João Pessoa, 02 de março de 2015 | --ºC / --ºC Dólar - Euro
Adolescente que é única ouvinte em uma família de surdos (não mudos nem surdos-mudos!!!) descobre ter dons canoros e vivencia o conflito de disputar concurso musical em Paris ou permanecer em uma cidade do interior (onde vende queijos e ‘trabalha’ como intérprete da família).
O roteiro simples de ‘A família Bélier’ (produção francesa de 2014, com direção de Eric Lartigau, o mesmo de ‘Os infiéis’) resultou em um filme excelente, por ter uma bela história sobre amor, valores morais e inclusão.
Se você é surdo ou tem em seu círculo de relacionamento afetivo algum surdo, saberá que o núcleo não-ouvinte do filme tem um nível altíssimo de perfeição interpretativa.
Karin Viard e François Damiens, que interpretam os pais da jovem Paula (Louane Emera) convencem como surdos ao utilizarem a língua de sinais e todo o arsenal de gestos, caretas e representações semióticas.
A adolescente Paula detesta o ‘infortúnio’ de ter uma família de surdos (embora seja evidente o amor que nutre por todos). Ela não personifica o papel de mocinha, evidenciando insatisfações…
O diretor Lartigau estrutura – com muito bom humor – debates a respeito da exclusão social dos surdos, do preconceito e dos ruídos comunicacionais.
O filme francês faz graça ao tratar de pelo menos meia dúzia de temas muito sérios e de discussão permanentemente necessária.
O corte do cordão umbilical entre pais e filhos é um dos temas. Mais uma vez, espectadores com filhos adolescentes terão forte identificação.
Um debate mais técnico e mais profundo leva à reflexão a respeito dos códigos comunicacionais que envolvem a surdez e a língua de sinais (língua, não linguagem!!!). O roteiro deixa claro: surdez não é uma deficiência e sim uma identidade social.
Um ponto negativo no filme é a ‘necessidade’ que a Paula tem de usar ao mesmo tempo a língua de sinais e a língua francesa em cenas autoexplicativas (devido à ausência massiva de conhecimento da plateia com relação às sinalizações). Isso não tira, porém, os méritos da obra.
Outro ponto discutível é o uso de atores ouvintes para os papéis de surdos (há uma reserva de mercado na França e isso foi motivo de polêmica).
No final das contas, ‘A família Bélier’ é um filme divertido (muito divertido!) e que faz lacrimejar os olhos até mesmo de espectadores durões como eu. Sem medo do chavão, ‘A família Belier’ é imperdível!!!
Podcast da Rede Mais - 23/04/2024