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Leila Pinheiro lança quatro discos na pandemia

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publicado em 19/12/2020 às 12h12
atualizado em 20/12/2020 às 05h22

Kubitschek Pinheiro MaisPB

Apesar da longa quarentena imposta pela pandemia do novo coronavírus, a cantora Leila Pinheiro não para. Ela está completando 40 anos de carreira e lançou nesse período quatro novos CDs, desde março. O primeiro é “Vamos Partir Pro Mundo”, que traz sucessos de Antônio Adolfo e Tibério Gaspar – uma das mais importantes duplas de compositores dos anos 1960/70 – na voz da cantora.

O segundo é um discão “Faz Parte do Meu Show – Cazuza em Bossa”, onde Leila está acompanhada de Roberto Menescal e Rodrigo Santos (ex-baixista do Barão Vermelho). Eles tocam e cantam os grandes hits de Cazuza em linguagem de bossa nova.

Lançado em agosto “Cenas de Um Amor”, o terceiro é composto em parceria com o grupo instrumental paulistano “Seis Com Casca”. É um disco para ouvir várias vezes. Esse trabalho é um marco na carreira da artista, com selo da gravadora Azul Music. A conexão do CD teve início em agosto de 2011, com o convite para Leila participar, em Sorocaba, São Paulo, de show feito pelo grupo formado por Bruno Monteiro (piano), Potiguara Menezes (guitarra), Diogo Maia (clarinete), Nath Calan (percussão e vibrafone), Nikolay Iliev (violino) e Mauricio Biazzi (contrabaixo). O “Seis com Casca” se caracteriza pela sólida formação instrumental, evidenciada em arranjos que se situam na tênue fronteira entre a música popular e a música dita erudita.

No repertório popular “A canção de Nana” (Nana’s lied, Kurt Weill e Bertolt Brecht, 1929, em versão em português de Carlos Rennó), “Canção Amiga” (Milton Nascimento a partir de poema de Carlos Drummond de Andrade, 1978), a música-título “Cenas De Um Amor” (Tendrement, Erik Satie, 1902, em versão em português de Nelson Motta, 1991), “Corsário” (João Bosco e Aldir Blanc, 1975) e “Diz Nos Meus Olhos” (Inclemência, Zélia Duncan a partir de tema de Guerra-Peixe, 2005).

“Melhor Que Seja Rara” é quarto novo álbum que celebra os 60 anos de Leila Pinheiro, do acervo pessoal da artista paraense, a foto da capa – criada com arte de Eduardo Dugois – é do DJ Zé Pedro e flagra a cantora, compositora e instrumentista ao piano, na intimidade da casa em que vive na cidade do Rio de Janeiro. Leila Pinheiro é uma artista que todos os dias trabalha com a música humana música. Zé Pedro é o idealizador desse primeiro disco de voz & piano gravado por Leila em 40 anos de carreira, iniciada em Belém (PA), em 1980.

Entre as canções, “Melhor Que Seja Rara (Guilherme Rondon e Zélia Duncan, 2016), “Amplidão” (Chico César, 2006), “Deixa Pra Lá” (Vinicius de Moraes, 1957), “Súbita Primavera” (Moacyr Luz e Fátima Guedes, 2020) – música inédita em disco, “Talvez” (Cezar Mendes e Tom Veloso, 2020), “Porque Era Ela, Porque Era Eu” (Chico Buarque, 2005). “Dia Tão Cinzento” (Nuno Ramos, 2009). “Saudade” (Leila Pinheiro a partir de poema de Clarice Lispector, 2020) música inédita em disco, “Nada” (Adriana Calcanhotto e Antonio Cicero, 2020), música inédita em disco, “Como Um Ladrão” (Carlinhos Vergueiro, 1975), “Disco” (Dori Caymmi e Paulo César Pinheiro, 2017) e “Outra Vez, Nunca Mais” (Sueli Costa e Abel Silva, 2003)

Em sua trigésima e última “Live” neste ano, que acontece neste sábado (19), às 20h pelo canal da artista no Youtube, Leila dedicará seu repertório inteiramente ao samba, cantando e tocando pérolas – novas e antigas, garimpadas do cancioneiro brasileiro. “Quero encerrar este difícil e desafiador ano de 2020 celebrando, com música, a vida e a saúde, junto ao meu fiel público! O samba é mágico e tem a energia ideal para isso”.

Em entrevista ao MaisPB, Leila pelo telefone, fala dessa vasta produção e de outras sacadas da vida. Confira tudo sobre esses novos discos, digitais e físicos. Aproveita e leia nossa conversa com Roberto Menescal, autor do projeto do disco “Faz Parte do Meu Show – Cazuza em Bossa”. Divirtam-se nesse sábado com esses dois grandes artistas brasileiros

Leila Pinheiro

MaisPB – 60 anos de vida e 40 de carreira, tem muito que comemorar. né Leila?
Leila Pinheiro – Eu, Leila, artisticamente falando, celebrando 40 anos de carreira, me sinto bem feliz de poder levar a música para os fãs, para as pessoas que seguem minha carreira, mas não teve outra forma de comemorar senão assim, produzindo muito e fazendo lives.

MaisPB – Como foi e como tem sido toda essa produção desde março, inicio da pandemia?
Leila Pinheiro – Eu não tinha noção nada, não sabia como transmitia. Eu e todo mundo. Todos tentando se ajudar, achar uma forma, para o som ficar bom. Meu engenheiro de som não podia estar aqui no meu estúdio. Então, da minha forma fui tentando arrumar as transmissões de áudio. Às vezes dava problemas durante as lives. Eu tenho uma boa noção de tudo de áudio e participo, mas é diferente, sozinha em seu estúdio, tendo que fazer uma espécie de show, uma hora de conversa e de tudo mais…

MaisPB – E tem que fazer um roteiro, né?
Leila Pinheiro – Sim, fazendo como se fosse um roteiro de show mesmo, é exatamente o tempo que fico no palco, uma hora ou uma hora e 20 minutos. Era tudo muito novo, e bem difícil. Agora, estamos fazendo pelo Youtube. Fiz a transmissão para o Blue Note São Paulo e deu certo. Sem esquecer da parafernália de fios e cabos dentro de casa, para fazer a transmissão. Para não perder a comunicação e o contato com o público, nesse ano em que faço 40 anos de carreira, com quatro discos novos. É uma troca de energia que traz uma força muito grande. Eu gosto muito disso, dessa energia.

MaisPB – E as coisas foram se arrumando…
Leila Pinheiro – Sim, mais acessos, seja no Youtube, no Instagram e a gente segue trabalhando. Isso é um espaço para música. Eu Leila, me abasteço. Eu vivo do canto, da energia que ele me traz, que me facilita e me permite. É uma arte é impossível deixar de lado. Nada de deixar para amanhã.

MaisPB – Como foi a transmissão da live para Blue Note de São Paulo?
Leila Pinheiro – Foi espetacular, foi um show só de Bossa Nova, a imagem linda. Isso tudo no meio desses lançamentos. Eu tive até problema físico, com dor na lombar, mas foi tudo muito bom. E tem sido, e será.

MaisPB – Vamos falar dos discos lançados este ano?
Leila Pinheiro – O primeiro é “Vamos Partir Pro Mundo”, que traz sucessos de Antônio Adolfo e Tibério Gaspar. Esse você me entrevistou no inicio de março e ai veio a pandemia. Esse disco é muito bonito.

MaisPB – O segundo é você catando Cazuza?
Leila Pinheiro – Cazuza em Bossa, já saiu digital e físico pela Som Livre. O nome do disco é “Faz Parte do Meu Show”. Eu canto “O Tempo Não para”, “Exagerado”, “Ideologia”, entre outras. Foi espetacular fazer esse disco, me senti muito bem com Roberto Menescal e Rodrigo Santos. Na verdade, eu entrei meio por brincadeira, foi o Menescal quem me contou sobre o projeto. Eu perguntei: quem vai tocar piano e cantar? Ele disse: “Você, né Leila”. E seguimos e realizamos esse projeto. Foi lançado na sequencia do primeiro.

MaisPB – E o disco “Cenas de Um Amor”, composto em parceria com o grupo instrumental paulistano “Seis Com Casca”?
Leila Pinheiro – Esse trabalho foi gravado em 2014, com um grupo paulistano. Esse ano, o selo de São Paulo Azul Music, se interessou e lançamos. O disco está pronto, mas não podemos se encontrar, nem nada. É um disco belo. Está nas plataformas, físico e nas minhas redes. Esse álbum é muito interessante, é totalmente fora de tudo que eu já fiz. Esse grupo “Seis Com Casca”já existe há bastante tempo e faz um trabalho incrível – mistura a música erudita e a popular. Tem canções brasileiras, lindas.

MaisPB – E o CD “Melhor Que Seja Rara”, que você fez com o DJ Zé Pedro?
Leila Pinheiro – Na verdade, a gente começou…. eu conheci ele em 2004. Ele tem, como o jornalista Mauro Ferreira, uma imensa admiração pela vida das cantoras, o que elas produzem. Ficamos amigos. Eu fui mandando muita coisa pra ele, a partir de 2016. Começamos a pensar em fazer uma reunião dessas canções. Isso aconteceu por causa da pandemia, acontece que Leila tem tocado piano muito intensamente, mais do que todas as épocas da minha vida. Esse disco é só piano e voz. Ele me leva para o público de uma forma que os fãs nunca viram.

MaisPB – Como foi chegar aos 60 anos?
Leila Pinheiro – Bem, estou feliz. Quero ir bem mais

MaisPB – Este ano é centenário de Clarice Lispector e em 2004 você musicou um poema Saudade dela…
Leila Pinheiro – Quando eu li o livro dela “Descoberta do Mundo”, são cronistas e poemas, sentei e fiz a melodia O poema me parece já feito com uma métrica cantável, completamente possível de ser musicada. Talvez se eu não tivesse musicado, alguém o teria feito. Mas foi muito espontâneo, sentei e fiz. Com minha “Valsa Doroteia”, que está no disco “Cenas de Amor” foi assim também. Essa gravação é lá detrás. No disco se percebe minha voz de 2004, 2016, 2014, não tem mixagem. Não teve remasterização, porque a gente não pode fazer nada disso na pandemia

Roberto Menescal

MaisPB – No disco “Faz Parte do Meu Show – Cazuza em Bossa”, projeto seu e Roberto Rodrigo Santos, vocês convidaram Leila Pinheiro e tocam e cantam os hits de Cazuza em linguagem de bossa nova. Como aconteceu essa ideia?

Roberto Menescal – Na verdade, o projeto começou comigo e Rodrigo Santos. Rodrigo sempre disse que queria fazer um trabalho comigo e eu pensei: vamos fazer uma coisa pequena, para nós dois entrar num teatro pequeno, e ele topou. Tivemos duas reuniões e já começamos a preparar alguns números – nesse período, o Rodrigo estava fazendo show com Andy Summers (compositor e guitarrista inglês, que era da banda The Police). O show estava acontecendo em São Paulo e Leila foi assistir (do Rodrigo com Andy Summers). Ela ficou encantada com o talento de Rodrigo (Santos)

MaisPB – Então, desse encontro surgiu a ideia de Leila participar do CD em homenagem a Cazuza?
Roberto Menescal – O Rodrigo é muito bom, no palco nem se fala. E Leila ficou encantada, impressionada. Foi aí que eu contei a ela que estávamos fazendo um projeto do disco Cazuza Bossa Nova. Ela topou e foi ótimo, com o piano e a voz dela. Mas logo pensamos em aumentar o projeto com a chegada de Leila.

MaisPB – Como foi a seleção das canções de Cazuza?
Roberto Menescal – Eu comecei a fazer com Rodrigo. Mas com a chegada de Leila, eu disse: vamos voltar ao zero e iniciar um outro projeto. Foi ótimo porque ela trouxe coisas que eu não lembrava. O Rodrigo conheceu muito a sensibilidade de Cazuza, eles tocaram muito juntos.

MaisPB – É um projeto muito interessante esse disco…
Roberto Menescal – O que tem de interessante, é que nos mexemos nas harminas, nós fizemos um Cazuza como a gente tocaria, não como ele tocava e cantava. Um disco de bossa, tem blues, mas a gente se ligou menos no ritmo e mais na coisa harmônica. Cazuza fazia uma coisa muito ele, que era muito bom de palco, performático.

MaisPB – Por que apenas oito faixas?
Roberto Menescal – Nós gravamos vinte faixas.

MaisPB – Então temos material para mais um disco?
Roberto Menescal – Exato. A Som Livre vai lançar aos poucos.

MaisPB – Teremos então Cazuza Bossa II?
Roberto Menescal – Teremos sim. Eu gosto muito do disco, modéstia à parte, acho que fizemos um trabalho bacana.

MaisPB – Roberto Menescal gravar Cazuza é um prestígio para jovens e fãs conhecerem a obra do artista em Bossa Nova…
Roberto Menescal – Nós fizemos uns três ou quatro shows, antes de gravar, pra ter certeza. Fizemos um “Vivo Rio” lotado, lotado. O público gostou e gravamos.

MaisPb – Como você está nessa pandemia?
Roberto Menescal – Dentro de casa. Nunca trabalhei tanto na minha vida. Estou produzindo muita coisa. Olha, voltando ao disco de Cazuza, o empresário Luiz Paulo Assunção, ele é empresário do Rodrigo e foi tudo na história desse disco de Cazuza em Bossa. Esse cara (Luiz Paulo) é genial. Ele é o empresário e produtor do show e do projeto. Ele trabalha feito um louco.

MaisPB – E o Brasil?
Roberto Menescal – O Brasil está muito ruim. Estranhamento os ibopes mostram que o presidente não baixou nada. Ele continua nas pesquisas. Estou impressionado, todas as pesquisas colocam ele na frente. E o povo aprovando. Lamentável.

MaisPB – E a canção “O Barquinho” com você e o grupo de cantores japonês?
Roberto Menescal – Rapaz, uma coisa linda. Eu vou te mandar esse projeto com os japoneses pelo WhatsApp. Os japoneses queriam gravar O Barquinho comigo, mas em português. Eu pedi nove cantores japoneses, mais um baixista e um baterista. Entramos, eu de guitarra e um piano daqui do Brasil. É uma coisa linda. É um vídeo, em janeiro a gente faz outra mateira sobre isso. Obrigado mais uma vez Kubi.

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