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Professor de História pela UFPB e analista político

Cartaxo: um governo de homens

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publicado em 17/05/2016 às 09h21
atualizado em 18/05/2016 às 08h57

O primeiro ato assinado pelo presidente interino Michel Temer, do PMDB, foi nomear um ministério exclusivamente formado por homens.

Essa ausência feminina nos cargos dirigentes do país, depois de uma mulher presidir a República pela primeira e nos acostumarmos à presença delas entre as ministras dos últimos governos, ver a completa ausência delas no primeiro escalão do governo foi um choque para o país.

O impacto político disso ainda precisa ser medido em toda sua extensão, mas que certamente já produziu um grande desgaste em um governo carente de legitimidade, especialmente entre as mulheres, que são maioria na população e também no eleitorado do país.

Se for verdadeira aquela história de que a primeira imagem é a que fica, o governo Temer parece indelevelmente marcado como um governo machista que não viu a exigência – pelo menos simbólica – de ter mulheres na sua composição.

Para piorar ainda mais a situação, Michel Temer, sob o argumento falacioso da redução de gastos, extinguiu o Ministério das Mulheres, da Igualdade Racial e Direitos Humanos e o incorporou ao Ministério da Justiça e Cidadania, sob o comando Alexandre de Moraes, que era Secretário de Segurança Pública do governador paulista Geraldo Alkmin.

Entre outras coisas, Moraes é questionado por seu escritório de advocacia representar pessoas ligadas ao Primeiro Comando da Capital, o famigerado PCC. Foi a esse o homem que Temer entregou a condução das políticas para as mulheres, que promete trazer de volta o velho tratamento da questão social como caso de polícia.

90% da gestão Luciano Cartaxo são homens

Esse fato levantou uma discussão que pode ter impacto nas eleições municipais que se avizinham. Prefeitos serão cobrados a respeito da composição de gênero de seus governos. Em razão disso, procurei informações a respeito para saber a composição do primeiro escalão da administração de Luciano Cartaxo, em João Pessoa.

Depois de levantar nome a nome, secretaria por secretaria, surpreendeu-me a baixíssima participação de mulheres entre os/as que ocupam os principais postos da administração pessoense: dos 30 cargos mais relevantes, incluindo o prefeito, seu vice, e mais 28 postos com status de secretaria, apenas três são mulheres.

Ou seja, 90% dos postos-chave da Prefeitura de João Pessoa são homens, o que revela que, mesmo nesse ponto, o estilo de governar de Cartaxo o aproxima de Temer além do que se pode imaginar. Não é irrelevante lembrar que o partido de Luciano Cartaxo, o PSD, apoia e participa do governo Temer.

Nem uma secretaria para cuidar da questão da mulher Luciano Cartaxo criou.

Enfim, quando o assunto é participação feminina na administração pública pessoense, o prefeito Luciano Cartaxo reproduz a velha lógica patriarcal que apenas ajuda a manter um predomínio masculino na política, que pouco reflete o avanço das mulheres no mercado de trabalho e no educação.

Nem muito menos reflete o peso das mulheres na população pessoense. Segundo o senso de 2010, as mulheres são maioria da população pessoense, representando mais de 53% de sua composição de gênero.

Numa disputa que promete ser acirrada contra a candidata do PSB, Cida Ramos, é bom Luciano Cartaxo começar a levar em conta esse traços simbólicos de seu governo, cujo significado tem um alcance que uma candidata mulher pode ajudar a desvendar para o eleitorado.

E não apenas para as mulheres.

PS. Esclareço aos leitores que, em razão de descuido de minha parte, escrevi que o “Nem uma secretaria para cuidar da questão da mulher Luciano Cartaxo criou”. Não é verdade. A Secretaria Extraordinária de Políticas Públicas para as Mulheres existe no organograma da prefeitura desde 2010, quando foi criada pelo então prefeito, Ricardo Coutinho e foi mantida tanto por Luciano Agra quanto por Luciano Cartaxo. Fica valendo o que foi afirmado no restante da coluna.

* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB

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