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Mu Carvalho da banda “A Cor do Som” lança 5º disco solo

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publicado em 02/10/2021 às 11h55
atualizado em 02/10/2021 às 10h09

Kubitschek Pinheiro MaisPB

Foto: Leo Aversa e Martins Ogolter

O nome dele é Maurício Magalhães de Carvalho, mas ficou conhecido nacionalmente, a partir de 1977, no grupo “A Cor do Som”, como Mu Carvalho, tecladista, arranjador, compositor e produtor musical, que tem uma novidade para os fãs. Está lançando o 5º álbum solo “Alegrias de Quintal”, com músicas inéditas e releituras de antigos sucessos, no formato guitarra, baixo, bateria e teclados. Com selo de Boogie Woogie “Alegrias de Quintal”, já está disponível nas plataformas digitais. A distribuição é do Ingrooves e a capa é Batman Zavarese.

Mú nos apresenta agora regravações de canções com histórias curiosas como a música “Sapato velho” que estourou nas paradas com o Roupa Nova, mas é uma composição de Mú, Cláudio Nucci e Paulinho Tapajós. Ela ganha nova versão no disco na voz de Zé Renato, uma das participações especiais do álbum.

Nesse disco Mu (voz e teclados) formou um quarteto com Julio Raposo (guitarras), Lancaster Lopes (baixo) e Pedro Mamede (bateria). Além de “Sapato velho”, mais duas faixas têm participações especiais: Ana Zingoni canta em “Simplesmente pode acontecer”; e Tuca Oliveira, em “A voz de um amigo”. Ambas estavam inéditas e têm letra de Tuca, jovem cantor e compositor mineiro que é uma aposta de Mú, sendo que “A voz de um amigo” nasceu em inglês, em 2018, parceria com Jonas Myrin, compositor e produtor sueco que já tem dois prêmios Grammy na estante e músicas gravadas por, entre outros, Barbra Streisand e Andrea Bocelli.

Na abertura, o tema instrumental que dá nome ao CD traz mais uma aptidão, a de criar introduções para canções que “A Cor do Som” ganhou de outros compositores. “Alegrias de Quintal” reúne três dessas que viraram partes indissociáveis (mas vêm das mãos e mente de Mú) de “Menino Deus” (Caetano Veloso), “Abri a porta” (Gilberto Gil e Dominguinhos) e “Palco” (por sinal, o título do álbum e do tema instrumental de abertura saiu de um verso pinçado da letra de Gil, “eu, como devoto, trago um cesto de alegrias de quintal”).

Nas três músicas que completam o repertório, Mú também foge da simples regravação, procurando e encontrando novos caminhos. “Magia tropical” (parceria com Evandro Mesquita lançada no álbum homônimo d’A Cor, em 1982) ganhou andamento mais suingado puxado pelo baixo de levada funk e pelo piano elétrico de sabor jazzístico. Duas parcerias com Moraes Moreira, “Semente do amor” (gravada pela banda no álbum “Transe total”, de 1980) e “Swingue menina” (esta, lançada em “Frutificar”, disco de 1979). Elas também funcionam como uma homenagem a uma personagem fundamental na história d’A Cor – o grupo começou a nascer no disco de estreia solo de Moraes, ao sair dos Novos Baianos, em 1975.

A novidade é que a banda “A Cor do Som” com o disco “Álbum Rosa”, está concorrendo Grammy Latino 2021, como Melhor Álbum de Rock ou de Música Alternativa em Língua Portuguesa. “Eu estava voltando com o Dadi do Arpoador, era uma filmagem do documentário da Cor do Som, quando recebi a notícia da indicação do nosso Álbum Rosa no Latin Grammy. Fiquei muito feliz e emocionado, porque esse disco é, pra mim, o melhor da nossa trajetória. Gravamos no final de 2019, mixamos em 2020, e lançamos no meio da pandemia. A música é muito mágica.”, disse Mú Carvalho.

Contratado da Rede Globo desde 1994, Mu é compositor e produtor das trilhas de muitas novelas e séries. É dele a música original da produção das 21h, “Um lugar ao sol”.

Nos últimos anos, a personagem de perfil renascentista também retomou pincéis, tintas e telas. Quem quiser conhecer a faceta de Mú enquanto artista plástico pode acessar uma exposição virtual em seu site: https://www.mucarvalho.com/paintings.

Na entrevista ao MaisPB, o artista relembra parcerias com o saudoso Moraes Moreira, que está na origem do grupo “A Cor do Som”, revela parcerias com o amigo Evandro Mesquita e comenta músicas compostas por ele que ficaram famosas nas vozes de outros intérpretes.

MaisPB – Seu novo projeto solo “Alegrias de Quintal”, que abre com a canção que dá nome ao disco, parece uma viagem eletrônica. Vamos começar por essa canção?

Mu Carvalho – Essa música, que é também o nome do álbum, nasceu de uma vontade de juntar três introduções que eu criei nas gravações originais respectivamente das músicas “Menino Deus” do Caetano Veloso, “Abri Porta” do Gilberto Gil e Dominguinhos e “Palco” do Gilberto Gil. São pequenos motivos melódicos, que não têm nada a ver com as músicas em si, mas que marcaram muito, estão grudadas nos nossos ouvidos. Criei essa pequena suite com as três introduções, com uma sonoridade progressive rock, e deu super certo o resultado.

MaisPB – A segunda faixa “A voz de um amigo” foi feita para um amigo ou apenas nos remete para os dias conturbados que ainda estamos vivendo? Tem a participação de Tuca Oliveira e é uma parceria com Jonas Myrin?

Mu Carvalho – Há pouco mais de dois anos, tive o prazer de conhecer o Jonas Myrin. Foi o meu irmão Sérgio de Carvalho que nos apresentou. Nos encontramos no estúdio, sentei no piano e mostrei uma ideia de uma música que estava fazendo e ele gostou muito. Fomos desenvolvendo, ele escreveu uma letra em inglês chamada You Have a Home. Ficou linda, uma balada romântica, letra bem emocionante com essa pegada de amizade e tal. No ano passado, quando comecei a definir o repertório desse álbum, escrevi para o Jonas, pedi pra ele me enviar a letra em inglês e ele me deu a ideia de escrever também uma versão em português. Convidei meu super parceiro Tuca Oliveira pra essa tarefa. Ele foi brilhante, entendeu totalmente o sentimento da letra original e chegou com essa lindeza chamada A Voz de Um Amigo.

MaisPB – A terceira faixa “Magia Tropical” lembra um soul e dá vontade de dançar. É essa a proposta mesmo?

Mu Carvalho – Essas músicas, Magia Tropical, Swingue Menina (clipe no final da materia) e Semente do Amor, já tiveram algumas releituras de arranjo com A Cor do Som, levadas de Reggae, Forró (acústico no Canecão, em 2005), Rock-Balada. Eu quis trazer uma levada dançante, com uma pegada funk, tipo Scary Pockets, com sonoridade vintage, Wurlitzer Piano, Hammond B3 Organ, Mini Moog, e guitarras com timbres nessa onda também. Conseguimos um resultado maravilhoso com essa turma que gravou comigo, Júlio Raposo, Lancaster Lopes e Pedro Mamede.

MaisPB – “Sapato Velho”, com Zé Renato cantando, ficou incrível, né?

Mu Carvalho – Na verdade, Sapato Velho ia ser apenas instrumental. Esse é o tipo de música que não é pra minha voz. Tivemos a ideia de convidar o Zé Renato que tem tudo a ver com essa melodia, amo a voz do Zé, e realmente ficou linda a interpretação dele, um luxo.

MaisPB – Mu, vamos falar desse quarteto que está com você nesse disco – Júlio Raposo (guitarras), Lancaster Lopes (baixo) e Pedro Mamede (bateria)

Mu Carvalho – Outro luxo. Tenho trabalhado muito com eles no meu estúdio. Os arranjos são feitos por nós, todos dando ideias, é incrível como rola uma química maravilhosa no estúdio. Já estou pensando num volume 2 do Alegrias, quem sabe… Repertório não falta.

MaisPB – Fale de Ana Zingoni, seu amor, que participa e canta em “Simplesmente pode acontecer?”

Mu Carvalho – Ana é minha mulher e minha sócia no estúdio Boogie Woogie. Ela, além de cantora, é guitarrista, e vai lançar um disco lindo ainda neste ano. Ela tem uma voz linda, e nessa balada romântica, é claro que foi a primeira pessoa que eu pensei pra cantar comigo nessa. Ficou lindo o resultado.

MaisPB – Você fecha com “Sapato Velho” e desta vez a música assume outra dimensão. Fala aí?

Mu Carvalho – Guardei essa versão instrumental pra fechar o disco. No lugar da voz do Zé, meu acordeom e a guitarra do Júlio. Achei bacana existir uma versão instrumental dessa música, nunca tinha rolado isso nas plataformas digitais.

MaisPB – Qual é a ligação de Mú Carvalho com “Menino Deus” (Caetano Veloso), “Abri a porta” (Gilberto Gil e Dominguinhos) e “Palco” de Gil?

Mu Carvalho – A minha ligação com essas músicas é a admiração por esses compositores maravilhosos, Caetano, Gil e Dominguinhos, e claro, também o fato dessas músicas terem sido gravadas pela Cor do Som, presente desses monstros. E, para concluir, o fato das introduções que eu compus pra cada uma dessas músicas, que ficaram inerentes a elas.

MaisPB -Vamos falar de seus discos anteriores “Meu continente encontrado” (1985), “O pianista do cinema mundo” (2002), “Óleo sobre tela” (2005), “Ao vivo” (2008) e “Elétrico Nazareth” (2013).

Mu Carvalho – Amo meus discos, gosto de ouvir sempre. Não me arrependo de nada. No caso do Meu Continente Encontrado, rola uma sonoridade bem datada dos sintetizadores dos anos 80, mas até isso é um charme. E ainda tenho o Egberto Gismonti na produção e tocando em algumas faixas comigo. Cada disco desses tem uma história, um momento da minha vida. O Pianista do Cinema é uma homenagem a minha avó Alice, que tocava no cinema mudo em Juiz de Fora. Óleo Sobre Tela tem a ver com minha ligação com as artes plásticas. São texturas, timbres, cores, harmonias. O Ao Vivo é basicamente o repertório dos dois discos anteriores, com frutificar no setlist, gravado num show no saudoso Mistura Fina, no Rio de Janeiro, com uma banda maravilhosa. E o Elétrico Nazareth é minha caneta de arranjador, pintando e bordando nas águas do Nazareth.

MaisPB – Você pensava em ser pintor?

Mu Carvalho – Sim. Até meus quinze anos era isso que eu achava que iria ser. Foi quando meu pai comprou um piano para minha mãe e eu troquei os pincéis pelas teclas.

MaisPB – Você é irmão do Dadi, para quem Caetano compôs Leãozinho, mas vamos lembrar da temporada em que você e seu irmão estiveram com Jorge Ben e Moraes Moreira?

Mu Carvalho – Foi na gravação do primeiro disco do Moraes que praticamente nasceu A Cor do Som. Fizemos muitos shows pelo Brasil antes d’a gente entender que éramos uma banda com todo potencial para construir uma carreira. Sérgio de Carvalho, irmão meu e do Dadi, foi quem sacou isso. Com o Jorge Ben foram muitos shows pelo Brasil e mundo. Volta e meia, mesmo com nossa carreira d’A Cor Rolando, ele me convidava e Dadi pra alguns shows, New York, México. Tocamos até com a alteração do seu nome de Ben para Benjor.

MaisPB – Você está na Rede Globo desde 1994, é compositor e produtor das trilhas de muitas novelas e séries e, no momento (junho de 2021), trabalha na música original da próxima produção das 21h, “Um lugar ao sol”. Vamos falar dessa faceta?

Mu Carvalho – Eu me encontrei nesse universo da música dramatúrgica lá nos anos 70. Foi quando o Caetano (Veloso) nos convidou para trabalhar com ele na música do filme “A Dama do Lotação”. Foi amor à primeira vista. Cheguei a fazer “Os Sete Gatinhos”, com o Lulu Santos e um ou dois curtas-metragens, mas só retomei esse trabalho nos anos 90, já na TV Globo.

MaisPB – E seu encontro com a Tizuka Yamasaki?

Mu Carvalho – Foi ela quem me levou novamente para o cinema. Fiz muitos filmes, mais de trinta. E na Globo venho desenvolvendo essa linguagem desde 1994. Muitas novelas e minisséries. Um Lugar Ao Sol é a minha 23ª novela na Globo.

MaisPB – Quem é Maurício Magalhães de Carvalho?

Mu Carvalho – Um menino, nascido em Ipanema, que cresceu numa família com muito amor ao som de muita música.

Confira o clipe:

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