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Ana Karla Lucena  é bacharela em Direito pela Universidade Estadual da Paraíba. Servidora Pública no Tribunal de Justiça do Estado da Paraíba. Mãe. Mulher. Observadora da vida.

E o amor de muitos esfriará

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publicado em 23/05/2022 às 07h00
atualizado em 22/05/2022 às 11h46

É mais fácil alimentar o corpo do que a alma. Para alimentar o corpo, basta uma mensagem de WhatsApp utilizando poucas palavras do vernáculo. Para alimentar a alma, é preciso receber uma mensagem da vida.

É muito triste ver o desenrolar das relações pós-modernas. Amores fugazes, relações liquidas, como dizia Baumam. Relações superficiais, onde o aparente é o mais importante. Não fala-se mais em construir um futuro, planejar. O que se tem agora é “viver o presente”, numa vã tentativa de mascarar o quão descartáveis podemos ser um para o outro.

Outro dia ouvi alguém dizer: “maldita aldeia global”. Minha reação imediata foi estranheza diante da afirmação. Mas, depois de refletir e analisar um pouco as coisas, entendi perfeitamente o que ele quis dizer. Vivemos num mundo globalizado onde a comunicação em massa tornou-se essencial, e com ela vieram as redes sociais. Estas, aproximam pessoas de forma muito rápida. Quase instantaneamente, você passa a conhecer alguém a quem  nunca viu na vida. E, talvez, essa facilidade tenha tornado tudo tão banal, trivial, quase sem valor. Pois outras centenas de pessoas estão lá.  Você pode escolher como se estivesse utilizando o menu de um restaurante. O prato mais agradável visivelmente será o seu prato do dia. A refeição de amanhã, você escolhe amanhã.

A correria da vida, a praticidade que a vida exige não nos permite cuidar das nossas relações. Assim, facilmente elas escorrem pelos nossos dedos, daí a expressão “amor líquido” de Bauman. Queremos o afeto, queremos a companhia, queremos estar com alguém. Mas, não queremos a cobrança, a responsabilidade que um relacionamento implicaria. Com isto, não falo apenas das relações amorosas entre casais, falo, inclusive, das relações de amizade.

Cada vez reclama-se mais dos relacionamentos vazios. Não há mais conexão entre as pessoas. Conexões emocionais. Estas deram lugar à conexão física baseada na aparência, no status. Essa capacidade reciclável das relações tem trazido à tona sérios problemas emocionais, inclusive a depressão, diante do vazio e da constatação de quão descartável se é.

Concentremo-nos em alimentar a nossa alma com alimentos sólidos, que nos trarão sustança. Ouçamos a mensagem da vida, quando ela chegar. Saibamos decifrar a mensagem, porque, nem sempre, ela chega pelos meios convencionais, usando uma linguagem compreensível. E, o mais importante, queiramos atender  à mensagem,  porque, apesar de todas as dificuldades, é o melhor alimento que existe, porque sacia a maior fome que existe.

* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB

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