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Professora Emérita da UFPB e membro da Academia Feminina de Letras e Artes da Paraíba (AFLAP]. E-mail: [email protected]

Leito 563

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publicado em 13/07/2020 às 11h25

Neste espaço quero falar com o coração nas mãos para registrar momentos difíceis que passamos com o nosso filho Itapuan, interno com COVID 19 no quarto 563, do hospital da UNIMED/PB, dia 01 de Julho de 2020. Como mãe, ao sabermos que nosso filho estava doente, queríamos aconchegá-lo e dar-lhe o carinho materno, às vezes mais importante que o remédio. Ficamos frustrados quando não pudemos oferecer essa assistência, sem conseguir vê-lo, inconformados e muito abalados. Estado emocional que nunca havíamos experimentado, embora desfrutasse de todos os cuidados da esposa Éricka, que é enfermeira, extremosa e dedicada, sempre a seu lado, em todos os momentos, dando-lhe amor e carinho. Esse contexto gerou ansiedade, angustia, e vontade de agir e de fazer alguma coisa, mas nos sentíamos impotentes, fragilizados, incapazes de impulsionar a vida diante do perigo de morte. Medo e pânico. Era o vírus o inimigo.

Nessa hora quem é cristão sabe que só Deus pode o impossível. Situação que mexeu com toda família e amigos. Grupos foram criados e mensagens não paravam pelas redes sociais com ênfase o WhatsApp. Cada um apoiando o outro e segurando as emoções numa interação relacional humana que tinha pressa. Esperava-se uma resposta e ela demorava diante da lentidão da recuperação. Os médicos nos falavam: “É assim mesmo a evolução, é necessário paciência”. Aquela demora, agora, depois do ocorrido, nem foi tanta. Batia a tristeza e a desolação, o esperar de notícias do amanhã. Palavras surgiam nos encorajando. A filha disse: “Meu irmão as noites existem para que nasça o sol com toda sua intensidade. O inverno ocorre apenas para nos preparar para a primavera, florida, colorida, alegre e próspera! Deus vai nos dar a melhor primavera de todas após o inverno de 2020! Eu creio poderosamente nisso! Deus no comando!”. Os familiares e amigos sempre com palavras encorajadoras como o desse casal que nos disse: “Olá Regina e Itapuan! soubemos agora que seu menino foi atingido pelo COVID 19, mas temos muita fé, esperança e uma grande certeza que Deus o fará sair bem dessa crise. É um momento inesperado e ninguém estava preparado para isto. Aliás nós nunca nos preparamos para uma coisa assim, mas temos muita fé e vocês saibam que contam com nossos sentimentos de esperança, de apoio e de amizade. Boa noite! E as notícias que sejam cada vez melhores”. Foram muitas mensagens nos dando forças e citando orações e preces suplicantes feitas a Deus por sua cura.

Parece uma mentira: durante este tempo, em que se prega o distanciamento e o isolamento social, nossa família nunca esteve tão unida e tão perto um do outro, mesmo os que se encontram em outros estados, e continentes. Isto prova que o conceito de isolamento e distância é relativo. Às vezes, vivemos na mesma casa, debaixo do mesmo teto e não tomamos conhecimento dos sentimentos e das realizações do outro. Ouvimos palavras e testemunhos de amor e afeição e que, talvez noutra circunstância nunca saberíamos nem receberíamos tal afirmação. Eu te amo. Em ocasiões temos vontade de dizer mas esperamos a oportunidade que não virá nunca. Ficamos em união e em grupos de oração rogando a Deus por seu restabelecimento.

Enquanto isso naquele quarto 563 os dias eram devagar, o tempo era interminável, as horas na luta pela vida eram infindas, as noites mal dormidas: os exames, o soro, o antibiótico, o oxigênio, a pressão, a temperatura, a colheita de sangue, a alimentação. Isto num labor contínuo de 24 horas. Agora lembramos do Ministro José Américo de Almeida patrono de nossa Turma Concluinte de Enfermagem de 1966; ao solicitarmos dele uma frase para colocarmos em nossa placa de registro de conclusão do curso, escreveu: “Velar pelos enfermos é uma vigília em que se esquece a própria noite”. Realmente, ali no hospital não se tem noção de dia ou de noite, são 24 horas, e os dias correm sem que nos demos conta. Todos lutavam incessantemente: médicos, enfermeiros, técnicos, higienizadores, nutricionistas, fisioterapeutas, psicólogos e os diretores do Hospital. Demonstravam empenho profissional. Seguiram o esquema terapêutico com os procedimentos metodológicos da UNIMED, pioneira no Nordeste e hoje referência regional. Assim nos explicaram: Na segunda feira ele estava com 30% do pulmão comprometido. Na quarta com 50%, quando resolveram internar. Iniciou o antibiótico ceftriaxona 2x ao dia, com o anticoagulante clexane 1 x ao dia, 40mg, e o corticoide dexametazona. No segundo dia o PCR (proteína C reativa) que é uma proteína produzida pelo fígado, cuja concentração sanguínea se eleva radicalmente, indicativo de processos inflamatórios ou infecciosos. Os leucócitos aumentaram; decidiram mudar o antibiótico para tazocin e teicoplamina. Também foi infundido o plasma convalescente, oriundo de pessoas que tiveram a doença na forma leve. Só podem doar mulheres que não tiveram filhos nuligestas, e homens entre 18 a 65 anos, de acordo com as normas do Hemocentro/PB. O seu irmão Estevam, que já havia contraído a enfermidade, se propôs doar. No 3º dia começou a ser acompanhado pelo pneumologista que trocou o corticoide dexametazona para metilpredinisolona, aumentando a dosagem do clexane, de 40 para 80mg e, ainda prescreveu ventilação não invasiva. Depois desse dia ele começou a melhorar ficando internado até completar os 7 dias do antibiótico. Com o seguir dos dias foram chegando as pequenas melhoras nas taxas referenciais dos exames, mas significativas. Notícias eram dadas pela equipe hospitalar para nos tranquilizar. Sentimos a sensação de estar assistindo a uma corrida em que o atleta fez um esforço muito grande para chegar à linha final e a torcida incentivando que ele não desista e ele, realmente, cruza a linha de chegada e ganha a competição. Diziam o “milagre está acontecendo e sua vida está renascendo para que possa também participar ajudando na cura de outras pessoas”. Foi assim com nosso filho. O hospital, na véspera da alta nos proporcionou uma vídeo conferência em que os familiares puderam ver e conversar à distância fazendo-nos felizes pelo tratamento humano dispensado. Emocionante! Muita tensão.

Nessa fase de melhora progressiva não deixamos de receber palavras de ânimo como as de torcedores nos dizendo ele vai vencer e está perto. Representando o sentimento de todos após a alta, seu sobrinho Antônio Carlos, assim se pronunciou: Hoje é dia de reunirmos em família, mesmo que distantes fisicamente, e oferecermos (todos de cada casa e em tom audível) uma ação de graças pela cura do nosso querido @itapuan Filho! Ele foi guerreiro e venceu o COVID pela graça de Deus, com o auxílio de toda milícia celeste. Peçamos a ELE que proteja nossa família de todos os males ao mesmo tempo que agradecemos pela restauração da saúde de nosso filho, esposo, irmão, sobrinho e tio. Hoje, Titi Puan, o sr. Renasce para o mundo com certeza ainda mais firme de que Deus está do seu lado. Como cristãos que somos, devemos acreditar nos propósitos de Deus para cada coisa e, por isso, achamos o que fica marcado depois do aperreio e da mobilização de tantas pessoas pelo bem. Que isto sirva para o sr ver que é muito amado, não só por todos nós, mas também pelos de fora de nossa família! São nesses momentos que o Senhor, enquanto médico, pode ter dimensão do mister que pratica e do quão sublime é a providencia da cura para o doente que o Senhor trata! Por fim, aqui deixo uma mensagem bíblica que tem me acompanhado já alguns anos e acredito que seja o momento propício para o Senhor meditar: “Nada temas, pois eu te resgato, eu te chamo pelo nome, és meu. Se tiveres de atravessar a água, estarei contigo. E os rios não te submergirão: se caminhares pelo fogo, não te queimarás, e a chama não te consumirá. “ Isaias 43,1-2 .

Foram 7 dias no quarto 563 que pareceram uma eternidade. Diante tantas tribulações, adversidades e sofrimentos eles nos ampliam e nos amadurecem. Tiramos lições e aprendizagens que levamos para o resto de nossas vidas. Este momento nos enriqueceu, fez-nos acreditar que o mundo não é só de maldades, que existem pessoas maravilhosas, humanas e comprometidas com o outro, verdadeiros anjos dispostos a doarem também suas vidas, não medindo esforços para alcançarem o objetivo a que se propuseram quando fizeram o juramento de Hipócrates, ajudar na cura incentivando a vida. Isto vimos e constatamos durante nossa permanência, em espírito, naquele nosocômio, na assistência prestada pelos profissionais e pela diretoria da UNIMED, ao que somos reconhecidos e gratos por toda atenção, carinho e tratamento humano dispensados a Itapuan Bôtto Targino Filho.

* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB

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