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Fernanda Abreu lança projeto e revela sonhos: “Vacina e fora Bolsonaro”

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publicado em 26/12/2020 às 11h34
atualizado em 26/12/2020 às 13h53

Kubitschek Pinheiro – MaisPB
Fotos – Alexandre Calladinni

Nem Madonna, nem Lady Gaga. O nome dela é Fernanda Abreu, uma artista brasileira da maior grandeza. Nos primeiros dias de 2020, quando Fernanda Abreu deu início a pré-produção do registro audiovisual do show “Amor Geral”, ninguém imaginava que em março viria a pandemia, o então coronavírus batia nas portas do Brasil. Fernanda não contou até três. Numa velocidade estonteante, ela e sua equipe, uma mega produção, gravaram o show sem plateia, uma situação inédita na era da tecnologia e redes sociais.

Neste mês dezembro (Ufa!) saiu o CD e DVD “Amor Geral (A)Live”, (com o selo da artista, Garota Sangue Bom), distribuído pela Universal Music – algo engenhoso num jogo de cenas impressionantes. Fernanda é uma fera.

O show “Amor Geral” não chegou a ser transmitido via web na noite de 13 de março passado, dia em que foi gravado na casa de shows Imperator, no Rio de Janeiro, a cidade onde nasceu e mora a artista. Mas quem assisti ao espetáculo no DVD repete, torna a repetir, porque a plateia somos nós, que estamos em nossas casas, num fantástico registro feito sem público, impedido de assistir à gravação por conta de decreto municipal – divulgado naquela noite, sem aviso prévio, horas antes da gravação, que determinou o fechamento de todas as casas de shows do circuito carioca.

O decreto aparece exatamente no início do show e ai começa o filme, sim é um filme, em que Fernanda Abreu faz a melhor performance da sua carreira.

Em AMOR GERAL – (A)LIVE, Fernanda Abreu apresenta seis músicas do álbum homônimo, alguns hits de sua discografia, como “Garota Sangue Bom”, “Veneno da Lata”, “Kátia Flávia” e, claro, o hino chapa quente: “Rio 40 Graus”. Surpreende a todos ao incluir neste show a pop-sexy “Bidolibido” e o hino–manifesto pacifista “Eu vou torcer” de Jorge Ben Jor.

Fernanda divide o palco com sua respeitada banda, composta por músicos como Tuto Ferraz (bateria e programação eletrônica), André Carneiro (baixo), Fernando Vidal (guitarra) e Thiago Gomes (teclados), e completam o time, Alegria Mattus nos vocais e a bailarina Victórya Devin.

Ainda nessa experiência sonora e visual, Luiz Stein assina a vídeo cenografia que tomou conta de um telão de LED e, junto com a iluminação criada por Carlos Firmino, transformou a apresentação numa experiência avassaladora de som, imagem e dança. O figurino da turnê e deste registro, é uma criação do inventivo Rogério S. Já a coreografia, Fernanda Abreu assina ao lado de Cristina Amadeo. A direção artística é da própria Fernanda.

Assim “Amor Geral” fica cravado em DVD e álbum ao vivo (físico e nas plataformas), que foi apresentado em edição digital no dia 11 dezembro. O roteiro é formado por 16 números, que totalizam 17 músicas

A direção é de Paulo Severo, com a participação da Focus Cia de Dança, além dos dançarinos Hiltinho (egresso do grupo Dream Team do Passinho) e Neguebites (do projeto Heavy Baile). Dirigida e coreografada por Alex Neoral, a companhia de dança entrou em cena na apresentação de Amor Geral no Rock in Rio 2017 e, desde então, ficou associada ao espetáculo comandada pela própria Fernanda. Capa do DVD ‘Amor geral (a)live’, de Fernanda Abreu e Alexandre Calladinni.

Em entrevista ao MaisPB, Fernanda conta toda essa aventura, que terminou num trabalho primoroso. Leia a nossa conversa e saiba porque ela é a tal, porque ela defende a paz, a liberdade, a identidade de gênero, o espaço de cada no planeta e o que ela pensa do presidente Bolsonaro.

MaisPB – Qual é sua alegria de ver esse projeto chegar os olhos e ouvidos do público?
Fernanda Abreu – Fiquei cem por cento realizada e olha que eu sou virginiana, super exigente (nessa hora interrompi e artista e disse que eu também sou virginiano). Mas você sabe que tem vários tipos de virginiano, né? Eu sou virginiana típica. Trabalhei 9 meses sem parar. Desde do dia da agravação (13 de março). Eu estou realizada com esse trabalho, apesar de tudo.

MaisPB – Teve obstáculos?
Fernanda Abreu – Sim, muitos obstáculos: a gente estava esperando um público e seria um show quente. Eu estava querendo fazer um DVD de três anos e meio de turnê, “Amor Geral”. Tinha fãs vindo de muitos lugares, mas não deu para ser presencial e ficou um trabalho incrível, amei.

MaisPB – É tão bonito esse show, que começa em preto e braço, bem cru…
Fernanda Abreu – Eu quis muito dar esse tom histórico. Virou um DVD musical como outro qualquer, mas um DVD situado num ano de pandemia. O que a nossa geração viveu e está vivendo daqui há muitos anos será lembrada, fazendo parte dessa cena mundial, assim como a peste negra e outras pestes.

MaisPB – O show está bem dentro desse momento histórico?
Fernanda Abreu – Sim, já estávamos em pandemia e eu quis que ficasse assim. Para mim foi muito importante. Conversando com Paulo Severo, que é o editor, eu disse: a gente precisa mostrar para as pessoas, todo o trabalho, a equipe gigante que reunimos. Vamos exibir como é que se monta esse circo todo. Por isso, a gente mostra de cara, os bastidores…

MaisPB – E a ideia de colocar o Decreto?
Fernanda Abreu – Foi minha, foi nossa. Eu pensei: vamos fotografar o decreto e colocar no início do show, como fosse um filme, como se fosse Star Wars (de George Lucas)

MaisPB – Seu DVD é um filme…
Fernanda Abreu – Eu senti isso. A ideia da Universal (que está distribuindo), com meu selo musical (Garota Sangue Bom), era fazer uma premier. O show passou uma única vez, depois a gente tirou ele do ar e semanalmente vamos lançando dois clipes. E no final de tudo, a gente volta com ele em sua versão integral. Mas pensei, o que a gente vai fazer para chamar a atenção do público?

MaisPB – Como foi no dia vocês fizeram a apresentação do DVD, para um pequeno público?
Fernanda Abreu – O pessoal da Universal, que faz bem essa distribuição do material físico e nas plataformas, organizou assim – a galera chegaria meia hora antes, tivemos conversa com eles, depois seguimos vendo o show. Quando começou o DVD (eu já tinha visto milhares de vezes), me deu uma emoção de um filme passando na minha cabeça, lembrando daquele dia 13 de março, da equipe, da gente ter conseguido realizar, chorei.

MaisPB – Todo mundo no palco está sincronizado, isso é incrível né? E tem a cena do beijo demorado. Vamos falar logo sobre essa cena?
Fernanda Abreu – Aquilo é demais. Eles ficaram a música toda com os lábios juntos. É a coisa mais linda do mundo, aquelas bocas coladas. E não tinha a cena final, mas eu fiz questão de botar, aqueles beijos de homens com mulheres, homens com homens e mulheres com mulheres. A gente não aguenta mais o preconceituoso Bolsonaro – que Deus nos livre. Esse DVD tem que refletir a minha ideia de liberdade, de sociedade, de ser humano. Puta que pariu, a gente está nessa bosta desse governo, que só nos bota para trás.

MaisPB – Vamos falar da sexta faixa Bidolibido (dela, Rodrigo Campello e Jovi Joviniano, 2004), com a citação da canção “De noite na cama eu fico pensando…” de Caetano Veloso, de 1971.
Fernanda Abreu – Eu adoro Caetano, ele é um gênio. Eu achei que seria legal cantar o trecho, porque a minha canção mexe com a libido e tem a ver tudo com o tema.

MaisPB – As meninas e os meninos dançam e fazem performances junto a você no palco?
Fernanda Abreu – A Focus Companhia de Dança tinha que está presente. Eu tenho uma relação forte com a dança, desde cedo. Quem sempre trabalhou comigo foi Deborah Colker, mas ela começou a fazer uma Companhia em 1994 e a bombar muito. O Alex Neoral, coreógrafo da Focus era bailarino com ela. Ele criou a própria Companhia que é a Focus . E estamos sempre juntos, ele e os dançarinos. Já tem 11 anos.

MaisPB – No Rock in Rio você já estava com eles?
Fernanda Abreu – Eu fui chamada pelo Zé Ricardo para fazer um show no palco Sunset, que é o palco de encontros. E o Zé disse, vamos inovar? E veio a ideia de chamar a Focus, a gente ensaiou bastante para o Rock in Rio e depois, seguimos fazendo shows. Na hora de gravar o DVD chamei Alex (Neural) e convidei para esse registro, e chamei as meninas do Passinho do Funk, que são alternativas, há anos.

MaisPB – Ah, isso é das favelas, né?
Fernando Abreu – Isso, teve um concurso e eu fui jurada de algumas das favelas do Rio e conheci esses meninos. Isso já faz tempo. Sempre que eu posso eu coloco eles em meu trabalhos. Não só esses dois que estão no DVD, mas eu conheço uns sete que dançam passinhos. Eu quis levar a dança de rua mesmo, com a dança da academia, que é contemporânea, que vem de uma escola.

MaisPB – Tem uma cena genial quando a garota canta um trecho da canção “Dê um rolê”, de Luiz Galvão e Morais Moreira, que Gal Costa gravou: “Eu sou o amor da cabeça aos pés (Dê um rolê, Novos Baianos, 1971).
Fernanda Abreu – “Não se assuste pessoa, se eu lhe dizer que a vida boa, eu sou, eu sou, eu sou, eu sou o amor da cabeça aos pés, (canta a artista pelo telefone). Olha, porque são todos temas que tem a ver com “Amor Geral”. Eu pensei junto com a vocalista Alegria Mattus (uma cantora e atriz brasileira, backing vocal). Ela é afilhada do Luiz Galvão. Chegamos a conclusão de que ela deveria cantar essa canção com a banda. Foi lindo!

MaisPB – Incrível, no show a gente percebe que você dá espaço para todos?
Fernanda Abreu – Eu me sinto bem. Um show é bom assim. Trabalho com músicos muitos bons. As pessoas que trabalham comigo têm que brilhar, eu abro esse espaço para elas. O show ganha muito.

MaisPB – Quando você canta o clássico “Veneno da Lata”, (do álbum Da Lata, 1995), aparece a voz de uma menina. (o clipe é genial, com cenas no Cristo Redentor, com a participação de Herbert Vianna)
Fernanda Abreu – É a minha filha Sofia, quando ela tinha três anos de idade, agora ela tem 28 anos. Ela era bem pequenininha.

MaisPB -Vamos falar daquele momento em que você cita o Afrika Bambaataa?
Fernanda Abreu – Cara, ele é o pai do hip hop mundial. Nasceu e foi criado no Bronx, em New York. Hoje ele deve estar com quase 70 anos. Foi ele, junto com mais dois caras que criaram no subúrbio de New York. Bambaataa criou uma história de pegar um vinil e riscar o disco. Ele que começou esse trabalho dos Djs, que fazem “back to back” e ficam mixando com dois vinis, uma coisa louca. Ele criou também o MC. É um cara chegar na frente e dar uma de mestre de cerimônia. Ele juntou também em Nova Iorque, uma outra galera que estava fazendo “breakdance” uma dança de rua) e outra rapaziada, que estava grafitando a cidade.

MaisPB – Aí surgiu o Hip Hop…
Fernanda Abreu – Então, ele juntou o grafite, com o breakdance, com os MCs e os Djs e criou o que a gente conhece hoje, a cultura Hip Hop. Minha alegria é ele ter participado do meu disco e a voz dele está sampleada na canção “Tambor” (de Fernanda, Gabriel Moura, Jovi Joviniano e Afrika Bambaataa, 2016). Ele esteve o Rio de Janeiro e São Paulo para eventos e ficamos amigos.

MaisPB –Você andou fazendo lives?
Fernanda Abreu – Fiz quatro, eu meu marido (Tuto Ferraz) que é o baterista e produtor musical, aqui em casa, num estúdio bem pequeninho. Eu estou na quarentena de verdade.

MaisPB – De onde vem esse jogo de palavras, que aparecem em suas canções?
Fernanda Abreu – Tem muito mané sem noção querendo atrasar, é isso que estamos vivendo agora. A partir daí vão surgindo minhas sacadas.
Eu preciso fazer mais shows, as contas continuam chegando. Quero mostrar meu trabalho e sobreviver. Estou louca para cantar ai no Teatro Pedra do Reino. Eu vou amar está aí.

MaisPB – Você fecha o show com hino Rio 40 Graus? ( do segundo álbum de Fernanda “Sla 2 Be Sample”, 1992)
Fernanda Abreu – Ah! Sim é minha música mais famosa. É uma canção que não se perdeu, a letra dela é bem atual, não ficou datada.

MaisPB – Você acha que as coisas vão melhorar aqui no Brasil, no mundo?
Fernanda Abreu – Olha vou te falar o seguinte: me perguntaram qual o meu desejo para 2021? Eu tenho dois – um é a vacina e o outro é o impeachment de Bolsonaro, ele está chegando a um lugar sem saída. Ele fica zoando da gente.

MaisPB – Você continua torcendo pela paz?
Fernabndo Abreu – Sempre, esse DVD é bem consistente no meu discurso. Chega desse ano depressivo! Queremos um ano novo bom para todos. Eu fiz uma música em homenagem ao Jorge Ben Jor que se chama “Do Bem”, e agora nesse ano (2021), eu já tenho outro disco pronto – é um remix, que vou lançar em março, com três DJs super legais. E logo vou começar a trabalhar nas minhas músicas novas.

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