João Pessoa, 27 de março de 2021 | --ºC / --ºC Dólar - Euro

ÚltimaHora
ENTREVISTA MAISPB

Meninos de Minas celebra 21 anos com clipe e disco

Comentários: 0
publicado em 27/03/2021 às 12h32
atualizado em 27/03/2021 às 14h18

Kubitschek Pinheiro MaisPB

Os 21 anos do Meninos de Minas, não passaram em branco. O grupo se uniu para um lançamento triplo: do clipe “A voz”, composição que abre o disco “êh Minas…”; o próprio disco, que tem 11 faixas, e o e-book “Nós aos 21”. Todos já estão disponíveis de forma virtual e gratuita no YouTube (clique aqui e veja) e nas plataformas digitais (clique aqui e assista), como mais uma ação da campanha #NósAos21.

Nestes 21 anos, o projeto já formou mais 3.500 alunos dos 7 aos 70 anos e muitos jovens integraram o Grupo de Apresentações, que circulou pelo Brasil e exterior em 11 viagens internacionais. Atualmente, o projeto realiza as oficinas de forma virtual, seguindo as determinações de saúde.

O grupo é formado por Alexandre Gomes, Beb Any, Bruno Messias, Caíque de Souza, Daniel Santos, Drielly Leite, Fabrício Gomes, Florency Barbosa, Isabelly Vaz, Iany Maia, Ivy Mara, João Pedro Monteiro, Juliana Fernandes, Karlos Eduardo, Karoline Márcia, Paolla Pity, Suellen Rodrigues, Tainara Mariano, Tiely Sena.

Desde o início das festividades, o Meninos de Minas ofereceu 320 vagas em oficinas online, lives semanais, ciclos de debates, videoclipes e a promessa desses novos produtos tão esperados. Em breve, será a vez de anunciar um documentário, em fase de finalização.

O disco “êh Minas…” foi gravado em Berlim, Itabira e Serpa (Portugal), “êh Minas…” é o terceiro álbum do Meninos de Minas e mostra algumas marcas registradas do grupo: honra os mestres e canta as tradições de Minas Gerais; valoriza os compositores mineiros, as músicas e os ritmos oriundos do Congado; expressa a força dos tambores, patangomes, gungas, cordas e vozes que difundem, divulgam e ampliam horizontes do alto das montanhas gerais ao mirar os corações do mundo.

O álbum apresenta arranjos sob a ótica do coletivo, trazendo composições de domínio público (“Canto de Moçambique 2” e “No tempo do cativeiro”) e também de mestres como Vander Lee (a já citada “A voz”), Newton Baiandeira (“O trem que leva Minas”), Maurício Tizumba (“Devagar com o andor”, “Pedra que brilha” e “A criação”), Sérgio Pererê (“Velhos de coroa”) e de representantes da nova cena mineira: as jovens Maíra Baldaia (que compôs “Negra rima” com Elisa de Sena e “Palavra muda” com Verônica Zanella) e Brenda Alaís (“Saudade de Minas”).

A direção musical é de Bruno Messias, que começou ainda criança como aluno no projeto, se formou em música e hoje é educador musical. E quem assina a coordenação geral é Cléber Camargo Rodrigues, fundador do projeto.

Sucesso de Vander Lee ganha clipe

Gravada em Berlim, “A Voz” é uma composição do saudoso Vander Lee (1966-2016). Registrada no disco, traz uma mensagem de leveza e esperança, pertinente ao momento atual. O clipe foi rodado em Itabira, sob a direção de Clara França e Daniel Brígido, e retrata a poética da composição de Lee com a magia do Meninos de Minas. Ele sucede o clipe de “Palavra Muda”, que já tem mais de 40 mil views no YouTube.

O fundador e coordenador do projeto, Cléber Camargo Rodrigues conversou com o MaisPB e conta tudo, desde o início até a concretização de muitos sonhos. Confira a entrevista.

MaisPB – Como vocês estão se sentindo 21 anos depois, lançando um novo disco com esse belo título Êh Minas?
Cléber Camargo – É a realização de uma parte dos sonhos que temos. Desde sempre, carregamos o nome de Minas Gerais. Temos a alegria e o orgulho de ser parte do povo mineiro, com suas particularidades e olhar mirando o horizonte. Parece que foi ontem que tudo começou, mas é uma longa estrada e uma longa história que fortalece a nossa esperança de semear nossa afro-mineiridade – mantendo nossas raízes conectadas com o mundo.

MaisPB vamos falar da gravação do CD?
Cléber Camargo – Este CD tem canções gravadas em Berlim (Alemanha), em Itabira (Brasil) e em Serpa (Portugal). Berlim e Serpa são lugares onde temos grandes parceiros e identificação com a jornada e a cultura que nos acolhe e nos impulsiona. Itabira é a nossa casa, de onde partimos cheios de sonhos e pra onde voltamos lotados de saudades.

MaisPB – “A Voz” é uma composição de Vander Lee (1966-2016), no clip você começa falando, parece um discurso de protesto, onde se anuncia o valor das minorias, os negros, esse texto faz parte da canção?
Cléber Camargo – A Voz sempre esteve no nosso repertório de shows. Quem trouxe a canção pra nós foi o mestre Maurício Tizumba, parceiro e compadre de Vander Lee. É uma música que sempre foi ponto alto nos nossos shows, por causa da letra incisiva e dos tambores que marcam a força de nossa ancestralidade. Gostaria de fazer uma pequena correção: a faixa que tem texto é a “Palavra Muda”.

MaisPB – O disco tem arranjos lindos com a força do tambor mineiro. Isso é uma novidade, não é?
Cléber Camargo – A cada novo show, a cada novo CD, procuramos aprimorar os arranjos e destacar o diálogo das vozes com as cordas e com nossos tambores meninos. É uma característica que vem sendo lapidada pelo grupo, desde o início, e que atualmente tem a condução de brilhante de Bruno Messias, nosso diretor musical.

MaisPB – Você diz que quando pensou nesse projeto, seria direcionado para alguns jovens a serem protagonistas de sua própria história. Conseguiu essa glória?
Cléber Camargo – Conseguimos. É uma via de mão dupla: nós viabilizamos a oportunidade e o jovem vem para o projeto com a vontade, o desejo, a necessidade de ser melhor e mais feliz. Cada um deles vai caçando seu caminho. Muitos dizem que nunca sairão. Mesmo quando vão estudar ou trabalhar fora de Itabira, eles sempre dão um jeito de estar conosco pra tocar tambor pela vida afora. Mais do que artista, ficamos felizes quando eles se transformam em seres melhores e mais solidários.

MaisPB – A segunda faixa, é linda, fala de um trem que nos leva a Minas e homenageia o poeta Drummond. Vamos falar dessa canção, que traz à tona a cidade de Itabira e outras por onde o trem passa ou passava?
Cléber Camargo – O Trem que Leva Minas é do nosso conterrâneo Newton Baiandeira. É uma música de uma força impressionante. Mais do que a poesia – que temos em nossas veias – ela é um chamado pra olharmos pras nossas cidades, pra sentirmos a beleza dos lugares por onde o trem passa levando nosso minério, deixando saudades de tudo que já fomos e tivemos. É quase um hino de nossa região.

MaisPB – Esse é o terceiro álbum de vcs. Quais os outros?
Cléber Camargo –“Quintal” – Trilha sonora criada para o Espetáculo da Corpo Escola de Dança, de Belo Horizonte, Minas Gerais, em parceria com o mestre André Taques e “Tambores Meninos” – Gravado no Brasil, Portugal e Alemanha. Ambos lançados em dezembro de 2016.

MaisPB – Como nasceu o o Meninos de Minas?
Cléber Camargo – A ideia surgiu quando eu participava da Womex – uma feira de música realizada em Berlim, em 1999. Foi um sopro no ouvido pra carregar ainda mais a vontade de fazer cultura e ajudar a transformar pra melhor nossas vidas e nossa realidade.

MaisPB – O disco foi gravado em Berlim-Alemanha, Itabira-Brasil e Serpa-Portugal. Como aconteceu esse processo em plena pandemia?
Cléber Camargo – A gravações de Portugal e Alemanha foram feitas antes da pandemia. As gravações em Itabira, foram realizadas em outubro e novembro de 2020, com todos os cuidados sanitários necessários para preservar artistas e técnicos. A emoção foi intensa em todos os lugares. Poder registrar um trabalho para celebrar um ciclo é uma forma de manter a chama da vida sempre acesa.

MaisPB – A canção Palavra Muda, traz mais recados sobre a nossa consciência, nossa vida. E no meio da canção vocês cantam “é preciso estar atento e forte” da música de Macalé. Vamos falar dessa festividade?
Cléber Camargo – Nossa consciência anda junto com nossa alegria. Mesmo nas canções de maior atitude e posicionamento contra injustiças e preconceitos, sempre colocamos a força de nossa alegria e de nossos tambores. É nosso jeito de fazer música. “Palavra Muda” é uma das canções que acreditamos terão uma boa repercussão. As compositoras Maíra Baldaia e Verônica Zanella foram muito felizes na letra e na música. Precisamos estar sempre atentos, fortes e vivos, nestes momentos difíceis no Brasil. Estaremos sempre atentos, com nossos tambores, onde nossa música puder chegar.

MaisPB – Meninos de Minas presenteia seu público com 320 vagas em oficinas online, lives semanais, ciclos de debates, videoclipes e a promessa desses novos produtos tão esperado? Como é isso, me explica?
Cléber Camargo – Este ciclo de atividades do Meninos de Minas iria começar em março de 2020 quando veio a pandemia. Tínhamos espetáculos e oficinas articulados para Portugal, Alemanha e Estados Unidos. Com a reclusão, adaptamos o que era possível para o virtual e disponibilizamos nossas atividades gratuitamente e em quantidade maior do que o previsto. É uma forma de celebrar e agradecer por nossos 21 anos.

MaisPB – E o um documentário que vem aí, poderia adiantar alguma coisa?
Cléber Camargo – O documentário mostrará um pouco de alguns passos que demos, contará a história de alguns participantes. Palcos, cidades, instrumentos, parcerias, projeto, escola, família, tudo junto. Um pouco dos sonhos e das utopias que embalam nosso som e nossa sina. Queremos que o documentário consiga emocionar, da mesma forma que sempre realizamos as nossas atividades com emoção e paixão. Esperamos transformar a simplicidade do que fazemos em narrativa e ação. É mais uma das nossas oportunidades de celebrar a vida.

MaisPB – A canção “Devagar” lembra as canções de Milton Nascimentos. Vocês já mostraram o som do Meninos de Minas a ele?
Cléber Camargo – Tocamos pro Milton numa homenagem realizada por uma escola de tempo integral aqui na nossa região, em São Gonçalo do Rio Abaixo. Acho que ele gostou. Pra ele demos uma bata (camisa trabalhada com detalhes de nosso figurino anterior) do Meninos de Minas. Quando ele fez o show no centro da cidade, ele vestiu o figurino do Meninos de Minas. É um mimo que só os grandes sabem fazer. Queremos muito construir algo mais com ele. Milton Nascimento é estrela que também guia nossos passos. Ainda iremos buscar este sonho.

MaisPB – Os ritmos são oriundos do Congado e trazem a força dos tambores, patangomes, gungas… Como é essa mistura?
Cléber Camargo – Pra nós é natural demais da conta, uai. Nascemos com estes sons. De geração em geração, nossos ancestrais difundiram o som dos patangomes, gungas e tambores como uma forma de resistência e de autoafirmação, mostrando o valor que tinham e o valor de todas as referências que carregavam. Tentamos honra-los. Temos orgulho de ser parte de algo tão forte e que chegou até este 2021 por ser muito mais forte do que nós imaginamos. O nosso mestre Maurício Tizumba é uma grande inspiração nessa caminhada de levar para o mundo nossas raízes.

MaisPB -A direção musical é de Bruno Messias, que foi aluno no projeto, se formou em música e hoje é educador musical. Qual a importância dele nesse trabalho?
Cléber Camargo – O Bruno é um exemplo de vida e de dedicação. Chegou novinho pro projeto e foi aprendendo um pouco com cada mestre. Assumiu a condução do grupo, fez faculdade de música e continua a reinventar sonhos e sons. É um Mestre Menino. É um talento que vai dar muita alegria ao Brasil.

MaisPB – Como você está vendo o Brasil desabando, uma pandemia que tem levados muitas vidas?
Cléber Camargo – O coração da gente corta a cada anúncio de vidas ceifadas pela pandemia. Eu acredito que acharemos melhores caminhos pro Brasil. Nosso povo está muito maltratado. Há crimes contra a vida humana que deverão ser cobrados. Temos tudo para ser mais do que somos, mas precisamos de mais atitudes da população. Voltamos na letra: “é preciso estar atento e forte” …

Leia Também