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Com grana curta, brasileiros atrasam contas de água e luz

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publicado em 05/07/2015 às 13h16

Qualquer pessoa que administre o orçamento familiar percebeu que este ano as contas básicas estão mais caras. Os brasileiros com menor renda sentem ainda mais os reflexos da inflação, já que a renda não acompanha o aumento dos preços dos produtos essenciais.

Só na Grande São Paulo, a energia elétrica aumentou foi de 83,23% em dois anos e meio. Resultado disso: com menos dinheiro disponível, cresceu o número de pessoas com contas de luz e água atrasadas, segundo levantamento do SPC (Serviço de Proteção ao Crédito).

Atrasar pagamento de conta é prática condenável, afinal os boletos têm datas de vencimento para o débito ser quitado naquele dia. Porém, deixar de pagar uma conta de luz, água, telefone ou condomínio por um curto período de tempo pode não ser tão ruim para quem está apertado.

Isso porque os juros cobrados são, em média, de 1% ao mês, mais uma multa 2%. A avaliação é de Renato Meirelles, presidente do Data Popular, instituto especializado em estudar o comportamento de consumo das classes C, D e E.

— A inadimplência dessas contas cresce mais porque elas têm juros menores. Não é que a pessoa ache menos importante não pagar a conta de luz. Mas é que ela pode atrasar dois meses pagando quase nada de juros antes que cortem. Muito diferente do cartão de crédito, por exemplo.

O número de pessoas que ficaram com o nome sujo por não pagar contas de luz e água aumentou 13,31% em maio na comparação com o mesmo mês de 2014, segundo o último levantamento do SPC. No setor de comunicações, que inclui TV, telefone e internet, a alta foi de 12,02%. Mas existe outro problema que vai além dos juros, segundo a economista-chefe do SPC, Marcela Kawauti.

— O resultado também reflete a disposição crescente dessas concessionárias em negativar os consumidores inadimplentes, como forma de acelerar o recebimento dos compromissos em atraso.

Na opinião de Marcela, nem sempre os brasileiros observam a mordida dos juros, gerados por uma conta em aberto, mas o que vai ser cortado primeiro.

— Nessas horas, a maioria acaba sendo imediatista. Se for a água que corre o risco de ser cortada, é a primeira que vai ser paga.

José Vignoli, educador financeiro do SPC, diz que as famílias que estão enfrentando situações como essa precisarão cortar gastos.

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— Muitas das pessoas estão fazendo um rodízio de não pagar a água para pagar a luz para não ser cortada. A pessoa que chega a esse estágio, muitas vezes, já passou pelo cheque especial e pelo cartão de crédito. Mas, se essa atitude for temporária, para que ela adeque o orçamento para uma vida equilibrada, não interessa a que nível, mas equilibrada, isso pode ser passageiro.

Experiência da classe C

O presidente do Data Popular diz que a experiência mostra que, apesar de ser a que mais sofre, a classe C consegue administrar bem situações de crise.

— O que a gente tem é o [ministro da Fazenda] Joaquim Levy dentro de cada casa brasileira, que é a dona de casa, que está fazendo o ajuste dela. Conta uma conta, atrasa outra, para poder equilibrar o orçamento. Isso é o que vai fazer a diferença. A classe C sabe se virar na crise muito melhor, vai fazer compras no atacado, usa celular de quatro chips… Para a classe C, crise não é exceção, é regra.

Aperto

Os próximos três meses serão “mais do que difíceis” na avaliação da costureira Maria Aparecida Souza. Isso porque ela vai ter que incluir uma dívida a mais no orçamento: a renegociação da conta de água. Serão cerca de R$ 120 mensais que não estavam previstos, mas ela admite que não teve outra saída.

— Fui obrigada a atrasar a conta de água porque fiquei doente e não pude trabalhar por mais de duas semanas. Aí virou uma bola de neve, continuei deixando de pagar a água para pagar outras contas e deu no que deu.

Aos 52 anos, ela conta que nunca havia passado por situação parecida.

— Parece que minha vida virou de cabeça para baixo. Ultimamente, tudo está mais caro. Para piorar, muitos clientes já não aparecem mais como antes. Os que continuam estão gastando menos, sempre pechincham.

Para Ricardo Meirelles, do Data Popular, as dificuldades enfrentadas por Maria Aparecida e por outros milhões de brasileiros servirão de lição. Os hábitos de consumo das famílias tendem a mudar a partir de agora.

— O amadurecimento do consumidor é permanente. A única coisa é que não precisa se desesperar. Esta não é a primeira e nem a última crise que o Brasil vai viver.

R7

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