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Jornalista, cronista, diácono na Arquidiocese da Paraíba, integra o IHGP, a Academia Cabedelense de Letras e Artes Litorânea, API e União Brasileira de Escritores-Paraíba, tem vários publicados.

O guardião do tamarindo     

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publicado em 20/12/2023 às 07h00
atualizado em 19/12/2023 às 18h41

Antes de viajar para Portugal, onde permanecerá em temporada de observação da paisagem cultural e poética da qual falam escritores e poetas lusitanos, acertamos com o professor Milton Marques Júnior que, durante sua ausência, eu seria o guardião do pequeno tamarindo de Augustos dos Anjos, que florescer no Jardim de nossa Academia.

Como professor de Literatura Clássica durante décadas, é natural que tenha se revelado admirador de poetas clássicos. Poetas que são objetos de estudos em suas aulas, desde Homero, Ovídio, Virgílio, Dante, Camões, Augusto dos Anjos e outros.

Como admirador da Poesia universal, conhece esta arte com a métrica e os meandros com régua e compasso, Milton buscou no conterrâneo motivação para nos conduzir por caminhos dourados da poesia augustiana.

Há décadas abrindo veredas e apontando luzes para o entendimento da Poesia de Augusto dos Anjos, ele agora parte para conviver, mesmo em curta temporada, com poetas igualmente geniais, a exemplo de Camões e Fernando Pessoa, mas nos deixou semente para nossa reflexão em torno da criação poética e dos caminhos do Paraibano do Século.

No dia de sua posse na Academia Paraibana de Letras, mais uma vez revelou seu bem-querer por Augusto dos Anjos, ao plantar muda gerada da semente do tamarindo existente na paisagem do antigo Engenho Pau D’Arco, com isso fazendo memória deste poeta revelado no mais alto patamar da Poesia Universal.

A semente brotou em vaso. A muda foi plantada em área do Jardim da Academia e cresce aos olhos de todos que ali frequentam. Na ausência do seu patrono, esta árvore, símbolo de Augusto, não ficará sozinha. Estaremos à sombra da árvore do poeta que se espalha pelo Jardim de Acadêmicos, enquanto cresce para chegar às mentes e aos corações apaixonados pela poesia.

Muito antes da viajem para Portugal, Milton proporcionou dois momentos inesquecíveis acerca do poeta maior. Reuniu em livro e comentou passagens de poemas e de obras que falam da poesia de Augusto para mostrar os caminhos deste pela cidade Parahyba, onde residiu na primeira década do século passado. Em passeio sentimental, ele nos conduziu pela antiga Rua Direita, para reconstruir os passos do grande poeta. Um passeio telúrico e o livro enriquecem nossa admiração por este poeta eterno.

Na primeira oportunidade que teve, ele reconstruiu os caminhos de Augusto na cidade onde viveu, constituiu família e sentiu, como poucos, o mundo ao seu redor.

O professor Milton montou roteiro dos passos de Augusto, em livro fundamental para conhecermos a paisagem do poeta na cidade do final do século 19. A obra está salpicada de passagens para ajudar a conhecer os lugares onde o poeta viveu na Paraíba. Buscou os ambientes da Paraíba que deixaram de ser de Augusto para pertencer a todos, ao mundo da poesia.
As discussões abertas pelo acadêmico Milton Marques Júnior vêm em bom momento, porque a administração municipal pretende transformar a antiga Rua Direita em área cultural. Esperamos que o local não seja apenas para apresentações musicais. A sombra de Augusto dos Anjos está nesta rua, complementando as visões do engenho e da paisagem urbana do Recife, com suas pontes e mangues reveladores do angustiante silêncio.
Assim como a semente que brotou e floresceu no jardim da Academia, as sementes do professor possam gerar debates em torno do nosso poeta maior. Como disse Murilo Mendes e outro grande poeta, “a poesia sopra onde quer”.

A poesia de Augusto dos Anjos está viva na Rua Direita e na Rua Nova, afinal, por toda cidade, em todos os lugares.

* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB

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