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Jornalista desde 2007 pela UFPB. Filho de Marizópolis, Sertão da Paraíba. Colunista, apresentador de rádio e TV. Contato com a Coluna: [email protected]

O direito de escolher

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publicado em 23/03/2016 às 09h32
atualizado em 23/03/2016 às 08h43
palacio do planalto

Acostumado a viver altos e baixos, Brasil saberá apontar o caminho e encontrar a saída de superação

Transfiro a coluna de hoje para a pena do meu confrade e amigo Evaldo Costa, jornalista de primeira, natural da paraibana Parari, mas habitante há décadas da pernambucana Recife.

E o faço porque ao ler seu artigo no Diário de Pernambuco, um dia depois das manifestações a favor do impeachmet, me senti representado. Evaldo botou no papel tudo que penso para esse momento da vida pública brasileira, com o talento, experiência e conhecimento histórico que faltam a mim e sobram a ele. É uma tradução de precisão certeira e incrível censo político. Daqui pra frente, é com ele.

O direito de escolher
Um dos fatores agravantes da crise política que estamos vivendo é a ação de uma minoria ativa e ruidosa que domina os canais de expressão pública e faz parecer que todos nós, os milhões de brasileiros espalhados por todos os recantos do território nacional, pensamos igual a eles.

De forma calculada, a minoria ruidosa faz todo esse barulho exatamente para parecer que fala por mim e por você que me lê, sem que tenhamos sido sequer consultados. A tática é antiga. Chama-se construir a polarização. Dividida em dois grupos, troca sopapos nas esquinas e se açoita nas redes sociais. São inimigos, mas também aliados. Brigando entre si, os dois saem ganhando.

Agressivamente, procura constranger o debate político com técnicas de intimidação assemelhadas às do fascismo. Ninguém pode apontar algo positivo na ação de um governo de 13 anos de duração sem ser acusado de comprometimento com a corrupção. Ninguém pode criticar os desvios e a pressão política indevida sobre o Judiciário sem ser chamado de golpista.

Neste domingo vimos outra vez este filme. Independentemente do que dizem os criativos contadores de multidões, de fato houve muita gente nas ruas. Mas é inegável também que muita gente que teria o que dizer, contra ou a favor do governo, ficou em casa por não se sentir confortável nem ao lado de quem pede ditadura nem na companhia de quem, diante das revelações da Lava-Jato, diz que errados são os juízes, não quem se apossou do patrimônio público.

Falei em fascismo e reafirmo. Ou não há traços inaceitavelmente autoritários no açulamento de turbas para atacar fisicamente adversários? É mentira que impeachment é golpe. Trata-se de instituto legitimamente inserido na Constituição pela Assembleia que elegemos. Também não é verdade que estejamos precisando mudar o regime político igualmente constitucional. A solução para nossos problemas deve ser encontrada dentro da ordem jurídica que construímos da forma mais democrática de sempre.

O Brasil é muito mais sofisticado do que esse pobre menu binário. Nunca fomos o povo que aceita o prato feito proposto no cardápio. Mesmo no passado remoto, quando outros países latino-americanos em estágio civilizatório equivalente se dividiram e se estraçalharam em guerras selvagens, o Brasil quase sempre fez escolhas mais complexas, construindo sínteses dialéticas mais ricas, mais pacifistas e mais progressistas. Eu disse quase porque também fizemos guerras absurdas.

Entre se tornar independente ao cabo de uma guerra civil sangrenta, com dezenas de milhares de baixas na população civil, o Brasil preferiu um arranjo “pelo alto”, lento, mas pacífico, dividindo a família imperial portuguesa. Não foi o caminho que eu preferiria. Mas é o tipo de escolha que marca a nossa história desde sempre.

E é com essa capacidade de se reinventar, fugindo das fórmulas prontas, que o Brasil vai superar esse momento de confrontação nociva e sem sentido. Entre um radicalismo e o outro, o Brasil vai dizer não aos dois e encontrar a nova trilha, o eixo do futuro. E tudo começa por recusarmos a falsa dicotomia. Entre o inseto e o inseticida, escolhemos o chinelo. Entre o sujo e o mal lavado, ficaremos com o chuveiro.

Ondas…
Foi intenso e carregado de indiretas o entrevero público entre o jornalista campinense Milton Figueiredo e o deputado Veneziano Vital (PMDB), ontem.

…Sonoras
O debate foi ao ar na 98 FM/CG. Veneziano entrou para rebater manchete de processos e ouviu um firme Milton questionando sobre a crise política.

Panos…
Ponderado ao extremo, o deputado Nabor Wanderley (PMDB) defende uma trégua entre seu partido e o PSB, do governador.

…Quentes
Reconhecendo o clima pesado entre as duas legendas por conta das eleições municipais, Nabor prega “respeito mútuo”.

Gervásio MaiaGervásio: a carta de 2018
É consenso. Peemedebistas e socialistas acham que o governador Ricardo Coutinho está preparando o deputado Gervásio Maia (PSB-foto) como trunfo para sua sucessão em 2018. E faz todo o sentido. Não se sabe se para a vice-governadora Lígia Feliciano (PDT)…

BRASAS
*Falhas – A procuradoria jurídica da Câmara encontrou vícios formais no pedido de CPI da Lagoa.

*Parecer – Se depender do que o senador José Maranhão diz nos bastidores, o PMDB não demora a romper com Dilma.

*Honraria – Para Irene Marinheiro, do Centro da Mulher 8 de Março, as expressões usadas por Lula nas gravações, entre elas “grelo duro”, honram as mulheres.

*Trincheira – Carlos Frederico, derrotado na eleição da OAB, se organiza para manter acesa a chama de oposição a Paulo Maia.

*Partilha – Presidente da API, João Pinto dividiu a responsabilidade da posição da entidade sobre o impeachment com toda a sua diretoria.

FALA CANDINHA
Crucificação
Embalada pelo espírito da Semana Santa, dona Candinha soltou a sua: “Com tantos pecados, o governo caminha para o calvário”.

PONTO DE INTERROGAÇÃO
Teori Zavaski lavará as mãos como Pôncio Pilatos?

Frei AnastácioPINGO QUENTE
“A OAB sempre esteve do lado da burguesia e da direita”. Do deputado estadual Frei Anastácio (PT).

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