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Paulo Galvão Júnior é economista, escritor, palestrante e professor de Economia e de Economia Brasileira no Uniesp

O desperdício de capital humano no Brasil

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publicado em 16/01/2022 às 10h07

Com a crise econômica e a pandemia da COVID-19 no Brasil, a geração “Nem-Nem” aumentou de 27,9% da sua faixa etária no terceiro trimestre de 2019 para 30,5% no segundo trimestre de 2021, segundo a Consultoria IDados. Para reduzir significativamente a população jovem fora do mercado de trabalho e das instituições educacionais públicas e privadas é fundamental fazer o País voltar a crescer economicamente forte.

O termo NEET originou-se na década de 1990, na Inglaterra, é um acrônimo para “Not in Education, Employment, or Training”, que globalmente faz referência a jovens de 15 a 29 anos de idade que não estudam e nem trabalham no seu próprio país.

Infelizmente, são 12,3 milhões de jovens sem estudo e sem trabalho, nos últimos oito trimestres consecutivos, nas cinco regiões do Brasil (IDADOS, 2022). A maioria dos jovens que não estudam nem trabalham são mulheres, negras e nordestinas e a população “Nem-Nem” no Brasil é superior aos atuais 11,5 milhões de habitantes da Bélgica. Ressaltamos que o Produto Interno Bruto (PIB) belga é de US$ 527,8 bilhões, o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) é de 0,931, o Índice de Gini é de 26,3 e o Índice de Capital Humano (ICH) é de 0,76.

O ICH do Banco Mundial (2021) “É medido em termos de produtividade da próxima geração de trabalhadores em relação ao referencial de educação completa e saúde integral”. Nos dias atuais, existem sérias dificuldades para um jovem conseguir um novo emprego no mercado de trabalho no Brasil. Os recém-formados à procura do primeiro emprego sofrem com a falta de trabalho formal para os jovens, que reduz o potencial de crescimento econômico e empobrece as famílias no País.

O Brasil não aproveita adequadamente seu valioso capital humano, apontou o relatório intitulado The Human Capital Index 2020 Update: Human Capital in the Time of COVID-19, do Banco Mundial. Entre 174 países, o Brasil ficou na 91ª posição do ICH, com 0,55 pontos, que mede numa escala de 0 a 1, com 1 significando que o potencial máximo de capital humano foi atingido.

Para o Banco Mundial (2021), “O capital humano – o conhecimento, as habilidades e a saúde que as pessoas acumulam ao longo de suas vidas – é um motor central do crescimento sustentável e da redução da pobreza. Mais capital humano está associado a maiores ganhos para as pessoas, maior renda para os países e coesão mais forte nas sociedades”. Cada nação desenvolve e cultiva o potencial de seu capital humano e o primeiro lugar do ICH no planeta foi Singapura, com 0,88 em 2020, ou seja, sua produtividade na força laboral será 88% do que poderia ser alcançado. Hong Kong e Japão encontram-se no 2º e no 3º lugares do ranking mundial, com 0,81 e 0,80, respectivamente (BANCO MUNDIAL, 2021).

O ICH tem como base três componentes que facilitam o uso da capacidade dos cidadãos e das cidadãs: sobrevivência (probabilidade de crianças sobrevivendo até 5 anos); educação (anos de escolaridade esperados e pontuação de testes harmonizados como o Programme for International Student Assessment – PISA); e saúde (crianças menores de 5 anos sem atraso de crescimento e taxa de sobrevivência dos adultos).

Os três países com piores ICHs em 2020 foram a República Centro-Africana (0,29), o Chade (0,30) e o Sudão do Sul (0,31), segundo o Banco Mundial, que adverte que o fechamento de escolas, faculdades e universidades, a evasão escolar e os impactos econômicos e sociais da COVID-19 afetarão de maneira duradoura o desenvolvimento da próxima geração de trabalhadores no mundo e no Brasil.

Para o economista Paulo Sandroni (2014, p. 116) o capital humano significa um “Conjunto dos investimentos destinados à formação educacional e profissional de determinada população”. A baixa média de anos de escolaridade (8,0 anos) em 2019 (PNUD) e a evasão de estudantes nas universidades privadas que alcançou cerca de 3,4 milhões de jovens em 2021 (SEMESP) revelam o desperdício de capital humano no Brasil. O capital humano é muito importante para o aumento da produtividade na economia brasileira, tão fundamental para o crescimento econômico.

Conforme o Banco Mundial (2021) “Medindo o capital humano que as crianças nascidas hoje podem esperar atingir aos 18 anos, o ICH destaca como os resultados atuais de saúde e educação moldam a produtividade da próxima geração de trabalhadores e ressalta a importância dos investimentos do governo e da sociedade no capital humano”. Quando uma empresa de capital estrangeiro pretende instalar sua filial no Brasil, ela avalia vários fatores para a tomada de decisão, entre eles, um dos mais importantes é o capital humano.

O capital humano é um recurso intangível utilizado na economia de mercado e por demais relevante nas empresas, porém, com a forte queda do faturamento e do lucro em várias empresas ocorrem o desemprego involuntário. A taxa de desemprego no Brasil é de 12,6% da população economicamente ativa (PEA) no terceiro trimestre de 2021, de acordo com a PNAD Contínua (IBGE, 2022), mas entre os jovens de 18 a 24 anos a taxa de desemprego é de 31,0% da PEA (IBGE, 2022).

Temos que encontrar um caminho que deve ser trilhado para agir de forma firme contra o desemprego alto, o crescimento econômico baixo, a produtividade baixa e a desigualdade econômica elevada no Brasil. A pandemia da COVID-19 e a crise econômica aumentaram significativamente o percentual de endividamento das famílias brasileiras, que cresceu de 66,5% em outubro de 2020 para 74,6% em outubro de 2021 (CNC), com sérias consequências no comportamento do consumo das famílias.

Precisamos de ideias globais para necessidades locais e de novos líderes para retomada do crescimento econômico inclusivo e sustentável no Brasil, um país de economia de renda média alta e já sofrendo os impactos da terceira onda da COVID-19 decorrente do avanço da variante Ômicron, como também, da epidemia de influenza H3N2.

Infelizmente, 12,3 milhões de jovens não estudam e nem trabalham, desperdiçando suas habilidades e seus conhecimentos. Portanto, jovens olhem para o empreendedorismo, precisamos de mais empreendedores jovens no Brasil. Segundo o empresário Abilio Diniz (2014), “O futuro está nas mãos do jovem empreendedor”, e posteriormente, ele enfatizou, “Você tem de estar disposto a aprender e a usar esse aprendizado naquilo que você faz” (DINIZ, 2021). A busca por conhecimento é diária e iniciar um novo negócio nesses tempos difíceis requer coragem, disciplina, pensar em inovação, novas ideias para arriscar um novo produto ou serviço, conquistar a fatia de mercado em plena Indústria 4.0, e sobretudo, trabalho duro e sério.

Enfim, jovens de hoje, o sonho é o seu maior aliado e acreditar em si mesmo é essencial para alcançar o seu sonho, porque “Forte é aquele que não desiste dos seus sonhos, mesmo com tantas dificuldades no caminho”.

* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB

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