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Entrevista MaisPB

Clássicos de Edith Piaf ganham versões no chorinho e forró

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publicado em 12/06/2021 às 12h02
atualizado em 12/06/2021 às 11h30

Kubitschek Pinheiro MaisPB

Fotos – Gabriela Perez

O cantor e compositor francês Nicola Són está lançado seu quarto disco, “Piaf do Brasil”, via gravadora Biscoito Fino. Ele traz sonoridades, cor e tempero brasileiros para o maior ícone da música francesa, Edith Piaf. Nicola convocou Daniel Montes, violonista e arranjador do grupo Casuarina, para ajudá-lo a trazer as canções eternizadas na voz de Piaf para o nosso universo musical.

A novidade é o resultado com as batidas do funk carioca para “Padam Padam”, um chorinho para “Non, Je ne Regrette Rien”, e uma balada latina para “La Vie enRose”. E muito mais “La Foule”, “Cri du Coeur (feat Iuna Tuane)”, “Sous le Cielde Paris”, “Les Mots d’Amour”, “Milord”, “Mon Manège à moi”,

Desde os 15 anos que Nicola tem esse amor pela música brasileira, quando ouviu a canção “Lígia” (Tom Jobim) interpretada por João Gilberto. Nicola encontrou uma coletânea de jazz na discoteca de seus pais e nela havia a música de Tom Jobim, o que resultou em uma admiração imediata.

Em 2013, Nicola trocou Paris por São Paulo e ao viajar pelo Brasil conheceu e se apaixonou por outros ritmos, como o forró e a música do nordeste. A ideia de gravar um disco com canções nas versões de Edith Piaf surgiu de sua parceria com Igor Ribeiro,quando trabalhavam em outro projeto: Afinal, como seria a Piaf Brasileira?

Sob a direção de Daniel Montes, o álbum conta com as participações da cantora Iuna Tuane e do Casuarina. Tocam no disco: Daniel Montes, Nelson Freitas, Luiz Augusto, Carlos Malta, Diego Lisboa,Fabricio Reis, João Fernando, Rafael Freire, Nelson Freitas, Carlos Mendes, Ricardo Amado, José Ricardo, Cláudia Grosso, Rodrigo Reveles, Renata Neves e Fabricio Reis.

Nicola lança discos com temática brasileira desde 2011 – “Parioca”, “Nordestin” e “Sampathique” -, mas foi com “Piaf Do Brasil” que solidificou sua parceria com Daniel Montes, do Casuarina.

Um pouco de Casuarina

Em 2001, alguns meninos de cerca de 20 anos se reuniram no bairro do Humaitá, no Rio de Janeiro, para tocar junto. A rua Casuarina, onde ficava a casa em que eles ensaiavam, acabou dando nome ao grupo que, mais tarde, levaria o samba a várias partes do planeta. Formado por Daniel Montes (violão de 7 cordas), Gabriel Azevedo (pandeiro e voz), João Cavalcanti, João Fernando (bandolim e vocais) e Rafael Freire(cavaquinho e vocais), o Casuarina começou a ocupar a então deserta Lapa para mostrar, em bares de pequeno porte, a música que faziam.

Um pouco de Edith Piaf

Edith Piaf (1915-1963) foi uma cantora francesa, considerada uma das maiores personalidades do cenário musical da França, por sua grande contribuição à música daquele país.

Piaf, nome artístico de Edith Giovanna Gassion, nasceu no distrito de Belleville, em Paris, França, no dia 19 de dezembro de 1915.Filha de um acrobata e de uma cantora de cabarés teve uma infância difícil e solitária. Foi criada pela avó materna, mas depois de maus-tratos, foi entregue à avó paterna, que dirigia um bordel na Normandia.
Em 1935, cantando nas ruas de Pigalle, foi descoberta por Louis Leplée, que a levou para cantar no cabaré de sua propriedade, o Le Gerny’s. Com ele, aprendeu as técnicas de apresentação no palco, recebeu orientação no uso do figurino preto e foi apelidada de “La Môme Piaf” (pequeno pardal).

Em entrevista ao MaisPB, Nicola Són que atualmente está residindo em Paris, conta bem mais sobre “Piaf do Brasil”, e mostra sobretudo porque várias vezes trocou Paris pelo Brasil, um país que lhe deu palcos e sucessos e hoje encontra atolado numa pandemia sem fim

MaisPB – Esse disco, “Piaf do Brasil”, é fruto dessa pandemia?
Nicola Són – Foi gravado em dois momentos, em setembro de 2018 a gente fez quase a metade do disco e em janeiro de 2019, no Rio de Janeiro, em três estúdios, principalmente na Biscoito Fino.

MaisPB- Como foi a seleção das canções, já que o universo de Piaf é imenso?
Nicola Són – Bom, na verdade, o repertório de Piaf é grande, mas os grandes sucessos são esses, que são conhecidos no mundo inteiro. Não foi tão difícil. A gente teve dúvidas sobre algumas canções como“À quoi ça sert l’amour” e “Hymne a l’Amour”, (gravado por Maysa no LP “É Maysa”, sexto álbum de estúdio gravado pela cantora lançado em 1959), que é uma adaptação em português de uma cantora famosa brasileira. O que as pessoas não sabem é que o disco é duplo, onde canto em francês e o outro de adaptações dessas canções em português. A ideia primária do disco era fazer só adaptações.

MaisPB – Então, a ideia de cantar em francês, veio depois?
Nicola Són – Sim a ideia veio do Daniel Montes,ele disse que seria bom e a gente fez duas vezes as gravações de vozes. Isso tinha uma ou duas músicas que a gente fez a adaptações, mas nunca recebemos a autorização dos editores e desistimos

MaisPB– Você convidou Daniel Montes, da Banda Casuarina. Como se deu a transformação dos arranjos?
Nicola Són – Bom, o Daniel é um amigo de longas datas, a gente se conhece desde 2009, foi num carnaval em Olinda. Já tínhamos trabalhado em duas músicas juntas, isoladas, que eu gravei com Casuarina, no meu segundo disco “Nordestin”, outra que se chama “Desemparados”, que está no meu EP de 2018, que ele fez também os arranjos. Na verdade, eu mandei as letras das adaptações, mandei voz e violões e a gente conversou e conseguimos achar uma linha para se acordar e ficar juntos na ideia que a gente tinha dessas músicas. Mas a maioria foi ideia do Daniel, uma sacada de colocar nesses ritmos e com esses arranjos. Eu gostei muito da presença dele no meu disco.

MaisPB – De onde vem esse amor pela música brasileira?
Nicola Són – Sempre a mesma história que eu conto. Eu encontrei a Bossa Nova quando era adolescente, guardei um pouco num cantinho da minha cabeça e através de uma viagem inicial no Brasil em 2003, aos 23 anos, eu conheci melhor a Bossa Nova, o samba, os ritmos do Nordeste e toda variedade de ritmos brasileiros.

MaisPB – Você trocou Paris pelo Brasil?
Nicola Són – Sim, várias vezes. Durante os meus vinte anos, eu fiz várias idas e voltas pro Brasil, quando eu era estudante, jovem trabalhador e tinha tempo para passar temporada no Brasil. Eu tinha um visto de turista e não podia ficar muito mais tempo. E foi assim a minha iniciação a cultura brasileira, a língua portuguesa. Por isso, em 2012 eu me mudei e fiquei cinco meses para gravar o disco “Nordestin” E na volta em 2012 eu comecei a organizar uma residência dessa vez em São Paulo e fiquei até 2018. Agora estou morando em Paris de novo.

MaisPB – A canção “Cri Du Coeur”, você canta com Iuna Tuane. Vamos falar dessa descoberta?
Nicola Són – Sim, essa história é bem engraçada, no decorrer de 2019, eu recebi uma mensagem dela, que conhecia meu trabalho, que queria encontrar comigo. Ela queria me mostrar o trabalho dela e eu sempre recebo bem as pessoas que gostam do trabalho também as parcerias. Eu gostei muito dela, cantando uma versão de “Eu sei que vou te amar” em francês e achei delicioso, o timbre, a interpretação dela e o sotaque também. Aí aconteceu, não tinha nenhum duo previsto no disco, e veio a ideia e ela aceitou. Ficou muito bonito. Eu nunca a vi fisicamente. Ela é uma cantora de Araraquara.

MaisPB – A canção “Non, Je ne Regrette Rien”,você canta com Gabriel Azevedo (vocalista de Casuarina), numa versão bem diferente da própria Piaf, e das cantoras brasileiras, Maria Bethânia e Cássia Eller. Vamos falar dessa inovação?
Nicola Són – Ela é bem diferente sim, das versões de Piaf, de Maria Bethânia e da Cássia Eller. Na verdade, como é uma parceria com a banda Casuarina, e eles tem a orquestração de chorinho, com bandolim, ficou diferente. A ideia de fazer dessa canção em chorinho veio rapidamente e logo entendemos que daria certo. Essa ideia veio do Daniel. Com Certeza é uma música totalmente inédita tocada dessa maneira, mas combina super bem com o chorinho, com essa melodia lenta, de frases lentas.

MaisPB – Vamos falar de seus discos iniciais -“Parioca”, “Nordestin” e “Sampathique” ?
Nicola Són – É uma trilogia, bem diferente um do outro principalmente desse disco da Piafe. “Parioca”, se concentra no samba, músicas do Rio de Janeiro. “Nordestin” é bem focado nos ritmos nordestinos e “Sampathique”, é música urbana, músicas modernas, o som dos anos 80 e canções de São Paulo com arranjos de Paulo Lepetit que trabalhou muito tempo com Itamar Assumpção, e tem esse som bem específico de São Paulo.

MaisPB- Não pensa em gravar um disco com o swing de Henri Salvador?
Nicola Són – Não. Eu tenho várias ideias de fazer releituras de artistas que eu gosto, de Chico Buarque, Jorge Ben Jor, Charles Aznavour. Henri tem algumas músicas super boas. Lembro que Caetano (Veloso) gravou uma música dele, “Dans Mon Île”.

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