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Artista gaúcho Leandro Bertolo lança disco autoral “A Flor do Som”

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publicado em 18/09/2021 às 11h44
atualizado em 18/09/2021 às 13h59

Kubitschek Pinheiro MaisPB

Fotos:  Rossoni e Ireno jardim

A novidade vem de Porto Alegre. O compositor, vocalista e guitarrista Leandro Bertolo chega ao segundo álbum, “A Flor do Som” (independente/distribuição Tratore), investindo em um trabalho autoral, que já está disponível nas plataformas digitais e com distribuição nacional em formato CD.

Ele tem influências de compositores e cantores consagrados nos anos 1970 como Djavan, João Bosco e Gonzaguinha. Nesse álbum autoral,  Bertolo passeia pelo samba  “Momentos Felizes” e “Canto Forte”, ambos bem sincronizados, além do afoxé (“Rotas do Sonhar”), bolero (“Náufragos de Amar”, “Te Espero Na Canção”), choro-seresta (“Darcy Alves”, tributo ao cultuado músico gaúcho) e balada (“Adormecido Coração”), respeitando as tradições sem pregar o conservadorismo.

Um trabalho contemporâneo, mas que já nasce clássico. Bertolo arrisca até um singular bolero-salsa (“Armadilha”), revive a MPB-pop oitentista em dueto com a bela musa Bianca (“Luz do Amor”) e mergulha no contagiante frevo-axé baiano (“ATKI”).

Tudo começou nos anos 1980, quando músico da noite percorreu duas ou três dezenas de casas noturnas de Porto Alegre que contemplam a história cultural e boêmia da cidade. Integrava a banda Conexão, viajando por todo o Rio Grande do Sul, apresentando-se em bailes e casas noturnas.

Montou o grupo “Estação Hits”, cujo tema eram os sucessos da música pop  das emissoras de rádio. Com direção musical do maestro, pianista e arranjador Luís Henrique New e as parcerias dos irmãos Amauri e Sérgio Copetti, e do guitarrista Tom Martins, a banda atuou nas boas casas e foi atração do Porto Alegre em Cena.

Integrou o “Projeto Coisas do Brasil”, numa proposta de homenagear os grandes compositores da música popular brasileira, ao lado do baixista Nuno Prestes, do guitarrista Alex Vieira e do baterista Rafa Marques.

O primeiro álbum ”Clareza”, marca a estreia profissional na história da MPB com apresentação do escritor e jornalista Juremir Machado da Silva. É um disco de destaque no ano de 2016 e a aceitação do público e crítica foi unânime: recebeu quatro indicações para o Prêmio Açorianos de Música 2017 (Melhor Intérprete e Compositor para Leandro Bertolo; Melhor Compositor para Elias Barboza; Disco do Ano).

Leandro Bertolo atualmente é diretor musical do Sarau na Corte, projeto gerenciado pelo Centro de Memórias da Justiça Eleitoral, contemplando datas, eventos e personalidades históricas do contexto eleitoral, com participação de músicos locais, debatedores e palestrantes da literatura e do jornalismo. Em 2017, por solicitação do então Presidente do TRE/RS, Des. Carlos Ciny Marchionatti, Bertolo compôs o hino da Justiça Eleitoral gaúcha, gravado pelo Coral “De vez em Canto” e renomados músicos gaúchos, sob a batuta do maestro Luís André Silva, com arranjo de Luís Henrique New.

Em entrevista ao MaisPB, o músico e compositor gaúcho conta  como nasceu o  novo álbum,  sua trajetória de palcos e muito mais.

MaisPB –  Abre com “A Flor do Som”, que dá nome ao disco, com uma super banda. Vamos começar por essa canção?

Leandro Bertolo – Era primavera de 2018, quando eu e a Bianca Marini estávamos tomando vinho e namorando, em frente a lareira na casa dela em Gramado. Quando ela resolveu botar música na conversa e trouxe um vaso de vidro, em forma de flor com o celular dentro e no aplicativo estava tocando Mozart. Ela disse: essa é a Flor do Som. Eu complementei: a flor do som é Mozart. Gostei demais da espontaneidade, que certamente, estava envolta em magia. A partir daí desenvolvemos a canção.

MaisPB – Esse disco foi todo feito na pandemia?

Leandro Bertolo  – Esse meu segundo disco começou a ser gravado no início de 2019, mas como ele é muito elaborado em arranjos e sonoridades, foi se reinventando um pouco. Durante o percurso, em junho de 2019, eu tive uma enfermidade grave, um AVC hemorrágico. Fui submetido a procedimento cirúrgico e minha recuperação durou cerca de 6 meses. No final de 2019 senti que ficaria sem sequelas, graças a Deus. Em 2020 retomamos o trabalho, que foi interrompido com a pandemia. Ou seja, foram duas interrupções bem marcantes, que atrasaram bastante. Concluímos no final de 2020. Fizemos o lançamento dos singles a partir de fevereiro e seguimos com o processo de divulgação.

 MaisPB – Você é compositor, vocalista e guitarrista, agora chega ao segundo álbum, “A Flor do Som” todo autoral. Isso já é um avanço para seguir sua carreira, né?

Leandro Bertolo – Sem dúvida, eu não paro mais de produzir. Já estou com material para novos singles, mais da metade de um novo disco. Sinto-me apenas na primeira etapa da carreira como compositor e intérprete. Muito feliz e motivado.

MaisPB – A  quarta faixa “Armadilha”  começa lentamente e logo mostra ao que veio, o amor, todo cheio de flechadas, gelo e calor. Faz dueto com sua mulher Bianca Marini. Fala aí?

Leandro Bertolo -Armadilha é a terceira trilha do disco. Certa madrugada eu sonhei que eu e a minha parceira e musa inspiradora, Bianca Marini estávamos, apenas nós dois, num salão de baile cantando e dançando uma música que a orquestra tocava muito alto. Quando passou da metade percebi que era uma composição nossa em parceria. Ao final, a orquestra parou e ela, ainda em sonho, olhou-me e disse “Armadilha”. Acordei e ela ainda dormia. Fui pro meu escritório e a música apareceu toda harmonizada no meu violão, todavia, esqueci completamente da letra. Mostrei à nossa secretária que chegará para fazer o trabalho doméstico e ela gostou muito. Bianca acordou e perguntou o que estava acontecendo. Eu respondi a ela que estava mostrando nossa nova parceria, que fizemos naquela madrugada, para a Simone. Logicamente ela não entendeu e demos boas risadas. Aproximadamente 3 meses depois Bianca e eu conversávamos em meu escritório e, repentinamente, algo aconteceu, pedi que ela, por gentileza, saísse dali. A letra estava reaparecendo, mas dessa vez, aqui na terceira dimensão. A música foi composta numa outra plataforma dimensional. O arranjo é sensacional mesmo. Inicia com os violinos do Vagner Cunha e a flauta do Luizinho Santos conduzidos pelo meu violão. Em seguida entra a banda toda. É um bolero-salsa com todos os seus elementos característicos, desde a levada até o instrumental. Por isso o disco teve um processo demorado também. Cada canção foi pensada e repensada em todos seus aspectos.

MaisPB – Você  tem essa influência da Geração 70 da MPB, focada em Djavan, João Bosco e Gonzaguinha. Cantava as canções deles nos bares?

Leandro Bertolo -Sim, deles e de vários compositores dessa geração como Chico Buarque, Caetano Veloso, Paulinho da Viola para citar alguns. Na verdade, eles estão no meu imaginário musical, por isso na hora de compor sempre pode aparecer alguma característica em termos de concepções melódica, harmônica e poética. Pra tocar nos bares eu trabalhei muitas vertentes de vários compositores e intérpretes de todos os tempos, mas sempre com MPB. Desde a geração de Cartola, Noel Rosa, Tom e Vinícius e toda turma da bossa nova, o nosso Lupicínio Rodrigues, enfim, muita coisa.

MaisPB  – A quinta faixa “Adormecido Coração” sinaliza que o tempo parou, mas o tempo não para. Você deixou que o sonho saísse pela janela e foi encontrar na vida que renasce?

Leandro Bertolo -Adormecido Coração é a quarta trilha do disco. É uma declaração de amor para a minha querida parceira e companheira Bianca Marini. É muito interessante porque eu havia apenas começado a compor a canção e iniciamos nosso relacionamento. Eu entendi que o sonho estava encontrando a felicidade. A vida renascendo naquela aurora que despertou com a chegada da mágica estrela de todas as minhas canções.

MaisPB  – Você se considera um artista a escrever seu nome no topo de tantos, que saíram de Porto Alegre, como Adriana Calcanhotto, Elis Regina, para cantar para o país inteiro?

Leandro Bertolo – É impossível saber onde se vai chegar com nosso trabalho. Considero que o mais importante é fazer tudo com amor sempre. Os meus dois discos foram assim, tiveram processos exaustivos de elaboração para que se chegasse ao melhor acabamento possível. Se não for assim eu não consigo fazer. É como se não estivesse concluído antes de seguir com o projeto. Sinto-me muito feliz com os resultados e com todas as críticas e resenhas de todos os segmentos da imprensa brasileira sobre o meu trabalho. Esses nomes que tu citaste são de duas artistas talentosíssimas. Eu pretendo chegar até o topo sim, mas sei que tenho que produzir com qualidade para merecê-lo, é o que estou fazendo.

MaisPB  –  “Luz do Amor” é como se a gente estivesse ouvindo Djavan. Fala aí dessa sensação, também do diferencial?

Leandro Bertolo -Eu não lembro se foi o Aquiles Reis do MPB4 ou o Fabian Chacur em suas belíssimas resenhas sobre o meu trabalho, mas um deles também colocou dessa forma como tu sentiste. Eu perseguia mesmo esse jeito do Djavan compor seus lindíssimos pop jazz. Essa característica muito pessoal dele de sonorizar no violão e interpretar com sua voz. Confesso que sou devoto mesmo. Nessa canção e em A Flor do Som eu consegui um pouco desse formato que tanto admiro. Eu fiz a música e a Bianca escreveu a letra. E cantamos em parceria no disco essa que é a quinta trilha. Apareceu no meu celular pelas redes sociais um clipe do meu talentoso e querido amigo Serginho Copetti. Era uma bossa nova, achei lindíssima. De repente, correndo por dentro da canção, uma linha melódica que não tem nada a ver com a música dele. Corri pro violão e harmonizei a tal melodia do mesmo jeito que ele estava conduzindo a dele, em bossa nova. Mas, em seguida, percebi que não era o caso. Recomecei djavaneando. E encontrei o caminho certo.

MaisPB – Essa letra é da Bianca?

Leandro Bertolo – A Bianca fez a letra em cima da primeira parte da música que eu havia terminado. Ficou esperando a segunda parte da música que eu não conseguia fazer. Passados alguns dias, ela então apresentou uma sugestão de letra para a segunda parte. Parecia que estava tudo pronto em algum lugar do universo e nós acessamos as informações. A música surgiu na hora para aquela segunda parte que ela escrevera. Assim nasceu Luz do Amor.

MaisPB  – O disco quase todo é amoroso. Proposital?

Leandro Bertolo – Realmente não sei ao certo. Mas acho que tem tudo a ver com a parceria na vida e na arte com a Bianca. A criação nos conduz. Quando estou envolvido num processo criativo sou levado pelas vibrações energéticas daquele contexto. É magia mesmo.

MaisPB – Ao ouvir o bolero “Náufragos de Amor”, temos a impressão de estarmos ouvindo João Bosco e a música é linda. Vamos conversar sobre essa canção?

Leandro Bertolo – Sem dúvida que é um bolero nos moldes João Bosqueanos de concepção. Essa canção eu fiz a bastante tempo, faz parte de minha trajetória pelos bares, que durou mais de trint anos. Certamente, influenciado pelas obras desse grande compositor que eu executei demais. Foi assim mesmo, de vez em quando eu fazia uma música e guardava, nem pensava em me dedicar a um projeto autoral, por isso gravei agora. Eu gosto demais do resultado da composição e do arranjo, instrumental e coral. Acho que tu tens razão, ficou lindo, obrigado.

MaisPB – Vamos falar da banda Conexão?

Leandro Bertolo -A banda Conexão também faz parte da minha trajetória pelos bares, festividades, feiras, muito aprendizado mesmo. Colegas talentosíssimos e a experiência de tocar e cantar muitos gêneros, enriquecendo demais meu léxico musical e dando grande suporte técnico para o meu trabalho como compositor e intérprete de minhas próprias músicas agora. Régua e compasso para o aprendiz prático que se torna compositor.

MaisPB – “Darcy Alves” tributo ao músico gaúcho, que canção forte?

Leandro Bertolo  – O professor Darcy Alves tinha muitos amigos. Privilégio meu pela oportunidade que ele me deu de ser tão próximo dele e o carinho especial que ele tinha por mim. Está afastado só porque mudou de plano mesmo, mudou de fase do jogo, foi promovido para uma outra situação muito mais elevada. Além da saudade, ele deixou bênçãos, exemplos de generosidade, de paciência, de amor ao próximo a serem seguidos, e do seu talento espetacular. Eu compus esse choro-seresta para homenageá-lo e o meu amigo Elias Barboza fez um arranjo erudito. Assim está concebida esta seresta-choro ou choro-seresta com o nome do mestre, que se tivesse nascido no Rio de Janeiro teria tido expressão semelhante a de César Farias ou do mestre Dino 7 cordas. Nós tocamos muito pelos bares e em várias situações distintas. Yamanu Costa vinha a Porto Alegre todos os finais de ano tocar com ele e se aconselhar com o professor Darcy. Os dois tocando juntos era encantamento puro. Eu estava em meu escritório fazendo música e letra, Bianca entrou e me encontrou lavado em lágrimas. Havia consolidado a canção e senti a presença dele muito forte. Ele nos deixou em março de 2015. Eu gravei no meu primeiro disco uma música dele chamada Meu Inseparável Violão.

MaisPB – Como é seu primeiro álbum ”Clareza?

Leandro Bertolo – Clareza é o primeiro filho fonográfico, contendo 12 faixas ou trilhas, como queiram. Eu resolvi fazer um disco depois de tantos anos trabalhando como músico da noite. Fui para o estúdio do meu amigo querido e genial violonista, guitarrista, arranjador Alexandre Vieira, que a tempos pedia pra eu gravar esse disco. Iniciamos em meados de 2014, ele fez praticamente todos os arranjos que ficaram belíssimos. Em novembro ele me disse que estava indo para os Estados Unidos. Ainda não estava completado o projeto, embora já quase no final. Então, através de um amigo migrei para o estúdio Porta da Toca, do Bruno Klein. Ficamos muito amigos e terminei o projeto nesse estúdio, mas o Bruno não pode atuar na técnica. Eu trabalhei com um outro grande craque da música e técnica de estúdio, o Renato Mujeiko, que também fez a mixagem do disco. Não consegui gravar todas as músicas de minha autoria que eu gostaria de ter gravado. Gravei 3 minhas e as outras 9 muito bonitas, que eu gosto demais, de compositores meus amigos e grandes craques. A canção título é de um querido compositor, chamado Álvaro Hoff, que tem músicas muito lindas. Pedi permissão a ele para dar nome ao disco com essa canção.

MaisPB – Você Integrou o Projeto Coisas do Brasil, numa proposta de homenagear os grandes compositores da música popular brasileira, ao lado do baixista Nuno Prestes, do guitarrista Alex Vieira e do baterista Rafa Marques. Vamos conversar sobre esse projeto?

Leandro Bertolo -Final dos anos 1990, início dos anos 2000, o meu querido amigo de infância e grande baixista jazzístico, inclusive, Nuno Prestes me convidou para homenagearmos os grandes compositores da MPB através do Projeto Coisas do Brasil. Apresentou-me dois jovens muito talentosos, o guitarrista Alexandre Vieira e o baterista Rafael Marques. Trabalhamos nas boas casas noturnas do gênero e fizemos grandes shows. Sempre foi a minha praia mesmo, essa MPB mais clássica, de Chico, Caetano, Tom, Edu Lobo, João Bosco, Djavan dentre outros, e o Nuno Prestes sabia disto. Belíssimo trabalho com grandes músicos e queridos amigos.

MaisPB – Como tem sido sua atuação como diretor musical do Sarau na Corte?

Leandro Bertolo  – Eu sou músico e servidor público federal da Justiça Eleitoral. O Sarau na Corte é um projeto do Memorial da Justiça Eleitoral do RS que contempla datas e personalidades da própria Justiça Eleitoral, do jornalismo, da ciência política entre outros segmentos. Fui convidado para dirigir a parte musical, convidando artistas locais para fomentar as palestras e debates com boa música. É mais ou menos isso.

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