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Disco de João Fênix “Gotas de Sangue” reúne clássicos

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publicado em 11/09/2021 às 11h54
atualizado em 11/09/2021 às 14h20

Kubitschek Pinheiro – MaisPB

Fotos: Leo Aversa

O sexto disco solo do pernambucano João Fênix acaba de ser lançado. O álbum tem o nome de “Gotas de Sangue” do repertório de Ângela Ro Ro gravado em 1979 no original “Gota de Sangue” e já está nas plataformas junto com o lyric vídeo.

“Gotas de sangue” é um álbum de voz e piano no qual João Fênix canta acompanhado pelo músico carioca Luiz Otávio, que é deficiente visual. As outras faixas se fundem na voz do artista que interpreta canções de Vinicius de Moraes, Roberto Carlos, Chico Buarque e Tom Jobim, Dolores Duran e Ivor Lancellotti. A surpresa é sua gravação de “Todo Homem” de Zeca Veloso, filho de Caetano Veloso e Paula Lavigne.

Gota por gota, a sua interpretação de Lígia, clássico assinado apenas por Tom Jobim, a terceira canção do álbum, é a certeza de que João Fênix apresenta um roteiro de elevado.
“Quixeramobim”, que abre o disco, de Ivor Lancellotti e Roque Ferreira, fala em “quindins do meu querer” e da busca por um lugar onde se possa viver melhor, no caso, onde há chuva – e menos sofrimento – no sertão nordestino.

“Todo Homem”, de Zeca Veloso, a 2ª faixa, Fênix diz é é o arco emocional do álbum e mostra toda a fragilidade do homem, independentemente de sua sexualidade – é uma canção para ouvir repetidamente. “Eu fiz voz de peito (mais densa), começando pelo meu limite mais grave e, na segunda parte, no meu limite mais agudo, com notas mais curtas”, explica.

O afrosamba “Tristeza e Solidão”, de Baden Powell e Vinicius, quarta faixa, ganhou interpretação mais contida, com o piano de Luiz Otávio reproduzindo o batuque do violão de Baden no refrão, quando a letra fala da busca da consolação na religião.

Outro clássico, “Ternura Antiga”, de Dolores Duran, que o cantor conheceu na voz de Nana Caymmi, liga-se ao universo do intérprete.

Com sua voz intensa em “O Portão”, nona faixa, de Roberto e Erasmo Carlos, João Fênix escancara a melodia ao trazê-la para o agora. Nessa escolha também há uma questão pessoal. Roberto gravou O Portão em seu álbum de 1974, ano de nascimento de Fênix.

O encontro com o pianista carioca Luiz Otávio, que acompanha Fênix em todas as canções, estava sendo ensaiado há algum tempo. Em 2020, os dois chegaram a ensaiar para um show só com músicas do compositor e escritor canadense Leonard Cohen – de Hallelujah

Duetos e discos

Assim como grande parte dos artistas, Fênix também remanejou projetos para se adaptar às restrições trazidas pela pandemia. Antes de os encontros se tornarem um risco, ele trabalhava em um álbum audiovisual de duetos, que seria lançado pela gravadora Biscoito Fino. A cantora Joanna era uma das que já tinham gravado sua participação na música Chama, sucesso dela. Ney Matogrosso, Teresa Cristina e Filipe Catto também estavam na lista. As gravações serão retomadas assim que possível.

Seu primeiro disco é de 2001 “Eu, causa e efeito” (selo Nikita Music), seguido de “Marfim” (selo Traumton Records), em 2004, depois, em 2011 ele gravou “A foto onde quero estar” (selo da Saladesom Records), em 2016 já na Biscoito Fino gravou “De volta ao começo” e em 2018 “Minha boca não tem nome”, também pela Biscoito

Leia a entrevista com o artista, que relata ao MaisPB, como aconteceu o novo projeto de “Gotas de Sangue” que já virou show com direção de Elias Andreato e terá, além de músicas, fragmentos de textos, como um de Caio Fernando Abreu.

MaisPB – “Gota de Sangue” ressurge um clássico em sua voz?
João Fênix – Essa música da Ângela (Ro Ro), eu já conhecia na voz de Maria Bethânia (do LP “Mel”, Philips de 1979) e da própria autora. Eu fui num show da Angela Ro Ro, no Clube Manouche (no Rio) e fiquei bem atento a essa canção. Essa música está na minha seara. Quando montei o repertório para esse novo disco, ela veio na hora.

MaisPB – E acabou dando nome ao disco?
João Fênix – Sim, no disco aparece Gostas de Sangue. Essa canção é muito forte e chegou para arrematar meu trabalho, é uma canção dramática e não existe algo mais dramático do que o sangue. Ela mostra a dor de uma fórmula mais singela de gotas.

MaisPB – O que você chama de repertório orgânico?
João Fênix – Eu já estava com o repertório a um tempo, nas minhas anotações. Pensei que isso faz parte da minha natureza melancólica.

MaisPB – É um bom trabalho fruto da pandemia?
João Fênix – Exatamente. Eu estava fazendo um projeto de duetos para Biscoito Fino e a pandemia veio de uma forma que eu não consegui mais levar adiante o projeto. Eu teria que levar uma quantidade de pessoas para cantar comigo, no estúdio e não foi possível.

MaisPB – Esses duetos ficaram prontos?
João Fênix – Eu consegui gravar apenas dois duetos, eu e a Joana e outro com o Almerico. Tudo caminha para que esse projeto seja concretizado. São dez duetos.

MaisPB – Nesse disco você traz clássicos da MPB de Chico Buarque, Tom Jobim, Vinicius de Moraes, Ângela Ro Ro, Dolores Duran, Ivor Lancelotti…
João Fênix – Esse álbum já estava nos planos e nesse formato. O destino quis e eu acabei gravando.

MaisPB – Nesse disco mais uma vez a presença do maestro Jaime Allen?
João Fênix – Ele é meu produtor desde o primeiro álbum. Um gênio musical, com uma capacidade e sagacidade muito grande da música brasileira, isso para um cantor como eu, como a própria Maria Bethânia. Ele diz que a música precisa de vida, de ser compreendida. É muito rara essa sensibilidade por parte de um músico. Ele é a própria harmonia, ninguém faz roteiro como ele. Ele sabe exatamente a música que começa e termina num show.

MaisPB – A sua versão de “Quixeramobim”, de Ivor Lancellotti, ( e Roque Ferreira) que é muito oportuna…
João Fênix – O Ivor entrou pra minha vida, na minha música, no meu disco anterior “Minha boca não tem nome”. O Álvaro Lancelotti (filho de Ivor) que é meu amigo, fez uma música e mandou “Ando de bando” quando eu ouvi chorei, fiquei curioso em querer conhecer o pai. Comecei a escutar as canções lindas dele. Roberto Carlos canta canções dele.

MaisPB – Como foi feito o disco na pandemia?
João Fênix – A gente fez teste da Covid a cada dia de gravação. Queríamos estabelecer os protocolos de segurança, apenas três pessoas no estúdio.

MaisPB – Vamos falar do pianista que toca neste disco, Luiz Otávio, que é cego?
João Fênix – Ele é um amor musical meu. Eu nem sei descrever os caminhos musicais deste artista. Nós fizemos um projeto que era para entrar em turnê em 2020, que um tribunal a Leonard Cohen, chegamos a ensaiar, mas não aconteceu. Aí fomos gravar os duetos, eu, Luiz e Jaime que foi quem me apresentou. A voz em piano que estava planejado, nasceu nessa hora.

MaisPB – Como é trabalhar com um músico cego?
João Fênix – Ele é sensível, talentoso e um músico pronto.

MaisPB – Você é a primeira pessoa a gravar a canção “Todo Homem” de Zeca Veloso e tem até um clipe. Vamos falar sobre isso?

João Fênix – Não é fácil de cantar e não é fácil encontrar um caminho que fosse diferente da gravação original Foi algo natural para mim. Eu disse para o Jaime, eu quero fazer no meu grave mais possível, e depois quero ir para meu agudo de peito. Outra decisão pensada por minha parte: quero fazer as notas curtas, que o autor prolonga as notas dele. Pensando na coisa sentimental, a música me diz muito, porque ela constrói um arco emocional, ela fala do frágil, da solidão do homem moderno. Fala também da fragilidade da sexualidade desse homem, que vem da força universal feminino.

MaisPB – O que você sentiu ao cantar Lígia, de Jobim?
João Fênix – Eu sou pernambucano, já moro no Rio desde 1994. Ligia tem essa natureza e retrata para mim, meu olhar observador da cidade do Rio de Janeiro. É coisa de melancolia, de inverno a verão do Rio, essa vontade de amar e de ser amado. Na letra tudo é mentira, é tudo que eu quero, as mentiras que são verdadeiras.

MaisPB – Você traz à tona a afrosamba, de Baden e Vinicius. Fala aí?
João Fênix – A minha referência dessa canção, é o próprio Baden com o Quarteto Em Si. É lindo demais, é minha melhor gravação desse álbum. Em todas as canções desse disco, mas essa canção tocou muito em mim, quando menos é mais.

MaisPB – E a canção de Dolores Duran?
João Fênix – Eu também gostei de ter gravado essa canção. Ternura Antiga me faz pensar muito em Dolores na década de 50 aqui no Rio de Janeiro. Para a gravação de Dolores eu me baseei na gravação de Nana Caymmi.

MaisPB – E “O Portão” de Roberto Carlos?
João Fênix – Essa gravação é de 1974, o ano em que eu nasci. Minha mãe escutava muito esse disco, ele me remete direto a minha mãe e cantar Roberto é uma sensação muito forte. Eu fiz a escolha, foi bem natural. E tem a coisa de eu ter perdido minha mãe muito cedo, ela me traz uma ideia de redenção. O Portão de Roberto é um reencontro comigo mesmo. O respirar da esperança.

MaisPB – O disco ainda não saiu físico?
João Fênix – Vai sair em LP até o final do ano e depois sairá em CD para colecionadores.

MaisPB – Continua com a paixão pelo teatro?
João Fênix – Sim, fiz muito em Recife e no Rio. Trabalhei com Gerald Thomas, Wolf Maia, que é meu padrinho artístico no Rio, minha presença cênica vem da voz. O próprio Ney Matogrosso me dirigiu no espetáculo em que eu cantava Dalva de Oliveira.

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