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LÍDER CAMPONESA

Elizabeth Teixeira será homenageada nesta terça na Câmara

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publicado em 14/09/2015 às 15h33
atualizado em 14/09/2015 às 12h35

O Plenário da Câmara Municipal de Vereadores de João Pessoa (CMJP), nesta terça-feira, 15, às 15h, irá receber uma das Sessões Especiais mais emocionantes dos últimos anos, a entrega da “Medalha Margarida Maria Alves” para a líder camponesa Elizabeth Teixeira, que aos 92 anos continua sendo um dos principais símbolos da luta pela terra, nas apenas na Paraíba, mas em todo o Brasil.

A comenda é uma propositura do vereador Fuba (PT), que foi pessoalmente fazer o convite para Elizabeth, que mora no bairro de Cruz das Armas, em João Pessoa. “Assim que chegamos vimos Elizabeth nos esperando no portão da sua casa. Não consigo explicar a sensação de encontrá-la pessoalmente e saber que cada marca da idade representa um momento de luta, de sofrimento, e principalmente, de esperança”, descreveu o vereador, que foi recebido com um forte abraço pela esposa de Pedro Teixeira.

Espontaneamente, a líder camponesa contou um pouco da sua história, que começou com o seu casamento com Pedro Teixeira, escondido da família dela, até o momento que assumiu a luta do marido, logo após ele ter sido assassinado (1962): “Pedro sempre me perguntava se ele morresse se eu assumiria a luta, e eu nunca respondia. No dia que ele morreu, abracei ele e disse que agora eu tinha a resposta: eu iria assumir a luta. A notícia logo se espalhou, e assim que deixei o local que ele estava fui recebida por várias mulheres dos companheiros. Elas me diziam que eu não estaria sozinha, nem eu e nem os meus onze filhos”.

Após escutar essa história, que já foi contada em livros, filmes, entrevistas e documentários, Fuba fez o convite, e quando falou o nome da comenda que ela iria receber a reação foi espontânea. “Margarida Maria Alves? A companheira Margarida!”, disse Elizabeth lembrando da também líder camponesa Margarida Maria Alves, que foi assassinada em Alagoa Grande por causa da luta pela terra.

Não tinha honraria melhor para homenagearmos Elizabeth Teixeira. Margarida Maria Alves esteve nas mesmas lutas, no entanto seu fim foi trágico. Acredito que na verdade teremos duas homenageadas, duas mulheres de luta e de força, mulheres que entregaram a sua vida pelo bem do próximo. A vida de Elizabeth e Margarida servem de inspiração até hoje, e me sinto honrado em poder proporcionar esse momento para Elizabeth e sua família”, destacou Fuba.

Sobre Elizabeth Teixeira (Trechos do texto “Elizabeth Teixeira: 90 anos de luta” da jornalista Renata Ferreira)

Ela abriu mão do conforto para viver o amor ao lado de um trabalhador pobre e analfabeto. Com ele, formou família e ajudou a construir a história do movimento sindical agrário no Brasil. A paraibana Elizabeth Teixeira é a face feminina das lutas camponesas da metade do século passado. Junto ao marido, João Pedro Teixeira, fundou, no município de Sapé (PB), o maior sindicato de trabalhadores agrários do país até então. E assumiu a liderança do movimento depois do assassinato dele, em 1962.

Depois da morte de João Pedro, em 2 de abril de 1962, Elizabeth assume a liderança do movimento, ao lado de nomes como Pedro Fazendeiro e Nego Fuba. Foi presa por várias vezes e, numa delas, retorna à casa para se deparar com a tragédia do suicídio da filha mais velha, Marluce, que não suportou conviver com a possibilidade de a mãe ter o mesmo destino do pai.

Em 1964, com a instalação do regime militar, Elizabeth é presa pelo Exército e passa oito meses na cadeia. Na volta, precisa fugir para não ser morta. Esconde-se na cidade de São Rafael, no interior do Rio Grande do Norte, com apenas um dos 11 filhos – Carlos, que é rejeitado pelo avô por se parecer muito com o pai. Passa 17 anos afastada da família, vivendo com a identidade de Marta Maria da Costa.

Isso até 1981, quando o cineasta Eduardo Coutinho resolve retomar as gravações de “Cabra Marcado para Morrer”, interrompidas pela truculência da ditadura. Por intermédio de um dos filhos de Elizabeth, Coutinho reencontra a líder camponesa e conclui o trabalho. A viúva de João Pedro vem, então, morar em João Pessoa, no bairro de Cruz das Armas, em uma casa que lhe é presenteada pelo próprio Eduardo Coutinho.

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