João Pessoa, 20 de abril de 2024 | --ºC / --ºC Dólar - Euro

ÚltimaHora
EXCLUSIVO

Odair José conta bastidores dos sucessos e lança novo projeto

Comentários: 0
publicado em 20/04/2024 às 11h29
atualizado em 21/04/2024 às 04h58

Kubitschek Pinheiro – MaisPB

Fotos – Bernardo Guerreiro 

Com 54 anos de carreira, Odair José anuncia o lançamento de seu trigésimo nono álbum, “Seres Humanos”, com produção dirigida por seu filho, Junior Freitas. DNA é o primeiro single do álbum que está nas plataformas e sai pelo selo Monstro Disco. Odair utiliza inteligência artificial.

DNA supera o estilo romântico e vira um roque. Em “Seres Humanos” Odair trilha o caminho do desenvolvimento humano, questionando o que é paixão, Adão & Eva, a roupa do corpo, a frieza de uma relação, o sono e muito mais. Aos 75 anos, Odair é mais atual. O artista tem mais de 450 músicas gravadas.

Artista popular das multidões, das canções mais amorosas e desejáveis, Odair José e o produtor se aliam à tecnologia na execução de um projeto simples, como é do feitio do artista, mas como sempre pensando nos mínimos detalhes para oferecer ao público um trabalho de qualidade.

Nessa entrevista ao MaisPB, o leitor se sentirá conversando com Odair José e além de saber do novo disco, vai descobrir para quem foi a canção “Eu Vou Tirar Você Desse Lugar” e muitas indicações para outros signos onde o artista chegou impulsionado pelos sucessos desde 1970.

MaisPB – O single DNA vem com tudo, né?

Odair José – SimEstou aí com esse trabalho – eu nem diria que é o novo Odair José, é o Odair José continuado. Vejamos, na década de 70, em determinado momento, desde quando começamos, em 1969, eu conversando com Rauzito, (Raul Seixas) onde convivemos na CBS, eu como cantor e ele na produção, mas eu sabia do desejo dele de ser intérprete – conversamos muito sobre o que nos colocaríamos no mercado, porque o cenário já estava montado: tinha a Tropicália, a Bossa Nova, o Baião, tinha o Rock….

MaisPB – Já naquele tempo você gostava de provocar?

Odair José – Sim, eu já observava as coisas nas pessoas e devolvia para elas, em forma de música – até que chegamos a 1977, quando fiz o disco “0José e Maria” e por uma questão de coisas eu interrompi aquele Odair José e, de uns dez anos para cá voltei a fazer o trabalho que fazia no início da carreira – como se fosse um trabalho jornalístico.

MaisPB – Vamos voltar para o DNA?

Odair José – Essa canção, que faz parte do novo disco que lançaremos em breve, que se chama “Seres Humanos” – há três anos estou pensando nisso, de fazer um disco sobre o conceito do ser humano e estou tentando com esse álbum, devolver as minhas observações.

MaisPB – DNA, Qr Ccod, IA, está tudo lá…

Odair José – Na verdade, eu escolhi DNA, que é uma produção minha e do Junior Freitas, meu filho, é um disco feito por duas pessoas. Aí resolvemos nos recorrer a essa ferramenta da Inteligência Artificial, mas as músicas foram todas feitas por mim. O álbum sairá em junho e não quer dizer que ele trará só essa batida da canção DNA

MaisPB, Vamos ter canções apaixonadas nesse disco?

Odair José – Cada canção terá seu conceito, é como se fosse uma operazinha e não é. As canções falam do ser humano e tem partes faladas, que serão feitas pela IA e vou cantar. A IA martirizou e mixou. O meu filho Junior Freitas é instrumentista. A canção que vai abrir o disco é “Seres Humano”, a capa é muito interessante….

MaisPB – A capa do novo álbum, é a do single DNA?

Odair José – Não, aquela é a capa do single. A capa do disco já está pronta faz tempo, lembra a capa de um disco da banda Steely Dan é uma banda americana de rock – os seres humanos ali, misturados com alienígenas, e a contracapa que seria um palco que lembra um disco voador.

MaisPB – E o que temos mais no disco?

Odair José – Muita coisa boa, tipo canções sobre marido e mulher, numa relação fria,  ai entra Adão e Eva e o pecado, que pode ser  a saída, a pessoa sai e volta pra relação de uma forma diferente – uma relação livre  – eu vou tocar nesse assunto.

MaisPB – Fala mais?

Odair José – Eu tenho uma canção que fala da roupa,  meio Paul McCartney, tipo Roberto Carlos e Odair José. Eu vou dar minha opinião sobre a importância da roupa – porque usamos a roupa, o que roupa quer encobrir. O feio ou o belo?

Mais|PB – Você disse que tinha uma música do sono?

Odair José – Ah, tenho sim. O que é o sono, porque dormimos? Fui fazer um show com a banda Azymuth, em Belém do Pará  e em determinado momento, no camarim, eu toquei essa música do sono, e o baterista que está no lugar do Mamão que faleceu,  perguntou: você é espírita? Eu acho que sou um pouco de tudo.

Este slideshow necessita de JavaScript.

MaisPB – E tem a música da paixão?

Odair José – Tem sim. Eu falo no que a paixão faz com a gente, ela desequilibra, tira do prumo.  Tem outra música que fala das repetições – nós seres humanos estamos sempre nos repetindo e não aprendemos nada, mesmo nas repetições.

MaisPB  – Você tem visto Caetano Veloso, que e cantou e gravou com você Eu Vou Tirar Você Desse Lugar, no Phono 73  festival de música realizado no Centro de Convenções do Anhembi, em São Paulo, em maio de 1973?

Odair José – Amo Caetano, muitos anos não o vejo, o acompanho à distância. Tive o privilégio de está com ele por alguns momentos, num trabalho que fizemos juntos, quando ele chama para o palco, levei várias vaias. Também cruzava com ele na Polygram, uma doce pessoa. Uma vez o vi dando uma entrevista dizendo: “Odair José é um romântico realista”. Poxa, tenho amor por esse cara.

MaisPB – Você cantou no Programa de Ronnie Von, na Record?

Odair José – Sim, cantei uma canção de Caetano e ele estava presente. Nesse programa Ronnie Von fez uma homenagem a Caetano Veloso, nos anos 80. Eu cantei uma canção dele, que o Roberto Carlos gravou. Caetano é inteligentíssimo, um gênio, ele tem várias músicas que eu gostaria de cantar. Quando cheguei de Goiânia ao Rio, com 18 anos, já tocava no rádio Alegria, Alegria – dele.

MaisPB – E o Roberto Carlos?

Odair José – Eu sou mais novo que ele há uns 8 anos. Eu tive e tenho uma influência do Roberto. O que a gente ouvia no rádio era Roberto Carlos, Beatles, o samba do Rio de Janeiro. Também ouvíamos Luiz Gonzaga, era o tempo em que o rádio eclético. Também ouvia João Gilberto e Frank Sinatra, Tonico & Tinoco, Maysa.

MaisPB – Você gosta do som do paraibano, Chico César?

Odair José – Demais, é meu amigo. Estive aí em João Pessoas algumas vezes levado por ele, quando era secretário de Cultura. Eu tenho um disco fiz com Zeca Baleiro, em 2011, que se chama Praça Tiradentes que eu gravei uma canção do Chico César, uma inédita.

MaisPB – E canção Intruso? É demais… tem muitos intrusos por aí, né Odair?

Odair José – Tem sim. Essa é uma composição linda, que gravei de Rossini Pinto. Lembra dele?

MaisPB – Teve algum problema com você na CBS?

Odair José – Eu tinha um contrato com a CBS de dois anos, 70/71 – tinha feito dois álbuns lá e participei do 14 Mais. Rossini Pinto me disse: seu contrato acabou, não se falou em renovar, porque você gravou na última 14 Mais, a canção Eu Vou Morar Com Ela, com Dom Salvador tocando piano (que era da banda Abolição) Seu Evandro Ribeiro (que era presidente da Polygram) ficou chateado). Eu queria fazer algo diferente e fiz – o negócio não é ser melhor, nem pior, tem que ser diferente. Em 1972 fui para Polygram

MaisPB – E então?

Odair José – Então, ainda na CBS, Rossini Pinto disse que ia produzir um compacto simples, sem contrato. Topei. Sai dali, morava da Rua do Riachuelo, uns quatro quarteirões cantarolando a música Eu vou Tirar Você Desse Lugar – aí quase não deu certo, o Rossini me chamou de louco, que eu tinha feito uma música de puta – “isso não existe” – mas tive logo tive o apoio de Rauzito (Raul Seixas) e Renato Barros e o compacto explodiu.

MaisPB –  Você lembra quando fez a canção “Eu Vou Tirar Você Desse Lugar”?

Odair José – Lembro sim. Talvez seja a música que ficou mais importante no meu trabalho. Ela tocou numa novela da Globo, Renascer – eu não assisti, mas me mandaram um vídeo, que muito comentado na Internet, tocou minha música inteira como se fosse um clipe, numa cena de amor. A Globo tocou a versão original de 1972. Quando eu tocar essa canção nos shows, é algo mágico.

MaisPB –  Conta aí pra gente, como nasceu essa canção?

Odair José –Eu trabalhei muito na noite do Rio, sou de Goiás, cheguei lá em 1967, na Praça Mauá, descendo para Copacabana. Convivi muito na noite com as mulheres naquela época chamadas de “vida fácil”.

MaisPB – Então, essa música tem o personagem?

Odair José – Tem observações.   Eu sou um compositor que observa. Convivi muito com esses e esses momentos. Eu lembro de um cara que ia quase todos os dias, na hora do happy hour – e ele chegava com seguranças, e me cumprimentava. Mandava sempre me entregar um dinheiro –  O nome dele era Alcides e o dinheiro que ele me dava, era o valor que a boate não pagava por uma semana. Um dia ele me chama na mesa e perguntou pra mim se eu conhecia uma música do Roberto Carlos, “Quase Fui Lhe Procurar” – que é, verdade, uma composição de Getúlio Cortes – é assim “Eu pensei em lhe falar, quase fui lhe procurar”,  canta Odair ao telefone.

Mais – E aí?

Odair José  – Ai ele disse, vamos fazer um trato? Eu tinha 18 anos. “Toda vez que você me ver entrando aqui, esteja tocando o que você estiver, depois toca essa canção do Roberto –“Eu pensei em lhe falar” – logo entendi que era o código para moça saber que ele tinha chegado. Eu até me arrepio lembrando disso. Foram muitos dias. Até que um  dia ele sumiu e ela também – vem daí a canção.

MaisPB – Vanessa da Mata cantou  uma canção sua no BBB?

Odair José – Sim, ela cantou “Cadê você que nunca mais apareceu aqui… eu achei lindo

 

Leia Também