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Médico. Psicoterapeuta. Doutor em Psiquiatria e Diretor do Centro de Ciências Médicas da Universidade Federal da Paraíba. Contato: [email protected]

Porque o instante existe

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publicado em 07/07/2020 às 07h00
atualizado em 06/07/2020 às 16h56

Como todos sabem, há na psicologia comportamental, o reforço positivo e o negativo. No primeiro caso, se tudo sair bem, tu ganhas alguma coisa que te serve como estímulo para o comportamento. É aquele negócio: se for aprovado, iremos viajar nas férias. O outro, também aumenta a probabilidade de um comportamento acontecer, no entanto, pela retirada de um estímulo que causa desprazer. Pois vejam, fizemos tantas trelas, que tudo que queremos, é a retirada dessa coisa aversiva da nossa existência. Além do mais, sem mais nem que, nos foram tirados grandes e pequenos prazeres. Aquela rotina de acordar, tomar café, tomar banho, ir para o trabalho. Ir para o trabalho logo cedo, até podia ser chato. Contudo, acabar assim tão de repente, como tudo acabou? Todos para casa já! Foi o que ouvimos. Nem sei se ouvimos, só obedecemos.

Grandes e pequenos sonhos levados. Como num assalto a caminho de algum lugar, levam-nos nosso dinheiro, celular, nossa segurança. O dinheiro nem ligamos. Mas os contatos, os recados, declarações, as fotos, aniversários. Foi assim que nos sentimos. Olhávamos, uns para os outros, por entre as telas das varandas. Da sacada do quintal. Do muro que protege o jardim e as nossas flores. Quando em vez, aparecia alguém para tocar um saxofone, e nos alegrávamos. Alguns choravam. Um toque, triste, lembrando-nos de alguma coisa. De nós mesmos?

O que já sabíamos, no entanto, só acreditamos quando ardeu em nossa pele. Há a capacidade inata de nos adaptarmos, às novas ou asquerosas circunstâncias, que nos trazem os aviões do oriente. Foi pensando assim que redescobri a felicidade. Grande sonho? O maior deles, o mais estupefaciente: Viver! E depois apareceram tantos reforços positivos. O abraço que vamos dar. Um beijo. Coisa mais estranha: um beijo nos fazendo felizes? É que todo amor que havia nessa vida, somente poderia existir a alguma distância. Como nos velhos tempos: através de cartas de amor. Para o filho, para o amor que gera amores; desta feita, com uma facilidade da presença de cartas eletrônicas, com direito a voz e imagem da pessoa amada. Mãe! E a mãe aparece linda do outro lado.

Nossa maior síndrome, nossa fome e nossa sede? Pessoas! E não somente. Não é que cheguei a me sentir feliz por comer um pão crocante com ovo pela manhã? Sim, sem aquele emborrachado e brancura dos pães entregues em casa. Subitamente, todos havíamos sido tomados pelo complexo do Pessoa: além do medo, não sou nada. Nunca serei nada. E fui contar minhas existências; mas, como tão grande Pessoa, não soube quantas almas tenho ou tive. Matemática simples: se muitas almas tivesse, muitas covidas teria. Um recado para terminar: se lhe perguntarem, diga que estou feliz. Sobre felicidade? Cada um tem seu Motivo. Por que canto? Ah! Deixa-me repetir Cecília Meireles (foto). Eu canto, porque o instante existe.

* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB

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