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Jornalista, cronista, diácono na Arquidiocese da Paraíba, integra o IHGP, a Academia Cabedelense de Letras e Artes Litorânea, API e União Brasileira de Escritores-Paraíba, tem vários publicados.

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publicado em 31/05/2023 às 07h00
atualizado em 30/05/2023 às 14h45

 

 

         Gonzaga Rodrigues selecionou uma parte de sua produção literária, composta de crônicas, para nos brindar por ocasião dos seus 90 anos. Como na narrativa das Bodas de Caná, quando foi servido o melhor vinho na festa de casamento, como o primeiro sinal público de Jesus, o mestre-sala ficou contente ao ver os noivos e convidados alegres. O livro que Gonzaga nos oferta como banquete é comparável às iguarias saborosas e o melhor vinho daquele casamento descrito no Livro Sagrado.

         Leitor assíduo de crônicas em jornais, nunca releguei os textos de Nathanael Alves a cada manhã, e conduzia comigo recortes dos escritos de Gonzaga para a releitura em outras oportunidades, mas nada se compara a leitura impressa em formato de livro que agora temos em mãos.

         Supridas as ausências de Nathanael e de Luís Augusto Crispim, que desejávamos nunca os ter distantes do abraço e do conselho, restou-nos Gonzaga na dimensão maior do exercício da crônica. A cada registro dele, a revelação do sumo cronista a captar beleza poética em tudo o que observa, porque escreve com o coração. A crônica lírica que é absorvida pelo leitor comum.

         Desde 1954, quando assinou em O Norte seu primeiro texto, substituindo o mestre Carlos Romero, ele produz crônicas com fecundo espírito, pois revela emoções e sentimento da terra. Ele é cronista que escreve com os pés e os olhos na terra, porque carrega a memória como fonte inesgotável para sua criação.

         Gonzaga é poético ao falar de sua aldeia. Quando comenta os caminhos de sua aldeia, a emoção transborda nas recordações da infância. Na abordagem do cotidiano da cidade de João Pessoa, onde mora há mais de sete décadas, faz como a mesma entonação da primeira narrativa, porque recolhida na intimidade. Quanto a Campina Grande, que sempre está em suas páginas, esta é tratada com a mesma lírica reveladora da alma de poeta.

         Para este novo livro, ele me fez merecedor da seleção dos textos junto com seu filho Paulo Emmanuel, o que permitiu a releitura como bálsamo na animação espiritual.

A começar pelo título – Com os olhos no chão –, o livro nos remete ao lírico das crônicas publicadas em jornais, mas que, reimpressas em formato de livro, afloram com maior fragrância, favorecido pela programação visual assinada pelo poeta Juca Pontes e pelas ilustrações e capa de Flávio Tavares.

O conjunto da leitura deste livro traz o sentimento universal que o autor carrega sem sair de sua aldeia. Uma aldeia que pode estar em qualquer parte do mundo, mas sempre terá a essência humana semelhante ao que emana de Alagoa Nova e seus arredores.

Mesmo que tenhamos conhecido os textos em outras oportunidades, publicados em jornais, muitos ficaram dispersos na memória, mas agora estes ganham espaço em livro para melhor meditar a leitura. Era preciso a seleção das crônicas para sentir as emoções conjugadas a partir de cada texto, semelhantes aos outros livros dele, que merecem igual destaque.

Comparado ao vinho servido em Caná que trouxe alegria aos amigos do noivo, do livro Com os olhos no chão brota o saboroso prazer da leitura que renova emoções. Ele mostra que a crônica pode ser transformada em literatura, quando as palavras são escritas com arte.

A releitura das crônicas refaz os caminhos das antigas páginas dos jornais, perdidas no tempo. O livro trouxe a emoção da primeira leitura, agora revelada com maior vigor.

Desde os primeiros escritos publicados em jornais a partir de 1954, Gonzaga buscou nas paisagens da povoação a pessoa que está na memória afetiva.

Como no poema de Fernando Pessoa, ele parecer nos dizer:

“A criança que fui chora na estrada.

Deixei-a ali quando vim ser quem sou.

Mas hoje, vendo que o que sou é nada,

Quero ir buscar quem fui onde ficou”.

Obs.: O livro “Com os olhos no chão” será lançado dia 20, na Academia Paraibana de Letras.  

* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB

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