João Pessoa, 10 de outubro de 2015 | --ºC / --ºC Dólar - Euro

ÚltimaHora

Um pouco de malandragem…

Comentários: 0
publicado em 10/10/2015 às 09h45
Envelhecer tem muitas vantagens (apesar das limitações físicas, temores existencialistas e a certeza da morte).  Quando criança, sonhava ser velho para reinar entre os animais. Meu avô – de quem só tenho lembranças por ouvir falar – tratava-me com um carinho brutal. Um homem brutalmente carinhoso. Corpanzil, para cima e para os lados. Sempre o imagino como um rei. Um doce bárbaro que já nasceu adulto…
Envelhecido, ‘cumpriu sua sentença’… Meu rei de copas, balofo e ranzinza, parece ter partido sem experimentar a liberdade da criança que nele habitava. Era filho de um professor paulista, engomadinho e disciplinado – o meu bisavô – e de uma índia potiguara de olhar assustador e que costumava comer carne crua – a minha bisavó. Pouco espaço havia para exercícios de afeto. A responsabilidade e a servidão falavam mais alto. E a criança parecia envelopar um adulto…
Teve seis filhos, inclusive o meu pai. Ensinou a todos os ‘caminhos corretos’. A todos mostrou os caminhos dos conhecimento e da verdade. Mas, não ensinou nenhum deles a brincar. Não ensinou a nenhuma de suas crianças o que era ser criança. E não ensinou porque só podemos ensinar aquilo que já aprendemos. Queimou etapas. Pulou fases. Matou seis crianças e criou seis adultos…
Desagrada-me a mim imaginar que minha criança poderia não estar brincando em meu coração. Porque estou certo de que somente minha criança pode me salvar do mundo cão. É a criança que habita em mim a salvar os meus dias com um pouco de malandragem, provando que só é possível ser feliz quando se tem a leveza das pipas, a força dos carrinhos de lata e a dulcidão das bonecas de pano.

Leia Também

MaisTV

Podcast +Fut: entrevista com treinador do Sousa e início de trabalho de Evaristo Piza

Podcast da Rede Mais - 23/04/2024

Opinião

Paraíba

Brasil

Fama

mais lidas