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Professora Emérita da UFPB e membro da Academia Feminina de Letras e Artes da Paraíba (AFLAP]. E-mail: [email protected]

A dimensão humana da profissão

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publicado em 22/10/2021 às 07h28
atualizado em 22/10/2021 às 07h07

O outubro rosa é uma campanha realizada mundialmente com o propósito de alertar a sociedade sobre o diagnóstico precoce do câncer de mama. Criada em 1990 pela Fundação Susan G. Komem, visa prevenir e reduzir a mortalidade dessa doença. No Brasil, segundo indicam o Ministério da Saúde e o Instituto Nacional do Câncer (MS/INCA), em 2019, causou 18.068 óbitos correspondendo no obituário geral a 16,4%. São indicadores estatísticos preocupantes.

O câncer de mama é mais incidente em mulheres no mundo, com aproximadamente 2,3 milhões de casos novos estimados em 2020. Em 2021, estima-se que ocorrerão 66.280 casos novos da doença (INCA, 2020). É um tumor de natureza maligna causada pela multiplicação desordenada de células anormais com potencial de invadir outros órgãos. Existem vários tipos uns mais agressivos que outros. Acomete em menor número os homens e a maioria nas mulheres após 50 anos. Os serviços públicos possuem equipamentos e dispõem de profissionais dispostos a promover as orientações e os procedimentos preventivos.

Júlia tem uma tia que descobriu há um mês que estava com câncer de mama. Foi fazer exames de rotina e nos resultados descobriu um tumor cancerígeno. Vivia no interior do Brejo paraibano e nunca se preocupou em fazer prevenção, ir ao médico e muito menos ter um plano de saúde. Acreditava que sempre o SUS (Sistema Único de Saúde) era capaz de resolver todos os seus problemas, caso ela ficasse doente; infelizmente não é assim que acontece. Veio passar uns dias com a irmã em João Pessoa e a sobrinha, educadora física, a apreciou trocando de roupa e percebeu que alguma coisa estranha estava acontecendo em sua mama direita. Seu mamilo estava invertido. Sua sobrinha Júlia perguntou: “Tia a senhora sente alguma coisa diferente nessa mama direita? Rita respondeu: “Sinto. Às vezes eu tenho uma dorzinha e noto o mamilo voltado para dentro, como se alguma coisa estivesse puxando. Mas não é coisa que me incomode, por isso eu nunca falei”. Disse Júlia: “vamos à minha médica mastologista para ela examinar e dizer alguma coisa”. A médica examinou e não deu outra. Passou uma série de exames e os resultados constataram a doença e lhe foi dito para tomar providências rápidas afim de evitar sua expansão.

A família de Júlia era muito humilde e os parentes mais próximos se reuniram para agilizar o tratamento. Todos ficaram preocupados, pois tratava-se de pessoa muito querida, participou da criação dos sobrinhos e esses queriam ajudá-la de alguma maneira, mas também não tinham condições. Alguns exames mais rápidos teriam que ser realizados na rede particular. E na caminhada para resolver o tratamento frequentando o ambulatório do SUS, sempre acompanhada pela sobrinha, a espera era grande, havia muita gente na fila com prioridade de tratamento e com situação idêntica à de Júlia, sem possibilidade de adiantar como recomendou a mastologista. Na sala de espera com outras pessoas que também tinham idêntica situação, conversa vai e vem foi informada que tinha uma médica que atendia numa clínica particular no Cariri e que era como um anjo, resolvia tudo com bastante rapidez.

Rita ficou sabendo dessa possibilidade, marcou a consulta e pôde ser atendida com duas semanas. Viajou com Júlia ao Cariri para fazer a consulta tão desejada. Chegando lá uma multidão esperava a médica Dra. Maria Célia. Ficou admirada pois naquela espera observou que as pacientes umas traziam galinhas, bodes, carneiros, outras, sacos de feijão, todas queriam presenteá-la. Elas falavam: “É uma maneira de demonstrar nossa gratidão por pessoa tão boa, desprendida e generosa”. A médica chegou e foi aquele alvoroço, muitos cumprimentos e ela acolhendo a todas pelo nome e com alegria contagiante. Relutava em receber os presentes, por entender que era de sua obrigação o comprometimento profissional com suas pacientes. Fazia tudo por amor. Diante do contexto e do clima existente a expectativa de Rita e Júlia era grande em conhecer a médica. É chegada a hora, levavam consigo vários exames feitos em João Pessoa para ir adiantando o diagnóstico e os procedimentos que deveriam vir para o futuro.

A doutora as atendeu muito bem e confirmou o que já havia dito a mastologista: “é um caso de câncer e o tumor já está no estágio avançado, necessita uma cirurgia, mas antes tem que fazer um tratamento a fim de reduzi-lo. O que as deixou muito apreensivas, mas, ao mesmo tempo que falava assim, as ia deixando tranquilas e que tudo seria resolvido. Na semana seguinte iniciaria o tratamento quimioterápico no Hospital Laureano. A médica procurou facilitar os procedimentos dando as guias e as receitas, orientando onde pegava os medicamentos, o que durou seis meses. Logo após voltou à mastologista para avaliação do tratamento e as condições da mama, que constatou redução significativa sendo encaminhada para cirurgia. Rita ficou curiosa para saber se atendia pela UNIMED ou se tinha algum convenio? Soube que não tem nenhum convênio, atua particular somente nessa clínica no Cariri onde o preço da consulta é de 60 reais, atendendo caritativamente no ambulatório do SUS e no Laureano. No dia 16 do mês de outubro de 2021 Júlia submeteu-se a cirurgia da mastectomia no Hospital Edson Ramalho, saindo-se muito bem. Encontra-se em plena recuperação.

Rita, que acompanhou a tia durante todo o tratamento até a cirurgia, observa que a atuação diferenciada da Dra. Maria Célia com seus pacientes, revelando dedicação, prestimosidade, amor e intimidade, que as deixam à vontade para dizer o que pensam e sentem. É o seu jeito, sua maneira de vestir, falar, tratar com simplicidade que a faz criar laços de amizade. É surpreendente o seu despojamento perante o compromisso profissional com o paciente.

Não há pressa no labutar em sua causa. A aproximação entre o médico, que é o condutor do processo terapêutico, e a cliente, como voz passiva que tem que ouvi-lo e cumprir as orientações, permite e instiga o diálogo que a ajuda esclarecer dúvidas, ao mesmo tempo entender que é responsável também pelo seu completo restabelecimento. Nessa relação mais amiga o profissional consegue amenizar o sofrimento, fazer felizes as pacientes, que encontram nela um lenitivo para renovar a vontade de viver. Rita, então, compreendeu aquele primeiro momento da chegada à clínica do interior, levando sua tia, e as falas daquelas mulheres que recebiam sua assistência. Esta profissional nos comoveu e fez enxergarmos a nobre missão de assistir àqueles que em condições normais não precisariam de seus cuidados o que a torna insubstituível.

É a dimensão humana sobrepujando a dimensão técnica. Salve o dia 18 de outubro! dia do médico! Dra. Maria Célia merece essa homenagem. Parabéns pelo seu dia!

* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB

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