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João Medeiros é pediatra e presidente da Academia Paraibana de Medicina. E-mail: [email protected]

A busca por uma Vacina

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publicado em 24/09/2020 às 08h17

A busca por uma vacina (foto)  contra a COVID-19 é decerto o principal foco das atenções dos principais centros de pesquisa na área da saúde, ao redor do planeta: nada menos de 176 vacinas estão em fase de teste, segundo a Organização Mundial de Saúde.

O afã por essa conquista chega até a assumir claramente a conotação de uma disputa pela hegemonia dessa tecnologia por parte da União Soviética –  haja vista a própria denominação da sua vacina,a Sputnik-5, numa alusão à corrida espacial da época da guerra fria -,ao anunciar a sua liberação em tempo recorde, atropelando a fase  três de experimentação, etapa crucial de teste em larga escala em relação à resposta imune e à eficácia vacinal.

A não ser que algum outro país siga o exemplo da Rússia, queimando etapas, das 28 vacinas testadas em humanos, seis já se encontram  na fase três da pesquisa: é nelas que depositamos a esperança do lançamento de um produto seguro e eficaz, com o mínimo de eventos adversos, num breve espaço de tempo, quiçá até o final do ano; certamente um feito extraordinário, conquanto é sabido que, historicamente, o desenvolvimento de vacinas leva anos para ser concluído.

A tecnologia da produção de vacinas evoluiu de forma fantástica, a partir da descoberta da vacina antivariólica por Edward Jenner, em 1796, e contempla, resumindo de forma simplista, desde o uso de microrganismos vivos atenuados, inativados (mortos), componentes ou fragmentos deles, até através da engenharia genética, para a obtenção do antígeno, ou seja, o elemento que vai induzir a produção de anticorpos no organismo contra o agente agressor ( patógeno). Eventos adversos podem ocorrer, sem maiores repercussões, dado à grande segurança desses imunobiológicos que são rigorosamente testados, antes  de sua liberação para o uso populacional.

Atualmente há quatro tipos de vacinas em estudo, contra o coronavírus: a genética, a viral, a de proteína e a de vírus inativado, atuando de forma diferente na indução da produção de anticorpos, a saber:

– A vacina produzida por engenharia genética usa parte do material genético ( mRNA) como antígeno, e está sendo desenvolvida pelas empresas Moderna (USA) e a BioNtech/Pfizer ( parceria USA/ Alemanha) e se encontra na fase três de teste;

– A vacina da Oxford/AstraZeneca é conhecida como de vetor viral: usa um vírus modificado ( adenovírus) para carrear o material genético ( o RNA) do coronavírus; encontra-se também, na fase três. Um evento adverso grave registrado num paciente , a mielite transversa, motivou a suspensão temporária da pesquisa para averiguação. Após análise criteriosa, os cientistas autorizaram a continuidade do estudo, por não constatarem  relação da doença com a vacina aplicada.  Certamente pelo elevado conceito da empresa e seriedade dos cientistas envolvidos, muito crédito e esperança se depositam nessa vacina. Existem outras vacinas usando a mesma tecnologia, e na fase três de experimento;

–  As  vacinas de base proteica usam a proteína do  vírus, ou parte dela (Spike), para gerar uma resposta imunológica. Ainda não existem produtos com essa tecnologia em fase final de  teste em humanos ;

– As de vírus inativado, são compostas do vírus morto ou partes dele. A China domina essa tecnologia e tem três vacinas em fase final de testes  pelos laboratórios Sinovac, Instituto de Produtos Biológicos de Wuhan/Sinopharm e Instituto de Produtos Biológicos de Pequim/Sinopharm.

A expectativa é grande, e certamente só ficaremos tranquilos , quando a imunização em massa , segura e eficaz, propicie a erradicação desse inimigo terrível, já que a imunização de rebanho é lenta, e prolongará  o sofrimento da população mundial.

*Pediatra e Presidente da Academia Paraibana de Medicina

* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB

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