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Clara Velloso Borges é escritora, professora de literatura e mestranda em Estudos Literários pela Universidade Federal de Minas Gerais. E-mail: [email protected]  

De volta a Hogwarts

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publicado em 07/01/2022 às 07h41

No dia 1º de janeiro, a plataforma HBO MAX disponibilizou um especial com atores e colaboradores da saga Harry Potter, em comemoração aos 20 anos do primeiro filme. Com muita nostalgia e afeto pelo universo mágico, a equipe envolvida contou histórias cômicas, rememorou causos de bastidores e demonstrou gratidão pela experiência vivida entre os muros de Hogwarts.

A saga Harry Potter foi a porta de entrada da leitura para mais de uma geração. Até importantes pensadores se renderam à magia: Tzvetan Todorov, historiador e ensaísta, defende o encorajamento da leitura por todos os meios, até os que o crítico convencional considera com condescendência, como Harry Potter. O bruxo não apenas levou o hábito da leitura a milhões de adolescentes, como sobretudo lhes possibilitou a construção de uma primeira imagem coerente de mundo, que as leituras posteriores se encarregarão de tornar mais complexas.

Embora tenha fomentado um hábito nobre em muitos jovens, nos últimos anos, a escritora por trás de Harry Potter, J. K. Rowling, construiu uma imagem negativa de si. Após algumas acusações de transfobia, Rowling é tão polêmica que tentam afastá-la do universo Harry Potter – o próprio especial da HBO MAX tenta devencilhá-la ao máximo da franquia. É um exercício difícil, já que as obras não são puras e sofrem influências de seus autores.

Assim, a cultura do cancelamento, ou seja, o ostracismo de pessoas com comportamentos questionáveis, levanta uma discussão: é possível ter acesso apenas a objetos culturais de autoria politicamente correta? Sem dúvida, alguns veículos se posicionam contra quem comete atos intoleráveis. Há rádios na Austrália que não tocam mais músicas de Michael Jackson, depois de novas acusações de pedofilia. O ator Kevin Spacey, devido a acusações de assédio sexual, foi demitido da série que protagonizava. Todavia, não dá para apagar a grandiosidade das obras cuja realização teve influência de Jackson e Spacey.

Nesse sentido, Nicole Maines, atriz transgênero, posicionou-se contra as falas de Rowling, mas a favor da saga Harry Potter. Segundo a atriz, os livros, suas mensagens e as memórias afetivas ligadas a eles existem. Então, o comportamento da autora não pode apagar a importância de Potter.

A luta contra a opressão de minorias não dura um só dia, como durou a batalha de Hogwarts. Consiste em batalhas diárias, que deveriam contar com aliados que tanto pregaram a empatia em suas obras, como a própria J. K. Rowling.

* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB

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