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Leia o discurso da posse de Ronaldo no Governo do Estado

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publicado em 08/07/2012 às 15h24

 "Vivo a emoção deste instante. Não como um instante de emoção, pois aqui não é apenas um sonho que se realiza, é um marco que se estabelece. Mais do que a honra de governar, assumo o compromisso de mudar a Paraíba. E mudaremos. Mudaremos porque nas ruas se agiganta o barulho ensurdecedor do clamor social. Pais e mães que gritam por trabalho, estudantes que lutam por escola, crianças que choram pela própria vida.

Dói nos nossos ouvidos de governantes o grito do que não tem emprego, dos empregados que não têm salário, dos assalariados que não conseguem pão. Dói na nossa consciência de cidadãos o pranto dos pais que perdem filhos como moscas, massacrados pelos índices recordes e inquietantes de mortalidade infantol.

Mudaremos, para que as obras do governo não sejam mero instrumento de vaidade pessoal dos governantes, mas merecido penhor de dignidade dos governados.

Mudaremos, porque este governo que nasceu nas ruas, nas praças, e se revigorou com o sonho das multidões, este governo jamais se contentará com o recinto fechado dos gabinetes, muito menos com soluções excludentes dos conchavos.

Mudanças haverá, de comportamentos e atitudes.

Mudaremos e avançaremos, por mais firmes que sejam as amarras que tentem nos prender, por mais fortes que sejam os grilhões que tentem nos imobilizar. É preciso ousar a mudança, mais que temê-la. É preciso temer o continuísmo, mais que ousá-lo, e criar caminhos novos mais que evitá-los.

A realidade da Paraíba é tão dramática que impõe reiterado compromisso de mudança e, ao mesmo tempo, o máximo de humildade e de coragem para executá-la.

Mergulhado na crise que asfixia nossa Paraíba, meus olhos têm a visão do futuro, com minha alma trazendo ao presente as imagens que recolheu no passado. Assumo o governo da Paraíba na fase mais aguda da mais aguda crise de sua história. A Paraíba empobrecida e humilhada pelo recorde vexatório de ser o mais pobre entre os pobres.

Os números do empobrecimento gradativo estão na vida do povo e nenhuma pirâmide, por mais faraônica que seja, conseguirá afastar de nossa gente o travo de suas próprias e crescentes dificuldades. desemprego. Fome. Miséria e desencanto. Agricultura desorganizada, indústria sem apoio, comércio sem estímulo. Crianças sem escolas e escolas sem alunos. Números inaceitáveis de óbitos infantis, a menor esperança de vida dentro de todo o Nordeste. De cada dois paraibanos, um está fora da sua terra, um terço de nossa gente constrói o progresso de outros estados, porque a nossa Paraíba, nos últimos anos, usurpou até mesmo o direito de os paraibanos permanecerem na Paraíba.

Encontro uma Paraíba degradada em suas tradições de dignidade e seriedade. O Paraiban fechado, porque a gastança irresponsável desbancou a solidez de outrora; o Estado sucateado e preso nos atoleiros de uma sucessão de descaminhos; a Cidagro na falência, amesquinhada como máquina de incompetência e semente de inoperância. A Saelpa em estado de choque, vendo apagarem-se as últimas luzes de esperança de soerguimento. O funcionalismo em atraso, uns a mais, outros a menos tempo. Alguns até há cinco meses, com sua sobrevivência hipotecada em bancos e sua dignidade negociada com empreiteiros. Órgãos fechados, empresas deficitárias, secretarias esvaziadas.

Encontro dívidas que imobilizam o estado, e encontro dívidas que sufocam a esperança, extirpam a fé e plantando o desespero. Testemunho com angústia uma Paraíba despedaçada. Mais importante, porém, do que saber quem a deixou assim, é o dever de não deixá-la assim. Não busco, por isso, culpados da destruição que choramos. Busco parceiros da reconstrução que queremos. A Paraíba reviverá.

Perseguiremos, com a obstinação dos crentes e a crença dos obstinados, o saneamento financeiro do estado, até para reverter a situação vexatória que o faz imobilizado pelos próprios erros e refém da inconpetência ou da irresponsabilidade. Esse saneamento financeiro, contudo, não se esgotará em si mesmo. Mas se constituirá em instrumento de política de governo, para se conseguir o saneamento social – este, sim, objeto único de nossas ações. O êxito do saneamento que conseguiremos será quantificado pelas vidas das nossas crianças arrebatadas da morte prematura, pelos anos que acrescentarmos à vida média dos paraibanos e pela melhoria das condições de vida do povo no seu dia a dia.

Não me cobrem obras de pedra e cal. A Paraíba, felizmente, tem razoável estrutura de serviços que nós vamos fazer funcionar. Não me julguem por obras físicas grandiosas, desnecessárias ou adiáveis, mas por ações de governo que permitam aumentar o emprego e a renda dos paraibanos. Não esperem milagres. Estes são exclusivos de Deus, e de Deus haveremos de receber suas bênçãos protetoras e proteção de seus desígnios. As circunstâncias me fizeram herdeiro dos caos administrativos. Mas me ungiram, sobretudo, depositário de esperanças. De esperanças que embalaram sonhos, de sonhos que geraram forças, de forças que se uniram no grito que ecoou na Paraíba inteira, sacudindo seu sentimento de paraibanidade. Mais que o caos, o destino me exige que administre sonhos.

Tenho consciência de que o desafio que assumo não é missão de um homem só. Não é tarefa de um só partido. É responsabilidade de quantos têm responsabilidade. É trabalho de uma geração. É encargo de uma sociedade inteira, por todos os seus setores organizados, por todos os seus segmentos mais expressivos. A mudança da Paraíba é cruzada que não prescinde de qualquer colaboração. Por mais profundas que sejam as divergências políticas. Por mais crescidas que sejam as vaidades de alguns e orgulho de outros, a Paraíba é maior que todos nós. Contamos com a firmeza solidária deste Poder Legislativo. Não adversário, não concorrente do Executivo.

Um e outro soberanos mandatários populares. Temos consciência de que não se decide apenas o futuro da Paraíba e o desenvolvimento de seu povo. Decide-se também a consolidação e a estabilidade do próprio processo democrático. É preciso entender, de uma vez por todas, que o malogro dos governos ou o descrédito do Legislativo não comprometem apenas indivíduos, mas põem em risco a própria credibilidade do voto como instrumento pacífico de transformação social. Nosso governo, a nem por ação nem por omissão, contribuirá para golpear as instituições.

De minha parte, apagaram-se todas as marcas da disputa eleitoral. Se as forças políticas hoje estão programaticamente diferenciadas, há unidade do povo, parceiro de esperança e irmão de sonhos. Repito, com orgulho, e com princípio de um governo, o que já dissera antes: se ontem era o candidato de muitos, hoje sou o governo de todos. Quero a união e prego a conciliação. A Paraíba está diminuída demais para ficar dividida. Ela quer soma de vontades na multiplicação de desejos. É uma operação fundamental para o seu futuro. Entretanto, se houver insensibilidade a essa convocação, nem assim desertarei dos meus propósitos. Confio que acertarei porque não estarei só. Há na terra homens e mulheres de boa vontade, e no alto santas compadecidas que na terra também foram mães.

Falo aos funcionários públicos, pois, afinal, é com cada um deles que começo o estado. É com eles que pretendemos reorientar a ação do estado para sua missão precípua de mediador dos conflitos sociais e de prestador de serviços essenciais. É com eles que se pretende, em definitivo, resgatar a dignidade da função pública, abastardada ao longo do tempo por quanto fizeram do serviço fonte de ócio remunerado e de criminoso sinecurismo. Ao funcionalismo devo garantir que não quero atrasar salários e que vou pagar os salários atrasados. Mas ninguém me queira cúmplice da criminosa dilapidação do patrimônio público, representada pelas acumulações indevidas, pelo recebimento sem contrapartida de trabalho, ou até pelas procurações fraudulentas que ressuscitam mortos ou corporificam fantasmas. Tenho dito que pagarei aos vivos e não aos vivos demais. O interesse do estado que me cabe defender e preservar proíbe que o governo se torne refém de privilégios de qualquer origem ou de corporativismo de qualquer inspiração.

Nada se fará, sobretudo, sem a dedicada participação do povo, que em nosso governo encontrará espaço de organização para se transformar em agente de seu próprio desenvolvimento. É o povo por sua mobilização, pela força de sua esperança, que me infunde coragem e fé para enfrentar a missão e o desafio que assumo. Apesar das dificuldades e da descrença eu creio. Apesar das desconfianças, eu confio. E confio e creio porque eu vi nas ruas e nas praças da minha terra multidões que se reuniam e se emocionavam embaladas por um mesmo sonho coletivo. Confio e creio porque vi homens e mulheres se darem as mãos e unidos cantarem um canto à esperança e ao futuro. Confio e creio porque vi as faces do meu povo irrigadas de lágrimas da mais sincera emoção, celebrando a aurora que antevia depois de longa e sombria noite.

As lágrimas do meu povo não correram em vão, nem inútil foi o seu canto. Com os olhos postos em Deus, de mãos dadas e corações cingidos, vamos à luta, com a mesma união que transforma a realidade e o sonho. E com a mesma fé que faz canto de transformação o que era somente hino de esperança. Pois é a Paraíba unida que, de olhos no futuro, anunciará o raiar da aurora. Que Deus me preserve na simplicidade dos humildes, na fidelidade aos compromissos com o povo. A Paraíba vai mudar!".

*Texto extraído do livro A Fala do Poder, de Nonato Guedes

Lanacaprina

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