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Professora Emérita da UFPB e membro da Academia Feminina de Letras e Artes da Paraíba (AFLAP]. E-mail: [email protected]

Ela foi e voltou

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publicado em 01/12/2021 às 12h20

​​Após a aula de hidroginástica ficamos para comemorar o aniversário de um colega, quando de repente adentrou aquela senhora alta, loira, bonita, como se estivesse procurando alguém. A professora Mônica aproximou-se e perguntou: “Alguma coisa está procurando? Eu posso ser útil? Respondeu: “Vim buscar meu filho que está na aula de musculação.” Já estava encerrando a comemoração e cada um foi indo embora. Ela iniciou uma conversa.

Desejava informações sobre as aulas na Academia, pois gostaria de frequentá-la. Sentadas, Eduarda pegou no braço de Mônica e disse: “Você está muito tensa. Vou ali no carro e trago minha maleta para prestar-lhe uma assistência.” Ao voltar revelou que era médica especialista em ginecologia, mas após ter sofrido um acidente de carro que a fez submeter-se a três cirurgias na cabeça e permanecer três meses em coma. Passou a praticar a medicina alternativa, o que já fazia antes, mas sem muita intensidade. Hoje executa a terapia complementar aos tratamentos convencionais como acupuntura, chamados de medicina alternativa ou Medicina Tradicional Chinesa (MTC). Tem curso de especialização embasado no Taoismo que é uma “tradição espiritual que propõe o retorno do homem a um estado de consciência e vida plena. Utiliza a metodologia terapêutica através de procedimentos como ventosas, ervas, estimulação a laser, entre outros.” Contou um pouco de sua história.

​Coma, deriva da palavra grega “koma” que significa “sono profundo”. É um período de inconsciência causado por doença ou lesão, em que alguma parte do cérebro fica danificada, seja de forma permanente ou temporária,fazendo com que a pessoa não permaneça acordada e nem responda a estímulos como dor, luzes e sons. Ela está viva, mas não consegue pensar ou falar, enquanto outras funções continuam funcionando normalmente.

Há o comprometimento do sistema ativador reticular responsável pelo controle da consciência e leva a pessoa ao estado vegetativo, não respondendo a nenhum estímulo interno. Este acontecimento mudou sua vida completamente. Deixou de exercer a especialidade em ginecologia. Não dava mais.Passou, então, a desenvolver a medicina alternativa que é um ramo da medicina tradicional chinesa. As teorias e práticas são declarados como Patrimônio Cultural Intangível da Humanidade, isto pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura, em 19 de novembro de 2010.

​Eduarda exercia plenamente suas atividades de médica ginecologista. Além de atuar em hospitais possuía consultório particular com uma clientela considerável. É casada, tem dois filhos, um advogado e outro adolescente de 16 anos. Concursada, exercia a medicina em um hospital do Estado e numa cidade do interior, cujo contrato a levava ao trabalho duas vezes por semana. Em uma dessas viagens, Eduarda, numa curva, foi jogada fora da estrada após o carro ter batido em um caminhão, capotado várias vezes. Com o impacto sofreu traumatismo craniano.Socorrida sem a presteza devida, que o caso requeria, submeteu-se a três cirurgias e isso a levou ao estado de coma por três meses. Um dia seu filho estava com ela no hospital quando sentiu que abriu os olhos com expressão de espanto como indagasse: “Onde estou? O que faço aqui?

Sua memória passada foi completamente apagada. Não se recordava de nada. Ele percebeu que a mãe estava despertando de seu sono profundo, vindo a sentir as coisas que estavam ao seu entorno. Esse estágio foi progredindo e aos poucos Eduarda voltou a normalidade sem, no entanto, lembrar o que ficou para traz. Isto levou dois anos para chegar ao estágio em que se encontra hoje. Foi aposentada e deixou de clinicar.

​Atualmente, está bem e com as funções plenas.Exerce a MTC de forma avulsa sem ter consultório. Onde chega e encontra pessoas, diz ter um sentido sensitivo que a faz vislumbrar e identificar nos indivíduos problemas físicos, espirituais e sentimentais, os quais levam à ansiedade e à doença. Nesse contexto propõe-se a dar assistência através das práticas da MTC, em especial a acupuntura, que envolve: aromaterapia, auricolaterapia, estética, fisioterapia, mochas etc.

Eduarda nessa nova fase apresenta-se como pessoa extremamente caridosa, prestativa, sempre desejosa de fazer o bem e se doar, causando admiração aos que a conhecem e testemunham que sua assistência é eficiente. Fala: “Faço tudo isso com muito amor e prazer, há algo em mim que me impulsiona e me dirige a agir assim.” As pessoas que estavam naquela ocasião na academia e receberam a assistência de Eduarda afirmam que seus incômodos desapareceram e que sua maneira encantou a todos. Dirige seu carro, frequenta amanicure, salão de beleza, Shopping etc. Leva uma vida como qualquer pessoa. Por sua maneira de ser e de agir os familiares sentem-se constrangidos e às vezes a impedem de frequentar locais como a academia de ginástica etc. A tolhem de exercer a MTC.

​Como se constata, parece que o coma tornou Eduarda purificada, assumiu uma postura mística, religiosa, contemplativa e espiritual, com atenção e devoção para ocoletivo, acolhendo a todos sem descriminar, entusiasta dos valores intrínsecos ao ser humano onde o sentimento do amor prevalece. Ela foi em outra dimensão e voltou,para o que não há explicações plausíveis.

* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB

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