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ENTREVISTA MAISPB

Top 10 da Boeing, engenheiro enaltece orgulho de ser paraibano

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publicado em 16/10/2020 às 09h35
atualizado em 16/10/2020 às 12h08
Engenheiro paraibano, Rodolfo Cavalcanti Carneiro. Foto: Arquivo Pessoal

Kubitschek Pinheiro – MaisPB

O jovem engenheiro paraibano, Rodolfo Cavalcanti Carneiro, está entre os dez melhores da Boeing em Seal Beach, Califórnia, destacado Líder de Engenharia de Estruturas, em suporte aos operadores dos aviões da família 737NG e 737MAX. Ele tem formação acadêmica, em Engenheira Civil pela Universidade Federal da Paraíba (1998) e é Mestre em Engenharia de Estruturas pela Universidade de Brasília (2001).

Há anos morando no exterior, com larga experiência, tendo começado a trabalhar nessa área inicialmente na Embraer, em São José dos Campos, São Paulo no período de 2000 a 2007, depois atuou de 2007 a 2008 na Airbus, Bristol, na Inglaterra. Ainda neste ano (2008), mudou-se com a família para Washington, EUA, onde ficou até 2010 na Aviation Partners Boeing, Seattle. De 2010 até 2013 Rodolfo já estava na Georgia, nos EUA trabalhando Gulfstream Aerospace, Savannah. De lá seguiu para a empresa General Atomics, San Diego, Califórnia, EUA e desde 2015 está radicado na Califórnia, onde atua na Boeing, Seal Beach. Sua mulher que também é engenheira, Lisandra Braga de Oliveira, na trabalha na Boeing, Seal Beach. São pais de Gabriella, de dez anos. Rodolfo tem 46 anos, nasceu em João Pessoa, primogênito do economista e advogado da União, Almiro Vieira Carneiro e da advogada e defensora pública, Dina Maria Cavalcanti Carneiro.

Em entrevista ao MaisPB, Rodolfo falou com simplicidade de ter sido votado e escolhido entre os dez melhores da Boeing, mostra a geografia por onde passou como engenheiro de empresas de aviões mundiais, das horas vagas em que vai surfar com amigos nas águas geladas do mar da Califórnia (alguns na faixa de 70 anos). Comenta sobre seu trabalho, da filha Gabriella que estuda em escola pública, dá sua opinião sobre a situação atual do Brasil e diz ter orgulho ser paraibano, entre outros temas mundiais.

MaisPB – Como aconteceu a ida para Inglaterra? Foi em que ano e para trabalhar em qual empresa?

Rodolfo – Eu sempre sonhei em conhecer outros países e suas culturas. Comecei a trabalhar para a Embraer em 2000 e lá conheci pessoas de outras nacionalidades, Americanos, Ingleses, Australianos, o que despertou ainda mais esse meu desejo. Enviei meu curriculum para diversas empresas em vários países, fiz as minhas primeiras entrevistas em inglês, recebi algumas ofertas, mas a que mais me atraiu foi a da Airbus, localizada em Bristol, na Inglaterra. Em Janeiro de 2007 eu deixei o Brasil rumo ao velho mundo. Era inverno na Europa, fazia muito frio e nevava bastante. Foi um começo difícil, principalmente pela dificuldade na língua, pelo choque cultural e pelos dias gelados. Após três meses minha esposa chegou e as coisas foram melhorando. Aproveitávamos os finais de semana para viajar e conhecer lugares incríveis, antes apenas vistos em filmes. Conhecemos uma comunidade de Brasileiros e Portugueses bem divertida e nos encontrávamos com bastante frequência. Isso fez a nossa estadia na Inglaterra ainda mais prazerosa.

MaisPB – Depois você foi morar e trabalhar na Califórnia. Como isso aconteceu?

Rodolfo – Vou contar um pouco do que aconteceu na minha vida entre Inglaterra e a vinda para a Califórnia. Durante o período na Inglaterra, minha esposa estava no processo do Green Card, iniciado em 2006 quando ainda morávamos no Brasil. No final de 2007 recebemos o comunicado de que o processo havia sido aprovado e que a Boeing oferecera uma oferta de emprego para minha esposa, para trabalhar em Seattle. Em abril de 2008 largamos o emprego da Airbus e partimos rumo aos Estados Unidos. Naquela ocasião minha esposa era a única com emprego, então comecei a enviar currículos para diversas empresas e fiz várias entrevistas por telefone. Em duas semanas eu comecei a trabalhar para uma empresa parceira da Boeing. Foi uma experiência profissional fantástica aonde fiz vários amigos e aprendi bastante. Na região de Seattle também conhecemos uma turma boa de Brasileiros que se reuniam com bastante frequência, o que nos dava ainda mais aconchego. Em março de 2010 nascia a nossa tão aguardada filha, Gabriella. Minha esposa largou o emprego para se dedicar em tempo integral na criação de nossa filha. Naquela época, a empresa na qual eu trabalhava passava por dificuldades financeiras o que me fez começar a sondar outras possibilidades que oferecessem melhores condições salariais. Entrei em contato com a Gulfstream – empresa que fabrica aviões executivos, localizada em Savannah, Georgia. Recebi uma oferta de trabalho e em Novembro daquele mesmo ano seguimos rumo ao Sul dos Estados Unidos. Fui muito bem recebido por todos dentro da empresa, aonde trabalhava com pessoas de várias nacionalidades (algo comum no ramo aeronáutico), Espanhóis, Russos, Alemães, Australianos, Indianos, Ingleses, enfim, um ambiente bem diversificado. Enquanto o trabalho me satisfazia, a cultura do Sul dos Estados Unidos se mostrava muito conservadora para os meus gostos. Após pouco mais de dois anos, já naturalizados Americanos (após 5 anos com o Green Card pode-se aplicar para a cidadania Americana), enviei meu curriculum para a General Atomics, uma empresa fabricante de aviões não tripulados, localizada em San Diego, Califórnia, aonde apenas cidadãos Americanos podiam trabalhar. A empresa me convidou para uma entrevista pessoal com passagens e hospedagens inclusas para mim, esposa e filha. Fui muito bem na entrevista e recebi a oferta de emprego após uma semana. Quanto a cidade, ficamos maravilhados com San Diego, que se parecia muito com o Rio de Janeiro, com uma vibe de cidade praiana, com pessoas praticando esportes a beira-mar, enfim, estávamos decididos a viver a vida sobre as ondas da Califórnia. Em Novembro de 2013 nos mudamos para San Diego.

MaisPB – Há quantos anos você trabalha como engenheiro da Boeing e qual sua função nessa empresa?

Rodolfo – Embora a vida em San Diego, aonde temos ótimos amigos, estivesse sendo excelente do ponto de vista pessoal, eu não estava feliz com o meu trabalho e minha esposa estava tentando voltar a trabalhar. Surgiu uma oportunidade para ela trabalhar na Boeing de Seal Beach, localizada a cerca de 200 Km de San Diego. Ela aceitou e se mudou para Huntington Beach (cidade vizinha de Seal Beach). Resolvi mandar meu curriculum para a Boeing, ainda que não houvesse nenhuma vaga aberta para a área em que eu tinha mais experiência. Fiz a entrevista para uma vaga de Engenheiro em início de carreira, recebi a oferta e aceitei, mesmo sendo um salário bem abaixo do que eu recebia na General Atomics. Fui muito bem recebido por todos e ainda que aquele tipo de trabalho fosse bem diferente do que eu estava acostumado, me sentia muito à vontade para perguntar e aprender bastante, e em pouco mais de dois anos fui promovido para liderar um grupo de aproximadamente 30 pessoas. Eu trabalho como engenheiro responsável pela estrutura das asas dos aviões 737NG e 737MAX, dando suporte para todos os clientes que operam esses aviões.

MaisPB – Recentemente você escolhido entre os 10 melhores engenheiros da Boeing. Qual a satisfação de ser paraibano e dessa ascensão em sua vida profissional?

Rodolfo – Anualmente a Boeing envia uma pesquisa de opinião para os funcionários escolherem 10 engenheiros que de alguma maneira se destacaram naquele período. Para mim foi uma grande surpresa pois jamais imaginei que estaria entre os 10 escolhidos. Porém, não posso negar que fiquei muito honrado e satisfeito. Sempre carregarei comigo o orgulho de ser paraibano, de ter estudado na Escola Técnica e na Universidade Federal da Paraíba. Todas as minhas conquistas pessoais e profissionais são consequências da criação que recebi dos meus pais, meus eternos incentivadores. Sem o apoio deles nada disso seria possível.

MaisPB – Sua mulher Lisandra também é engenheira e trabalha na Boeing. Vocês trabalham juntos. Qual a função dela na empresa?

Rodolfo – Minha esposa trabalha como engenheira de suporte a fuselagem dos aviões 737NG e 737MAX. Trabalhamos com os mesmos aviões mas em grupos diferentes.

Foto: Arquivo Pessoal

MaisPB – Você nos contou que vez em quando vai surfar nas águas frias da Califórnia e tem como companheiros do mar, senhores de 70 anos. Fale-nos dessa experiência?

Rodolfo – O surf sempre foi uma das minhas paixões, desde a época de adolescente. O mar tem uma energia impressionante que funciona como uma terapia para mim, me relaxa e recarrega as minhas energias. Desde que saí do Brasil não havia morado em cidades com mar que tivesse ondas para o surf e isso me deixava um pouco entristecido. Quando surgiu a oportunidade de morar na Califórnia tive a certeza de que voltaria a surfar. Recebi incentivo de vários amigos que conheci em San Diego e um deles, Marcio Zouvi, shaper famoso que fabrica pranchas para surfistas de elite, dentre eles Filipe Toledo, fez uma prancha sob medida pra mim e desde então voltei a surfar com frequência. Huntington Beach é conhecida como surf city (cidade do surf), e no mar vê-se praticantes do surf de todas as idades. O surf e também um momento de socialização e durante umas conversas com alguns desses colegas de surf soube que vários deles estão na faixa etária dos 60 a 70 anos. Achei isso muito legal, pois o surf e muito mais do que um esporte, é um estilo de vida, e o Sul da Califórnia mostra isso muito bem.

MaisPB – Como é o dia a dia em pandemia, aí na cidade que vocês moram?

Rodolfo – Aos poucos estamos voltando a normalidade – Escolas voltando a funcionar presencialmente, lojas e restaurantes reabrindo, enquanto a maioria das pessoas continuam usando máscaras, principalmente em ambientes fechados, e respeitando o distanciamento.

MaisPB – Vocês têm uma filha Gabriella de dez anos, que estuda em escola pública. O aprendizado é bom?

Rodolfo – Aqui nos Estados Unidos é muito comum se estudar em escolas públicas durante o ensino fundamental. As escolas públicas em Huntington Beach são excelentes, com infraestrutura, a meu ver, melhor do que muitas escolas particulares do Brasil. Todas as crianças têm seus próprios laptops, além das disciplinas básicas as escolas oferecem aulas de canto, piano, teatro, dentre outras voltadas às artes e expressões corporais. Acho isso muito bom pois estimula a criatividade e torna o aprendizado mais prazeroso.

MaisPB – Como o governo da Califórnia se comportou com a chegada da Covid 19 diante da população?

Rodolfo – Desde a decretação da pandemia pela OMS que a Califórnia começou com as medidas de restrições. As escolas começaram com o ensino virtual, as empresas mandaram os funcionários trabalharem de casa, lojas, bares e restaurantes fecharam as portas, dentre outras medidas que ao meu ver ajudaram na contenção do contágio.

MaisPB – Há tantos anos fora do Brasil, você poderia fazer uma análise sobre a atual conjuntura política de nosso país?

Rodolfo – Em 2008/2009, aqui nos Estados Unidos, o Brasil era visto como um País com economia em franca ascensão. Era comum vermos notícias na mídia local, inclusive vários colegas americanos faziam altos elogios ao Brasil. Hoje eu vejo o Brasil retrocedendo e isso me entristece bastante.

MaisPB – Como brasileiros radicalizados nos EUA, você e sua mulher têm direito a voto nas eleições dos Estados Unidos?

Rodolfo – Sim, como cidadãos naturalizados, nós temos praticamente os mesmos direitos e deveres de um cidadão nato, inclusive o direito ao voto.

MaisPB – Os Estados Unidos da América são unidos mesmo?

Rodolfo – Os estados tem bastante autonomia, tendo suas próprias leis de transito, leis quanto a porte de armas, leis penais devido a crimes (em alguns estados existe pena de morte), leis que regulam o uso da cannabis, dentre outros aspectos que a meu ver fazem dos Estados não tão unidos assim. Eu morei em 3 estados e cada vez que eu mudava precisava trocar a placa do carro e retirar uma outra habilitação.

MaisPB – Você nos contou que não é muito adepto das redes sociais. Sabemos que elas têm sua importância e são perigosas. Qual é a sua opinião?

Rodolfo – As pessoas têm usado as rede sociais como recurso para formação de opinião ao invés de buscarem ler bons livros, artigos científicos ou reportagens de origens confiáveis, e além disso, tem muita gente destilando ódio e preconceito na direção daqueles que discordam das suas opiniões. Eu acho tudo isso um saco. Não me deixo influenciar por notícias falsas e não estou nenhum pouco a fim de discutir política ou religião dentro de redes sociais.

MaisPB -Você nos contou que já ficou determinado que os funcionários da Boeing só voltarão ao trabalho presencial em março de 2021. Ou seja, continuam em casa no trabalho home office. É mais uma medida para estabelecer a total segurança?

Rodolfo – A empresa reconhece que o trabalho virtual não causou nenhum impacto negativo quanto a produtividade e além do mais houve economia nas contas de luz, gás, água e telefone. Além do mais, com as pessoas trabalhando de casa e seguindo os devidos cuidados, haverá bem menos contágio. Acho correta a posição da Boeing.

MaisPB – Tem lido um bom livro?

Rodolfo – No memento estou lendo: “Turn the Ship Around” (de L. David Marquet). Gostaria de estar lendo mais, principalmente livros em português.

MaisPB – Aqui em João Pessoa você tocava guitarra numa banda com os amigos. Ainda toca violão ou guitarra, em horas vagas ai na Califórnia?

Rodolfo – A música sempre fará parte da minha vida. Sou de uma geração que ouvia Legião Urbana, Paralamas do Sucesso, Titãs, Camisa de Venus, Ira, Plebe Rude, dentre outras bandas que contribuíram para a minha formação como indivíduo. Tocar em banda foi uma experiência inesquecível, pude conhecer várias pessoas do meio artístico e aquilo me tornou minha mente muito mais aberta para inúmeras coisas na sociedade. Ainda tenho um violão e uma guitarra. De vez em quando nos reunimos para um churrasco ou luau na praia e eu levo meu violão para animar o encontro.

MaisPB – Você acredita que um dia voltarão a morar no Brasil?

Rodolfo – Temos uma ligação muito forte com o Brasil, principalmente João Pessoa, aonde vivemos até os 23 anos. Tentamos visitar pelo menos uma vez por ano para rever nossos pais, sogros, irmãos, tios, primos, cunhados e diversos amigos de infância. Talvez um dia, quando as coisas se acalmarem, voltaremos a morar no Brasil.

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