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Triste conclusão

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publicado em 23/04/2015 às 17h39

Ultimamente, venho quebrando minha cabeça de empresário e economista para tentar entender o enigma formado por um Brasil economicamente ruim, um Nordeste estável e uma Paraíba em crescimento.

Afinal, por que o PIB brasileiro praticamente zerou no ano passado, enquanto o do Nordeste cresceu (3,7%) e os indicadores paraibanos estão em expansão – com direito a ganhar destaque em setores como o de serviços (terceira maior alta do País em março)?

Recolhendo pedaços de informações – e mantendo o foco basilar de que a crise se situa entre o Custo Brasil e a dantesca competitividade da China – cheguei a uma triste conclusão:

O Nordeste, por ter perdido durante muitos anos a locomotiva do progresso, desembarca agora suas atividades em estações mais protegidas da crise – onde chineses não conseguem ou não têm interesse de chegar.

Verdade que estamos em uma região melhorada. Ainda não é uma locomotiva, mas os trilhos do progresso já cruzam as paisagens nordestinas.

Mas mesmo neste Nordeste renovado, a produção industrial ainda é pífia no bolo de receitas geradas na região.

E é justamente a indústria que mais sofre com a crise nacional.

Não sem razão, a estagnação ganha fôlego exatamente onde há atividade econômica mais pujante, fundamentada primordialmente na indústria – um setor que se encolhe diante da capacidade chinesa de produzir infinitamente mais barato. E que está de olhos bem abertos para o mercado nacional, presa fácil e suculenta, formada por mais de 200 milhões de consumidores.

Nós, no Nordeste, não somos tão apetitosos ao paladar chinês. A Paraíba muito menos.

Afinal, com quem eles competiriam aqui? Com nossos especialistas em peixada?

Feliz ou infelizmente, é nossa insignificância econômica que nos mantêm incólumes – ou quase isso.

E até onde somos graúdos, estamos mais protegidos. Dou como exemplo a Construção Civil, que ocupa fatia substanciada da atividade econômica local.

Dentre seus custos, está a mão de obra. E não seria interessante importar mão de obra chinesa, que lá custa infinitamente mais barata, mas que aportando aqui conquistaria todas as garantias das leis trabalhistas brasileiras, reduzindo os lucros da importação a zero.

Ou seja: teríamos trabalhador chinês com custo de brasileiro.

Outros principais componentes que entram nesta conta são a areia e a brita, que a equação custo/frete obriga a aquisição local. E, ainda, o cimento – fabricado em nosso pujante polo cimenteiro, resultado da dádiva divina que generosamente alocou em nossos subsolos uma das maiores reservas calcárias do País.

A crise ainda nos belisca em função da extrema dependência das verbas públicas (FPE e FPM). E estados e municípios veem suas receitas minguarem em consequência da estagnação econômica do País.

Os recursos encolhem, porém jamais secam – diferente do que ocorre na empresa privada, dependente exclusiva de suas próprias receitas.

Pode parecer ilógico, mas é confusamente verdadeiro: sofremos menos porque somos mais pobres.

Portanto, pelo menos por enquanto o risco que corremos por aqui de invasão chinesa vem dos Chine in Box da vida.

Mas quem tem paladar apurado há de concordar: eles nunca ganharão em sabor das nossas moquecas.

*Reprodução do Jornal Correio da Paraíba.

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