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Antônio Colaço Martins Filho é chanceler do Centro Universitário Fametro – UNIFAMETRO (CE). Diretor Executivo de Ensino do Centro Universitário UNIESP (PB). Doutor em Ciências Jurídicas Gerais pela Universidade do Minho – UMINHO (Portugal), Mestre em Ciências Jurídico-Filosóficas pela Faculdade de Direito da Universidade do Porto (Portugal), Graduado em Direito pela Universidade Federal do Ceará. Autor das obras: “Da Comissão Nacional da Verdade: incidências epistemiológicas”; “Direitos Sociais: uma década de justiciabilidade no STF”. E-mail: [email protected]

Cultura da Gestão Universitária e Inovação

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publicado em 24/05/2021 às 17h20
atualizado em 24/05/2021 às 14h21

José Salibi Neto e Sandro Magaldi (foto), na obra “O novo código da cultura”, indicam que a cultura de resultados é muito eficaz para orientar todos os setores da empresa em torno dos seus objetivos e metas. Contudo, essa cultura, pelo foco que impõe, tende a privilegiar atividades cujas perspectivas de gerar resultados sejam mais promissoras e repelir iniciativas cujos resultados sejam incertos e imprevisíveis.

Por outro lado, as empresas mais bem-sucedidas da economia digital são aquelas que fazem uso das novas tecnologias para criar novos serviços. Como resultado da implementação dessas tecnologias, temos uma economia caracterizada por ubiquidade de dados, conexão ilimitada e capacidade quase ilimitada de processamento de dados.

Nesse contexto, ter uma cultura voltada exclusivamente à entrega de resultados faz com que muitas empresas deixem de repensar seus produtos e serviços a partir das novas tecnologias. Essas empresas continuarão altamente eficazes naquilo que atualmente produzem. Porém, terão mais dificuldades em elaborar novos produtos e serviços amparados em tecnologias como redes sociais, tecnologias móveis, analytics, nuvem, internet das coisas, entre outras.

Na visão dos precitados autores, o cenário acima esboçado impele as organizações a adotarem cultura mais aberta ao constante aprendizado. Essa cultura, na lição de Eric Ries, preconiza que o aprendizado ocorre a partir das interações dos clientes com os produtos e funcionalidades a ele apresentados (BUILD-MEASURE-LEARN), em um ciclo constante.

No âmbito da educação superior particular, as instituições que cultivam a cultura de resultados tendem a concentrar sua energia em torno de metas como: aumento do faturamento, diminuição da evasão, aumento do número de alunos, diminuição do custo, aumento da margem de contribuição dos cursos etc. O foco nos resultados acima referidos as torna eficazes na consecução dos mesmos. Contudo, levada ao extremo em todos os âmbitos da instituição, essa visão desfavorece a criação de novos serviços educacionais.

Alguns obstáculos dificultam a adoção da cultura de inovação nas instituições de educação superior da livre iniciativa. Um deles diz respeito à visão do cliente (aluno) como um ser passivo no processo de desenho de serviços educacionais. Segundo essa visão, caberia ao estudante, quando muito, participar ativamente de dinâmicas educacionais pré-concebidas por professores. O universitário não é visto, na maioria das instituições, como ator educacional capaz de criar experiências educacionais em conjunto com os experts da área.

Outro de tantos desafios que se impõem à transformação digital no ensino superior particular consiste na estrutura organizacional das faculdades. Por exigência da legislação educacional (Parecer CNE/CES nº 282/2002) e por influência da estrutura das universidades públicas, as faculdades costumam adotar estruturas organizacionais hierarquizadas e divididas em departamentos. A hierarquização desfavorece a autonomia dos membros dos corpos docente e técnico-administrativo que atuam mais próximos aos estudantes. A segmentação institucional em silos, por sua vez, tende a tornar os processos mais burocráticos e ineficientes. A necessária objetividade deste veículo nos priva de registrar outros aspectos presentes na maioria das instituições de ensino superior particulares que dificultam o estabelecimento de uma cultura de aprendizagem.

De mais a mais, não me parece defensável o total abandono da cultura de resultados, ainda incipiente em tantas faculdades. Entendo que setores empenhados em atividades que demandam estabilidade, continuidade e segurança (p. ex. cálculo e pagamento de tributos, elaboração da folha de pagamento, manutenção de equipamentos etc) podem adotar a cultura de resultados de forma predominante. Por outro lado, equipes responsáveis pela criação de novos serviços educacionais seriam sobejamente beneficiadas pela predominância da cultura de aprendizagem.

Em conclusão, a cultura organizacional centrada em resultados não favorece a criação de serviços educacionais inovadores. De forma geral, a cultura da aprendizagem se revela mais apropriada para a constante adaptação institucional às demandas sociais. Alguns obstáculos peculiares ao setor do ensino superior dificultam a adoção da cultura de aprendizagem. Faz-se necessário abordar cada um deles para que a mudança cultural seja exitosa. Por fim, é imperioso refletir acerca da coerência entre a cultura predominante e aquilo que se espera do setor.

* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB

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