos que nossos corpos se alimentarão ou se envenenarão. Diariamente.

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