João Pessoa, 30 de agosto de 2015 | --ºC / --ºC Dólar - Euro
Um homem salta para o abismo e, exatamente por isso, não morre. Melhor: sai de lá multiplicado. Sempre visualizei essa imagem ao pensar a respeito da paternidade. Isso desde as mais remotas leituras dos gibis do Fantasma (herói imortal!).
Essa imagem me fez enxergar o útero como o templo da imortalidade. Ambiente fecundo de nascimento e renascimento de algo muito além das meioses.
O salto ao útero é uma tentativa de ser imortal. O salto ao útero é a própria imortalidade. Há muitas formas de se tornar imortal. O salto, ejaculatório por natureza, é uma delas. Um homem que salta, Leminski, é muito mais elegante.
Ao saltar, o homem ornamenta-se de poderes que entram em confronto com todas as ampulhetas do mundo. Um homem que é pai tem poder sobre as ampulhetas. Um homem que é realmente pai está longe de ser um pulha.
Descobri minha imortalidade e isso me trouxe uma calma sorridente. No mundo táctil é algo parecido com a suavidade do contato que os maratonistas têm com as fitas que marcam as linhas de chegada.
Uma das brincadeiras que meu filho Theo, de sete anos de idade, costuma fazer é chamar a si mesmo de ‘Jãmarrí Nogueira’. Diz ele ser o próprio. Eu sorrio e penso ser verdade. Filosoficamente verdadeiro. Dialeticamente verdadeiro.
Sol do meio-dia, meu filho Theo é Jãmarrí Nogueira. Eu, Jãmarrí Nogueira, começo a ser sombra de mim mesmo (até que seja meia-noite em mim…). Eis a imortalidade.
Já não sou mais tão jovem e nem sei se ainda sou capaz de passar por cima de tudo. Mas, quando o papo é ‘ser pai’, sei muito bem o que cantarei depois…
Podcast da Rede Mais - 23/04/2024