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Médico. Psicoterapeuta. Doutor em Psiquiatria e Diretor do Centro de Ciências Médicas da Universidade Federal da Paraíba. Contato: [email protected]

Em busca da felicidade

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publicado em 23/03/2021 às 06h52

Vou lhe fazer uma pergunta: a felicidade existe? Essa é muito comum. Vou lhe perguntar outra coisa: – Dinheiro traz felicidade? A primeira, vou responder logo: Existe, sim. E pode ser medida. Claro que não há um índice de felicidade. Avalia-se verificando a Qualidade de vida (QV) de uma comunidade.
Vou explicar. A expressão QV tem muitos significados, desde conceitos populares, que se usa muito com relação a sentimentos, relações pessoais e até em propagandas de mídia, algumas prometendo coisas ou objetos que te trarão QV. Candidatos também falam, mas nem escute. Oura balela! Há, também, uma perspectiva mais científica, com significados que podem variar.
A felicidade seria o Bem-estar percebido de forma global. E aí que entra a outra vertente, porque várias pessoas terão distintas percepções de bem-estar, de acordo com sua QV. Num vídeo que minha amiga Gorete Leitão me mandou, o rapaz explica que a QV não se refere ao que você tem. Diz ele: – isso é “nível de vida” (NV). NV é se você tem um milhão de dólares. Suponhamos que você teria um bom nível. Porém a QV é se desfrutas do que tens. Então, já posso responder à segunda pergunta, com as quais iniciei o texto: – dinheiro traz nível de vida!
Para analisar o índice de bem-estar global de uma pessoa, é preciso levar em consideração vários aspectos. Como todos sabem, vivemos em duas dimensões: o que eu sou, e o que eu gostaria de ser. Isso, considerando alguns domínios que sintetizam nossa vida. O físico, psicológico, relações sociais, meio ambiente. Esses quatro, se quisermos fazer de forma breve. Aí podem ser acrescentados muitos outros, como produtividade, ocupação, situação financeira, entre outros tantos.
Para ter QV, é preciso que eu esteja bem fisicamente, psicologicamente, que tenha boas relações sociais e que o meio ambiente esteja a meu favor. Mas vou botar um pequeno complicador nisso: não é se eu tenho uma boa condição, é se há uma congruência entre a minha realidade vivencial (minha condição) e minhas expectativas ( as condições que sonho ter). Se minhas expectativas estiverem bem acima do que realmente sou, minha QV, possivelmente, estará baixa.
Muito embora, olhando de fora, vejamos que aquela pessoa está bem, ela não se sente. Além de estarmos bem, para que isso seja transformado em bem-estar é preciso que minhas expectativas sejam mais próximas ou consensuais possíveis com a minha realidade vivencial. Traduzindo: eu não somente tenho que estar bem em várias dimensões, mas estar satisfeito com o que eu sou e o que vivo.
Fico nos aspectos conceituais da QV, para desintoxicar. Semana que vem, vou falar da felicidade que não podemos sentir. Um pouco de nós, no momento em que estamos. Enfim: conceitualmente, ser feliz é oportunidades e arte. Tanto posso construir quanto destronar qualquer felicidade que possa haver. Não adianta eu ter dois milhões de dólares, saúde, amigos, tudo bem ao meu redor; se minha meta é somar cinco milhões de dólares até os 40 anos, e já tenho 38. Vou viver sob grande sobrecarga, correndo, brigando com o tempo para que eu possa chegar. Um olho no dólar, o outro nas ações da Bolsa. Numa queda brusca das minhas ações, eu tenho um choque, um infarto e morro. Sem nunca ter usufruído de tudo que tive e construí. Morri sem ter QV, mesmo com um bom nível econômico e social. Errei o caminho na busca da felicidade. Pior: sem levar um puto no caixão!

* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB

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