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Dori Caymmi e Paulo César Pinheiro lançam álbum para violão e orquestra

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publicado em 03/06/2023 às 10h57
atualizado em 03/06/2023 às 13h40
Kubitschek Pinheiro
 
Fotos – Myriam Vilas Boas

 

Vem de longe a parceria  de Dori Caymmi com Paulo César Pinheiro, nesse encontro harmônico da poesia com melodia. Nesse novo álbum  “Sonetos sentimentais para violão e orquestra”  (com selo da Acari), vamos encontrar o  samba, valsas, canções, baião, choro –  nas 14 faixas inéditas do álbum. 

 O disco está  rodando nas plataformas digitais mundiais e traz as participações da Orquestra de Cordas de St. Petersburg, Itamar Assiere (piano), Jorge Helder e Sidiel Vieira (contrabaixo), Teco Cardoso (flauta), Julião Pinheiro (violão de sete cordas), Mário Gil (violão) e Brê Pinheiro (percussão). Dori participa do disco cantando e tocando violão.

O músico carioca conta que os sonetos sempre lhe despertaram uma certa curiosidade, pela sua forma de como musicá-los. Com o lançamento do livro homônimo do parceiro Paulo César Pinheiro ( Edtirora 7 letras (2014), Dori começou a selecionar os sonetos.

Fiquei surpreso com o resultado, pois surgiram ritmos como valsas, baião, marcha, canções e sambas. Mostrei para ele, que adorou a ideia, e começamos a gravar o disco. Gravamos tudo antes da pandemia. Primeiramente, a voz e o violão; depois, as cordas em São Petersburgo, na Rússia. O restante foi entre Rio de Janeiro e São Paulo”, detalha Dori.

O poema “Canto Brasileiro”, que abre o disco, é o único que não faz parte do livro de Paulo César, “Sonetos sentimentais para violão e orquestra” (Editora 7 Letras, 2014).

A escolha do nome do álbum“Sonetos sentimentais para violão e orquestra”, veio de imediato. Dori revela a felicidade na escolha dos sonetos, que ficaram ainda mais bonitos musicados.

Esse disco é o resultado de eu ser um músico que tem paixão por aqueles que me antecederam, esses brasileiros fabulosos, desde Villa-Lobos e Chiquinha Gonzaga, todas essas pessoas lindas que fizeram Tom Jobim, João Gilberto, Dolores Duran e Johnny Alf, entre outros”, recorda Dori.

 O MaisPB conversou do Dori Caymmi e traz detalhes do álbum, da parceria dele com Paulo César Pinheiro, da sua participação na homenagem que o Sesc São Paulo fez a João Gilberto e muitas, muitas historias

MaisPB – Enfim, os fãs podem festejar esse álbum histórico “Sonetos sentimentais para violão e orquestra”?

Dori Caymmi – Ah,  com certeza. A Acari (selo) fez uns discos físicos também e serão distribuídos.

MaisPB – Você esteve em São Paulo, participando da homenagem a João Gilberto pelo Sesc?

Dori Caymmi – Sim, foi uma coisa muito bonita. Cantei algumas músicas, Doralice, (de papai, com Antônio Almeida), Rosa Morena, eu cantei com a Joyce (Moreno) Eu tenho uma ligação muito forte com João Gilberto. No meu começo eu ia ouvir ele tocar. Ia muito no apartamento dele. Quando eu tinha 15/16 anos já bebia naquela fonte. Fui muito amigo de João, até quando ele foi para os Estados Unidos. E nos afastamos um pouco. Quando nasceu a Bebel, eu passei um mês lá com eles.

 MaisPB -Esse “Canto Brasileiro”, que abre o disco, fala da vida da gente, do mundo, de tudo, né?

Dori Caymmi – Eu que escolhi abrir com  esse poema, que é do primeiro livro do Paulo (César Pinheiro), que se chama “Canto Brasileiro”. É o único que não é do livro dos sonetos. Eu sempre quis fazer, desafiado por essa coisa do soneto, na forma 4433 e me parece que a métrica não ajuda, e nesse disco tem até baião, teve soneto que virou baião.

MaisPB – A letra desse poema é forte…

Dori Caymmi – É verdade. Quando Paulinho lançou esse tipo de soneto, foi uam festa. Ele sempre declama nos shows dele. Eu já havia musicado e enviado para Orquestra de Cordas de St. Petersburg, antes que o Putin fizesse toda essa merda, que ele está fazendo. A gente gravava lá com uma orquestra muito boa, com um maestro do Paraná, chamado Kleber (Augusto), que gravava para nós e muitos artistas brasileiros, que descobriram essa mina de ouro. Agora acabou com a besta-fera, esse Vladimir Putin, um criminoso.

 MaisPB – A segunda faixa, “Piano”, é uma canção linda, fala de casamento, desspedidas?

Dori Caymmi – É linda. Você já ouviu a canção Insônia?

MaisPB – Nessa faixa Piano, quem toca é Itamar Assiere ?

Dori Caymmi – Eu escrevi tudo que está tocado de piano, porque eu queria que fosse do jeito que eu pensei a música. Normalmente, eu dou liberdade, ai o Itamar Assiere  tocou o piano que eu escrevi. Junto com o poema tinha uma coisa nostálgica, muito forte. Parece uma coisa do autor, eu procuro seguir as palavras do Paulo César, que são lindas.

 MaisPB – A terceira faixa, “Ela” lembra a canção Lama, de Lucio Dalla, Alice De Vasconcellos Chaves Paulo Marques, que tem uma interpretação fantástica de Maria Bethânia..

Dori Caymmi – Lembra. Ele escreve muito bem, e ficou uma coisa meio bossa-nova.

MaisPB – As letras se casam com a melodia e com seus arranjos…

Dori Caymmi– O Paulinho vive muito disso, as lembranças dele. Ele escreve tão bonito e eu encontrei um jeito de seguir as letras. Não é de todo mundo que consigo fazer.

MaisPB – Essa sua amizade com ele é muito forte, espiritual..

Dori Caymmi – A maioria dos discos eu tenho gravado com ele, teve um que fiz com Mônica Salmaso, recentemente.

 MaisPB – A quarta faixa “Libertação”, mostra que a gente não dá muita atenção a natureza?

Dori Caymmi – Eu gosto muito dessa canção. Tem vários músicos, inclusive o filho de Paulinho, que toca um sete cordas maravilhoso, Julião Pinheiro. Tem vários músicos importantes que estão messa gravação, mas precisamos olhar mais e mais para a natureza.

MaisPB –Então, vamos falar agora da canção (quinta faixa) Insônia, que você falou da insônia de Paulo César Pinheiro?

Dori Caymmi –Ai tem uma história. Paulinho sofre de insônia, nessa letra ele está contando a história dele. Ele dorme pouco, muito pouco. É muito bonito o poema – da minha geração, ele é o grande poeta, não só letrista.

MaisPB – E a  canção Concerto,  a 7ª faixa que ele fala em Debussy, Chopin?

Dori Caymmi – É um dos primeiros poemas que eu musiquei, que fala  nos grandes mestres  e eu fiquei encantado com ideia da poesia, da forma como ele fez para mostrar os grandes mestres da humanidade, fiquei feliz e ficou uma valsa bonita.

MaisPB – Já a oitava faixa “Seresteiro” tem algo erótico, né?

Dori Caymmi –  Claro, claro. Os poetas têm esse lado, os poetas todos têm esse lado, tem a mulher, a inspiração maior.

MaisPB – A 6ª faixa “Soneto”, tem algo que nos remete para mulher, como a serpente… algo mitológico?

Dori Caymmi – Eu não vejo de maneira geral como serpente, eu acho que serpente é a outra. Evidentemente que tem as serpentes… e tem muito homem que não presta.

MaisPB – “Luzes”, a nona faixa, lembra os sambas de Noel?

Dori Caymmi – Isso aí, ele escreveu esse livro de sonetos e tem uma qualidade que os outros da minha geração não tem, se ele falar da Paraíba, fala como um paraibano, no piano ele fala como pianista, se falar da Bahia, fala como baiano, ele fala como gaúcho, ele tem esse brasileiríssimo total, é o verdadeiro e a poesia dele transmite isso. Você encontra nos versos dele, Pixinguinha, Noel Rosa, é um grande poeta. Ele é meu parceiro há mais de 50 anos…

MaisPB – A  décima faixa  “Carta”, é bem oportuna. Está explícito que não temos mais as cartas, agora é tudo online…

Dori Caymmi –Tem uma coisa na minha vida, o meu departamento de marketing é uma porcaria, eu não tenho essa preocupação, e acredito que ele também não. A gente faz por um amor a arte, é um ofício

MaisPB – Você trabalhou para o teatro…

Dori Caymmi – Sim, tive a chance de conhecer grandes brasileiros, criei uma consciência que não deixa entrar outra coisa que não seja Jorge Amado, Guimarães Rosa, literatura, atores de teatro.  Eu tinha 17 anos quando fui convidado para fazer “Terra dos Sem Fim”, na televisão com grande elenco de teatro: Fernanda Montenegro, Fernando Torres, Sérgio Brito e  Aldo de Maio. Eu só podia seguir esse caminho mesmo…

MaisPB – A canção “Herança”, a 13ª faixa é de uma importância muito grande, né?

Dori Caymmi – A geração, antes da nossa, que é a do Tom Jobim, João Gilberto e veio a nossa com uma consciência de uma tradição e Paulino é um veredeiro retrato brasileiro.

MaisPB –  Perdemos Gal há quase um ano…

Dori Caymmi –  Grande perda. Rapaz eu estava falando com Guto Burgos (irmão de Gal) na véspera da morte dela,  essa moça que casou com Gal separou muito ela de todo mundo. No seguinte da nossa conversa, Gal não acordou.

MaisPB – Tem falado com Nana, sua irmã?

Dori Caymmi –  Tenho sim, ela está no Leblon. Tem um  projeto, que Nana quer gravar um disco pra Biscoito Fino, com minhas canções com Nelson Motta, as primeiras composições. No segundo semestre.

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